• Carregando...
 | Robson Vilalba/Thapcom
| Foto: Robson Vilalba/Thapcom

Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam!” Às 20h12 do dia 13 de março de 2013, uma multidão reunida na Praça de São Pedro, no Vaticano, e milhões de pessoas ao redor do mundo ouviram essa frase centenária (a fórmula foi utilizada pela primeira vez no século 15) ser proclamada. E continuou o então protodiácono Jean-Louis Tauran: “Eminentissimum ac reverendissimum Dominum, Dominum Georgium Marium Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem Bergoglio, qui sibi nomen imposuit Franciscum”.

Um papa que escolheu por nome “Francisco”? Qual cardeal escolhido? Jorge Bergoglio? E os então papabili Marc Ouellet, Peter Erdõ, Timothy Dolan, Odilo Scherer, Angelo Scola? Esse último, inclusive, chegou a ser anunciado como papa eleito pelo site Avvenire (portal italiano de notícias, de inspiração católica), à época.

Para muitos, o nome de Bergoglio foi uma surpresa. Sobre a sacada, a figura do papa, que brinca com a multidão dizendo que os cardeais o haviam buscado “quase no fim do mundo”. E ainda pede ao fim, inclinando a sua cabeça, que os fiéis rezassem por ele.

Perplexidade – essa palavra, ainda que não dita, resume uma boa parte do pontificado do papa Francisco, ao longo desses cinco anos. A título de retrospectiva, relembro alguns fatos ou acontecimentos nos quais a palavra “perplexidade” assumiu um rosto. Francisco é o primeiro papa não europeu, após 1,2 mil anos e o primeiro a assumir o nome do grande (senão o maior) santo Francisco. O primeiro papa jesuíta da história.

Logo no início do seu pontificado, chamou a atenção por não portar insígnias ou símbolos que pudessem destoar da simplicidade que pretendia imprimir ao seu pontificado – os múleos (calçados vermelhos próprios dos papas) foram “aposentados”. Pagou pessoalmente a conta do hotel em que havia se hospedado. Decidiu fazer da Casa Santa Marta a sua residência, dispensando os aposentos papais.

Colocou seu pontificado dentro das redes sociais, obtendo mais de 40 milhões de seguidores em seu Twitter e mais de 5 milhões no Instagram.

Para muitos, o nome de Bergoglio foi uma surpresa

Sua primeira viagem apostólica foi a uma ilha no sul da Itália – Lampedusa – para “chorar os mortos”, imigrantes que não conseguiram chegar à Europa, vindos do Norte da África e do Oriente Médio. Acolhida: era esse o seu pedido à Europa que logo se veria diante de um grande fluxo migratório. Acolhida que, pedia, fosse dada também aos pobres e excluídos em todas as sociedades.

Chegou ao Brasil em julho de 2013, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, que reuniu, na missa realizada na Praia de Copacabana, uma multidão de quase 4 milhões de pessoas. Um papa popular. Rezou pelos jovens, vítimas da violência, e lembrou daqueles que morreram na tragédia da boate Kiss, em Santa Maria (RS). Com os menores infratores, repetiu: “Candelária, nunca mais. Violência, nunca mais, só amor”. Animou os jovens a darem uma resposta cristã diante das inquietudes sociais e políticas. No encontro com os voluntários, clamou que “se rebelem contra a cultura do provisório”. Convocou os missionários a irem “às periferias, não ao centro”.

Influenciou – por meio de palavras ou pela assessoria do Vaticano – negociações e acordos em vistas da paz: Estados Unidos e Cuba, Palestina e Israel, Colômbia, Síria, Líbia. Espera-se, ainda, resultados na Venezuela e China.

Suas atividades cotidianas assemelham-se às de outros “mortais” – telefona para conhecidos ou não, para tratar de assuntos simples. Dispensa carros luxuosos em suas visitas, escolhendo veículos que as pessoas simples podem ter. Faz as suas refeições entre os funcionários do Vaticano. Pode ser encontrado, eventualmente, sentado em um banco da capela da Casa Santa Marta. Afirmou que às vezes cochila em suas orações.

Leia também: O papa Francisco e o liberalismo econômico (artigo do padre Joaquim Parron, publicado em 26 de julho de 2015)

Leia também: A magia do papado (artigo de Carlos Alberto Di Franco, publicado em 31 de dezembro de 2017)

Perplexidade causada, também, por uma pequena nota de rodapé de sua exortação apostólica Amoris Laetitia (sobre o amor na família). No número 305, trata acerca de situações matrimoniais “irregulares” – termo técnico para designar, entre outras, a situação de casais em segundas núpcias civis, porém impossibilitados de se casarem novamente na Igreja. Criticando aqueles que se colocam em posição de juízes, afirmou que essas famílias podem “viver em graça de Deus”. Até aí, nada de novo. A nota explicativa, porém, afirma que “Em certos casos, poderia haver também a ajuda dos sacramentos”. Com essa indicação, ele se tornou alvo de questionamentos de pessoas de várias posições. Quatro cardeais sintetizaram esse questionamento: Walter Brandmüller, Raymond Burke, Carlo Caffarra e Joachim Meisner (os dois últimos já falecidos). Em setembro de 2016, divulgaram uma carta que fora enviada ao papa, solicitando esclarecimentos acerca de alguns pontos (este especialmente) considerados incertos. Até o momento, não foram respondidos. E provavelmente não o serão.

No início de 2017, alguns bairros próximos do Vaticano foram tomados por cartazes com críticas ao papa. Questionamentos em relação a destituições de responsáveis de institutos, de congregações. O rosto fechado do papa estampava os cartazes. A perplexidade estava começando a tomar a direção da crítica – aberta, inclusive. Recentemente, um livro causou (e está causando) constrangimento no Vaticano. Il papa dittatore, cujo autor se mantém no anonimato e assina com o pseudônimo Mercantonio Colonna, apresenta a tese de que Francisco, na verdade, é o papa mais tirânico e sem escrúpulos dos tempos modernos. Essa sua afirmação, alega o autor, foi fruto de seus inúmeros contatos com pessoas ligadas ao papa.

O Hino Pontifício, executado em momentos solenes, augura, ao fim, que o Santo Padre viva “tanto ou mais que Pedro”. Certamente não teremos um pontificado tão longo assim. De acordo com a própria previsão de Francisco em agosto de 2014, ele viveria mais “dois ou três anos, e depois... a casa do Pai”. Poderíamos, mesmo, imaginar que ele repita o gesto de Bento XVI, uma vez que também acenou essa possibilidade. Aquele que é visto como o “doce redentor”, sugerido no mesmo Hino Pontifício, tem causado perplexidades e incompreensões semelhantes à vida e mensagem deixada pelo Homem de Nazaré. Que desça sobre nós a sua bênção paternal!

Robert Rautmann, mestre em Teologia e doutorando em Ciência da Religião, é apresentador do programa “Em Busca do Sagrado”, da TV Evangelizar.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]