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| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

Se você é cristão, cale a boca – essa tem sido a mensagem inequívoca mandada pela cultura atual nas últimas semanas.

Karen Pence, esposa do vice-presidente Americano, Mike Pence, está sendo atacada por sua decisão de lecionar em uma escola cristã. O senador democrata Mazie Hirono, depois de perguntar a uma pessoa indicada para a magistratura sobre o fato de ela fazer parte dos Cavaleiros de Colombo, ligou a organização à “alt right”. E um grupo de estudantes católicos adolescentes, que esperavam por um ônibus durante a Marcha pela Vida e não sabiam qual era a maneira “aprovada” de lidar com um ativista indígena que resolveu abordá-los, está brigando para defender sua reputação.

Mas é claro que isso não é sobre Karen Pence, sobre Brian Buescher ou sobre os alunos da Covington Catholic High School. É sobre intimidar todos os demais.

É dizer ao marido ou esposa de um parlamentar que, se eles querem dar aulas, é melhor escolher uma escola não cristã, a não ser que eles queiram ver seu cônjuge engolido num furacão midiático sobre discriminação contra pessoas LGBT.

Não há nada de americano em um futuro no qual ter certas convicções religiosas faz de alguém um cidadão de segunda classe

É dizer ao estudante de Direito que sonha em um dia chegar à magistratura que, não importa o quanto ele queira entrar em uma organização católica dedicada à caridade, é melhor para a sua carreira se ele deixar esse desejo de lado.

E é dizer a escolas, estudantes e seus pais que não importa o quanto eles estejam dispostos a arcar com os custos e os perrengues de juntar centenas de estudantes, levá-los a Washington de ônibus e fazê-los dormir em alojamentos improvisados, isso pode não ser uma boa ideia, porque o futuro desses estudantes, suas carreiras, perspectivas de uma boa faculdade, tudo pode ir por água abaixo com um único vídeo que viralize.

É claro que nada disso aconteceria se esses estudantes estivessem em Washington para brigar por restrições ao uso de armas ou para pedir medidas contra as mudanças climáticas. Mas acontece se eles estão lá para falar pelos bebês que não podem fazê-lo.

Quando Donald Trump foi eleito, chocando a sabedoria convencional de Washington, ficou claro que havia muitos americanos calados que, na privacidade da cabine de votação, ousaram desafiar o politicamente correto e os megajusticeiros sociais de nosso tempo. Mas apenas votar não basta.

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Estou feliz que Karen Pence não tenha recuado e desistido de lecionar. Estou animadíssima porque Brian Buescher continua a ser membro dos Cavaleiros de Colombo, e que o senador republicano Ben Sasse propôs uma resolução afirmando que não há nada de errado com um magistrado que pertença a esse grupo. Estou reconfortada pelo fato de os estudantes da Covington estarem brigando e deixando claro que não fizeram nada de errado. Mas eles não podem fazer tudo isso sozinhos.

Cerca de 70% dos norte-americanos são cristãos, segundo o Pew Research Center. Eles, e qualquer um que acredite na liberdade religiosa, precisam começar a se manifestar também.

Ninguém precisa concordar com as filosofias jurídicas de Buescher para dizer que, nos Estados Unidos, não deveria haver testes de religiosidade para juízes. Ninguém precisa ir a uma escola católica ou ser pró-vida para dizer que um grupo de adolescentes meio perplexos diante de um ativista – um ativista que, posteriormente, tentou levar um grupo de manifestantes para interromper uma missa em uma basílica de Washington – não deveria estar no noticiário, muito menos de uma forma que destruísse suas reputações. Ninguém precisa concordar com as convicções religiosas da Immanuel Christian School para defender o direito de Karen Pence a escolher onde ela quer lecionar.

Sabem o que alimenta a intolerância? O silêncio. É fácil, no dia a dia, atacar os alunos da Covington ou ridicularizar a segunda-dama como um bando de intolerantes quando não há motivo para suspeitar que algum colega vá retrucar.

Se há uma coisa que aprendemos nesta era Trump, é que resistir aos valentões funciona

Precisamos aprender com a maneira como a esquerda joga. E isso é algo que eles fazem muito bem: espalhar histórias. E eles as transformam em algo pessoal. Temos de fazer o mesmo.

Seu filho foi à Marcha pela Vida? Fale disso. Mostre o seu orgulho por ter em casa alguém que se importa tanto com as vidas dos nascituros a ponto de estar em um ônibus por 20 horas e dormir no chão lotado de uma academia. Mas também fale sobre o quanto você se assusta com a possibilidade de que eles virem alvos de ativistas de mídias sociais e da grande imprensa só porque não sabem o melhor modo de lidar com um protesto.

Você se sente um peixe fora d’água em seu próprio país porque aquilo que você ouve na igreja aos domingos o desqualificaria para certos empregos? Não esconda essa angústia. Fale a verdade sobre como você não gosta de ser tratado como cidadão de segunda classe em sua nação.

Você está chocado com a possibilidade de a sua mãe ser chamada de preconceituosa só por trabalhar em uma escola cristã? Deixe claro o seu incômodo. E mostre os fatos: boa parte das denominações cristãs adere a uma moral sexual de 2 mil anos que veta o sexo fora do casamento, não importa se alguém é heterossexual ou homossexual.

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Leia também: Para ser contra a professora comunista, é preciso ser melhor que ela (artigo de Alexandre Borges, publicado em 25 de agosto de 2017)

Se nós continuarmos falando, a situação vai mudar. Porque as pessoas sabem que, se a colega Kelly é pró-vida, se sua cabeleireira Melissa é cristã, se o vizinho Roberto ensina em uma escola cristã, eles pensarão duas vezes. Não que eles concordem com Kelly, Melissa ou Roberto. Mas eles perceberão que é injusto pressupor que todos os pró-vida odeiam as mulheres, ou que todos os cristãos odeiam as pessoas LGBT. Eles perceberão que a vida é bem mais complexa que o discurso dos líderes dos justiceiros sociais. E então teremos discussões de verdade, diálogo real, cara a cara.

Sei que não é fácil. Frequentemente sou mais covarde que gostaria de ser – mesmo tendo a segurança de trabalhar em um veículo de comunicação conservador. É complicado falar às vezes, especialmente se você tem medo de ser julgado ou se pode haver consequências ocultas – uma promoção que nunca virá, contatos profissionais que serão subitamente cortados.

Mas não temos escolha. Neste exato momento, os chefões do pensamento nos Estados Unidos estão trabalhando dia e noite para deixar bem claro que, se você defender sua fé cristã, suas convicções pró-vida, você pagará caro.

Nós podemos reagir. Se há uma coisa que aprendemos nesta era Trump, é que resistir aos valentões funciona. E precisamos fazer isso, porque não há nada de americano em um futuro no qual ter certas convicções religiosas faz de alguém um cidadão de segunda classe.

Katrina Trinko é editora do The Daily Signal, apresentadora do Daily Signal Podcast e colaboradora do USA Today. Tradução: Marcio Antonio Campos.
© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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