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Como alimentar o mundo?
| Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo

A população mundial segue em constante crescimento. A projeção é de que em 2050 superemos os 9 bilhões. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a estimativa de crescimento populacional, mesmo que muito mais lento do que nas décadas passadas, revela que teremos de produzir 60% a mais de alimentos e 37% a mais de energia, considerando o atual estágio de produção, produtividade, processos e produtos para alimentação e geração de energia. A tarefa é gigantesca e só será possível com muita pesquisa científica e geração de inovações tecnológicas.

É de extrema importância que o agronegócio se prepare e reavalie suas logísticas para estes novos números populacionais. Já olhando para o futuro, os pesquisadores nacionais e as startups estão na vanguarda destas soluções e pensam além para ajudar nestes novos cálculos que impactam todos os brasileiros. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2003/2004 o Brasil produzia 119,03 milhões de toneladas de grãos em 47,4 milhões de hectares; em 2017/2018, foram produzidos 229,53 milhões de toneladas em 61,8 milhões de hectares. Ou seja, um crescimento considerável na produtividade que é fruto, também, das inovações no campo.

Quando eu era adolescente, na década de 1970, o desafio estabelecido era atingir 80 milhões de toneladas/ano de grãos. Neste ano, só a soja participou com 115 milhões de toneladas. No ano passado, o agronegócio, na contramão da grave crise econômica brasileira, cresceu 14,5% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda no último ano, a agricultura e o agronegócio contribuíram com 23,4% do PIB brasileiro – a maior participação nos últimos 13 anos, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

O Brasil mantém um cenário ideal para alimentar milhões de pessoas mundo afora

Se pararmos para avaliar o cenário, não há dúvidas de que o agronegócio é o principal negócio brasileiro. Apesar desta realidade, o número de startups no setor ainda é baixo. Segundo levantamento realizado pela SP Ventures, fundo de venture capital, em parceria com Centro Universitário FEI e com as startups Agtech Garage, Usina, Esalqtec e Agrihub, existem cerca de 338 agtechs mapeadas no Brasil. Apesar disso, o mercado segue em forte expansão e conta com incentivos econômicos para aceleração e mentorias das empresas do setor. Da nossa parte, fica o constante incentivo ao crescimento de pesquisas e tecnologia.

Voltando ao desafio de 2050, a única estratégia viável para a segurança alimentar mundial é a pesquisa e desenvolvimento (P&D) como suporte à inovação tecnológica, seja no apoio ao aumento de produtividade no campo, seja com formas e processos de produção mais criativos, além da introdução de novos produtos de variadas fontes.

O Brasil mantém um cenário ideal para alimentar milhões de pessoas mundo afora; afinal, já fomos chamados de "celeiro do mundo". Friso que apenas em 2019 devemos produzir 27 milhões de toneladas de carnes e 34 bilhões de litros de leite. Temos de perseguir e estar atualizados com os avanços tecnológicos, e isso engloba melhorar muito a conectividade no campo.

A ótima notícia é que estamos evoluindo rapidamente. Já temos o importante marco legal para ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e, em São Paulo, conquistamos o decreto governamental que estimula as parcerias para inovação, tendo as fundações de apoio credenciadas como motor indutor da interação público-privada. Em todas as áreas, as inovações tecnológicas serão imensas. A sociedade tem de estar preparada para enfrentar mudanças radicais de costumes e hábitos. O Homo sapiens não poderá ser conservador e burocrático.

Leia também: Tecnologia no agronegócio: riscos e oportunidades (artigo de Cristiano Kruk, publicado em 20 de maio de 2019)

Leia também: O desafio da educação para o agronegócio (artigo de Eduardo Müller Saboia, publicado em 26 de abril de 2018)

Votando ao campo na prática, e nas futuras fazendas verticais urbanas que teremos, parece inexorável a compilação de grandes volumes de dados. Esse momento pautado no big data se baseia nas informações capturadas por drones, máquinas, implementos, robôs e sensores individuais, embarcados em robustos sistemas computacionais inteligentes de apoio às operações e decisões.

Temos também o desenvolvimento de novas fontes não usuais de proteína e energia. Tudo isso pensado já no número maior de pessoas que será necessário atender. É fácil observar os esforços na pesquisa científica para a obtenção de proteínas de células-tronco (carne in vitro), produtos funcionais e probióticos, palatabilidade de ingredientes (insetos, por exemplo), na disponibilização de bancos de ensaios para realização de provas de conceito para novas tecnologias e estudo de formas adequadas à garantia da segurança alimentar sustentável.

Além disso, a evolução do agronegócio deve, no médio prazo, contar com inovações disruptivas que agreguem valor às atuais commodities e anexem novos produtos alimentares e formas criativas de produção e processamento. Neste cenário, é fundamental a participação da indústria de alimentos e bebidas, aumentando a velocidade de crescimento. Em 2010, foram responsáveis por 8,5% do PIB nacional e por 19,5% do faturamento das indústrias de transformação. Em 2017, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), o número aumentou para 9,8% do PIB e 24.8% do faturamento da indústria de transformação. O crescimento de 15% foi baixo se comparado com a evolução da agropecuária nacional, ou seja, ainda há muito para se investir neste setor e atingir mais pessoas.

Acredito que o agronegócio resolverá os problemas relacionados à alimentação em 2050, e que, também, os alimentos não serão apenas aqueles produzidos pelas técnicas convencionais agrícolas. Vamos juntos rumo ao futuro!

Álvaro Duarte, pesquisador científico no Instituto de Tecnologia de Alimentos, é diretor-presidente da Fundepag.

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