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A última rodada de tarifas do presidente Trump está gerando considerável ansiedade em relação à economia. Os defensores do livre comércio alertaram que isso aconteceria — mas agora não é hora de se gabar.
Os defensores do livre comércio não conseguirão um lugar à mesa até que levem a sério as preocupações comerciais de Trump. O compromisso de Trump com tarifas, apesar da deterioração das condições econômicas, deixa claro que a prosperidade econômica de curto prazo não é sua principal prioridade.
O presidente norte-americano quer algo mais — compromissos de segurança de outras nações, mais empregos na indústria americana, barreiras menores às exportações americanas — e acredita que as tarifas são a maneira de atingir esses objetivos, mesmo que causem algum desconforto a curto prazo.
Há boas razões para discordar de sua visão, mas, para ser eficaz, qualquer crítica ao plano de Trump deve incluir uma alternativa que o ajude a atingir seus objetivos.
Considere a segurança nacional. Trump está claramente preocupado com o impacto do comércio entre EUA e China nessa área. Muitos americanos compartilham sua preocupação: em uma pesquisa, a maioria afirma que o comércio com a China contribui mais para enfraquecer a segurança nacional do que para fortalecê-la.
Se as políticas comerciais propostas não abordarem a ameaça representada pela China, Trump e muitos americanos as rejeitarão.
Felizmente, é possível expandir o comércio e aumentar nossa segurança. Desenvolver relações comerciais mais profundas com nações amigas tornaria nossas cadeias de suprimentos mais resilientes e expandiria o mercado para as exportações dos EUA.
Relações comerciais mais profundas com aliados também nos ajudariam a combater a China. Assim como os Estados Unidos, outros países querem vender seus produtos e serviços internacionalmente. Se comprarmos mais de seus produtos e serviços do que a China, reduziremos a influência chinesa sobre eles e aumentaremos a nossa.
Os defensores do livre comércio também deveriam estar mais dispostos a discutir o uso estratégico de tarifas e controles de exportação. Essas ferramentas têm desvantagens, mas, se direcionadas aos países e produtos que representam as maiores ameaças, podem ajudar a atingir os objetivos de segurança nacional com o mínimo de danos econômicos.
Esclarecer quais países e produtos Trump deve atingir, e como, é mais desafiador do que insistir no comércio irrestrito. Mas vale a pena fazê-lo se os defensores do livre comércio desejam um comércio global mais amplo em um mundo onde as preocupações com a segurança nacional ganharam importância.
Se levarmos Trump a sério, seu plano de usar tarifas para incentivar outros países a remover barreiras comerciais não tarifárias também tem mérito
A União Europeia impõe diversas barreiras às importações agrícolas e alimentares dos Estados Unidos, incluindo requisitos de rotulagem, restrições a culturas geneticamente modificadas e aprovação de ingredientes.
Essas barreiras dificultam o comércio de maneiras consideradas injustas pelo Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos. Os defensores de um comércio mais livre devem apresentar planos detalhados sobre como reduzir essas barreiras sem depender de tarifas retaliatórias.
Quanto à revitalização da indústria manufatureira americana, o melhor lugar para começar é em casa. Reduzir a burocracia, reformar o código tributário, liberar a produção de energia americana e criar melhores caminhos para que os trabalhadores adquiram as habilidades certas contribuirão muito mais para impulsionar a indústria manufatureira americana do que quaisquer tarifas.
Especialistas preveem uma escassez de quase 2 milhões de trabalhadores na indústria até 2033. As tarifas não fecharão essa lacuna.
Uma mensagem central dos defensores do livre comércio deve ser que a melhor maneira de impulsionar os negócios nos Estados Unidos é tornar os EUA o melhor lugar para se fazer negócios.
Muitos estados já estão agindo nesse sentido. Há vários anos, Idaho reduziu drasticamente sua carga regulatória para facilitar a abertura e a operação de empresas. No ano passado, Arkansas, Geórgia e Kansas reduziram as alíquotas de impostos e simplificaram seus códigos tributários.
O governo Trump está tentando seguir o exemplo deles, pressionando por reformas tributárias e regulatórias. Os defensores do livre comércio poderiam fazer um trabalho melhor, mostrando como essas e outras políticas nacionais pró-crescimento tornam a maioria das tarifas desnecessárias.
Cortar gastos públicos é outra forte política pró-crescimento. Impostos mais baixos incentivarão o trabalho e o investimento, mas também precisamos reduzir gastos para que a dívida pública não afaste o investimento privado. Os republicanos no Congresso, preocupados com os danos causados pelas tarifas, devem enfatizar que cortar gastos reduzirá os efeitos negativos das tarifas.
Trump é mais desconfiado do comércio global do que qualquer outro presidente em décadas, mas também prometeu impulsionar o crescimento econômico e reduzir os preços. Suas políticas comerciais atuais vão contra ambos os objetivos e também estão incomodando os eleitores.
Esta é uma oportunidade para os defensores do livre comércio mostrarem como uma abordagem diferente — que expanda o comércio com aliados e use tarifas taticamente — pode ajudar o presidente a atingir seus objetivos econômicos e de segurança nacional.
Adam A. Millsap é professor do Programa de Economia Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, Maryland, Estados Unidos. É também membro sênior da Stand Together Trust.
©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: How to Convince Trump That Tariffs Aren’t the Only Answer
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