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Quando a vida é mais valorizada do que a morte: como Israel protege seus cidadãos acima de tudo

Equipes de resgate trabalham em uma escola judaica ortodoxa para meninas após mísseis balísticos iranianos atingirem Bnei Brak, centro de Israel (Foto: EFE/EPA/ABIR SULTAN)

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Na sexta-feira 20 de junho, durante o programa Em Pauta da GloboNews, a jornalista Eliane Cantanhêde questionou seu colega Jorge Pontual a respeito da diferença entre o número de mortes e destruição dos mísseis de Israel que atingem Gaza e o Irã quando comparados com os poucos casos de mortes e feridos quando os mísseis do regime iraniano atingem o território israelense. Não é a primeira vez que este tipo de comparação é feita em grandes canais da mídia, por renomados jornalistas. Este questionamento surge também às centenas, todos os dias, nas redes sociais, feito por pessoas mal intencionadas ou mal informadas.

A resposta, em poucas palavras, é simples: Israel valoriza a vida. Um dos mais importantes preceitos judaicos é chamado de “Pikuach Nefesh”, a salvação da vida. Este princípio determina que nada é mais importante do que a vida. Qualquer outra regra pode ser quebrada para salvar alguém que esteja em risco de vida: o dia santo do Shabat (sábado) pode ser violado, o jejum de Yom Kippur (dia do perdão) também, bem como qualquer outra regra. Desta maneira, para preservar a vida, os israelenses investiram pesadamente em muitas formas de proteger a sua população, sem levar em consideração se são judeus, muçulmanos, cristãos; se nascidos em Israel ou imigrantes.

Esperamos que a paz na região venha em breve e que possamos recordar estes trágicos dias como o ponto final a anteceder a virada para uma nova página para a humanidade

O primeiro método para proteger a vida é a construção de abrigos antibombas, ou bunkers. Tudo começou em 1940 quando a Força Aérea Italiana, em guerra contra o Reino Unido, realizou diversos bombardeios em Haifa e na cidade de Tel-Aviv, fundada por judeus em 1909, como parte dos conflitos da II Guerra Mundial. Neste episódio, anos antes da criação do Estado de Israel, 137 pessoas morreram. O governo do “Mandato Britânico na Palestina” instalou um sistema de sirenes para avisar a população quando o risco de um bombardeio é iminente. O sistema é utilizado até hoje, modernizado, evidentemente, com aplicativos para celular e outras ferramentas de alerta. Além disso, começou nessa altura a construção dos primeiros abrigos antibombas.

Oito anos depois, durante a Guerra de Independência de Israel (1948-1949), o Egito bombardeou diferentes cidades israelenses e o governo do recém criado país determinou que os judeus jamais estariam novamente desprotegidos. Em 1951 foi aprovada uma lei que tornou obrigatória a construção de abrigos em prédios, parques, escolas.

Durante a Guerra do Golfo em 1991, o governo iraquiano de Sadam Hussein lançou mísseis Scuds contra Israel. Os sistemas de radares ainda não eram tão avançados e com a ameaça de que armas químicas fossem lançadas contra a população, máscaras para gases foram distribuídas e as janelas das casas foram lacradas com plásticos e fitas adesivas. Diante da fragilidade à qual os novos tempos estavam expondo a população, determinou-se em 1992 que todos os edifícios residenciais construídos dali em diante deveriam ter um quarto-forte, chamado Mamad, com grossas paredes de 30 cm de concreto e portas e janelas de aço que pudessem ser vedadas facilmente, além de um sistema de circulação de ar. Estes quartos são parte das residências, normalmente onde dormem ou brincam as crianças ou onde funciona a biblioteca. Em caso de alerta, as famílias instantaneamente se dirigem ao Mamad e estão a salvo.

Hoje, estima-se que 44% dos lares em Israel tenham um Mamad. Os demais ainda utilizam abrigos coletivos nos prédios residenciais, shopping centers, escolas, estações de metrô, prédios comerciais ou públicos. As crianças aprendem desde muito cedo que, ao ouvir o alerta, devem se deslocar com seus pais ou professores para os abrigos e, uma vez que o perigo passe, podem voltar às suas atividades.

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Outro aspecto fundamental na proteção da vida são os famosos sistemas antimísseis. São sistemas complexos que compreendem radares e lançadores de mísseis perfeitamente coordenados através de uma sofisticada rede de comunicação. Os radares detectam projéteis lançados contra Israel, calculam sua trajetória, determinam se atingirão ou não áreas habitadas e disparam o correspondente interceptador. A primeira e mais conhecida camada é o "Iron Dome" ou "Domo de Ferro". Protege contra foguetes de curta distância como os que são lançados de Gaza ou do sul do Líbano. A seguinte camada é o “David’s Sling” ou “Estilingue de David”, que atinge os projéteis a 15.000 metros de altitude. Os mísseis são equipados com radares e sensores infravermelhos que destroem seus alvos diretamente. A terceira camada é o “Arrow” ou “Flecha”, que acerta os mísseis inimigos fora da atmosfera terrestre.

São obras incríveis de engenharia que podem chegar a 3.200 km/h. Estas últimas duas camadas estão sendo utilizadas pela primeira vez nesta guerra contra o regime islâmico do Irã e têm demonstrado, apesar das trágicas falhas, uma enorme eficiência. Infelizmente o custo de todo esse sistema é extremamente elevado. Cada noite de defesa aos ataques do Irã estão custando a Israel cerca de US$ 300 milhões. Uma única bateria do Domo de Ferro custa US$ 100 milhões. Cada míssil do Estilingue de David custa US$ 1 milhão.

A valorização da vida acima de tudo tem um custo incalculável. Para ficar apenas nos exemplos mais emblemáticos, Israel já deu ao mundo tecnologias como o Waze, o pendrive, o sistema de irrigação por gotejamento para o setor agrícola, o método de dessalinização de água do mar, janelas que armazenam energia solar, diversos equipamentos médicos e os mais sofisticados medicamentos. É difícil imaginar onde a humanidade poderia estar se Israel pudesse ter dedicado estes últimos 30 ou 40 anos de pesquisa científica e os bilhões de dólares investidos em defesa na criação outras tecnologias para melhorar o dia a dia da humanidade em todas as partes do mundo.

Esperamos que a paz na região venha em breve e que possamos recordar estes trágicos dias como o ponto final a anteceder a virada para uma nova página para a humanidade.

Fernando Brodeschi é vice-presidente da Federação Israelita do Paraná (FEIP).

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