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O Dr. Michael Egnor, de 69 anos, é um neurocientista norte-americano, neurocirurgião pediátrico e professor do Departamento de Cirurgia Neurológica da Universidade de Stony Brook, em Nova York, Estados Unidos, desde 1991. Em seu novo livro, The Immortal Mind, coescrito com a jornalista canadense Denise O’Leary, Egnor baseia-se em suas mais de 7.000 cirurgias cerebrais — e nas de muitos outros especialistas — para rebater a visão materialista da pessoa humana.
Em seu livro, subtitulado “Argumentos de um neurocirurgião a favor da existência da alma”, Egnor aborda questões como: existe alguma diferença entre a mente e o cérebro? O que revelam sobre a consciência os gêmeos siameses e os pacientes aos quais falta uma parte do cérebro? As chamadas experiências de quase morte são uma prova de que a alma existe? Partindo de fascinantes estudos de casos médicos e passando pelas reflexões filosóficas de Aristóteles e Tomás de Aquino, este cientista põe em xeque o relato materialista segundo o qual somos apenas o nosso cérebro.
Egnor critica a visão naturalista da autoconsciência e afirma sua sobrevivência além da morte, com argumentos extraídos da ciência, da filosofia e da espiritualidade. Seu raciocínio parte de fatos comprovados em diferentes campos experimentais:
— A cirurgia cerebral frequentemente disseca porções substanciais do cérebro sem afetar a capacidade de abstração ou a autoconsciência.
— Pacientes epilépticos graves que passaram por cirurgia de divisão ou partição do cérebro por meio do corpo caloso, para atenuar os sintomas correspondentes, continuam tendo uma única personalidade, apesar da separação praticamente total dos hemisférios cerebrais. O mesmo foi observado em pacientes nascidos sem o corpo caloso.
— A estimulação elétrica do cérebro, com o crânio aberto e por meio de eletrodos, pode causar movimentos involuntários, induzir sensações e emoções ou provocar lembranças, mas nunca pensamentos abstratos ou matemáticos, o que indica que estes não provêm do cérebro, embora ele os possibilite.
— Cada um dos gêmeos siameses que compartilham o cérebro também revela uma personalidade independente no que diz respeito às suas ideias e decisões.
Egnor sustenta que o materialismo não consegue explicar como os conceitos abstratos e as decisões livres podem surgir do cérebro
— Crianças nascidas sem dois terços do cérebro podem alcançar um desenvolvimento completamente normal. Da mesma forma, há crianças nascidas com hidrocefalia, com pouca ou nenhuma massa cerebral, que chegam a viver vários anos e a desenvolver alguma atividade comunicativa, embora não consigam andar ou falar.
— As experiências de quase morte (EQM), ou o conjunto de percepções e sensações que algumas pessoas experimentaram ao estar à beira da morte — sensações de paz, flutuar fora do corpo, encontrar familiares falecidos, ter uma visão panorâmica da própria vida… — demonstram que a autoconsciência opera independentemente da atividade cerebral e apontam para um mundo espiritual.
As EQM incluem uma percepção clara da realidade apesar da falta de oxigênio no cérebro, e uma quinta parte delas consiste em experiências sensoriais fora do corpo totalmente congruentes com a realidade. Tudo isso ocorre independentemente da cultura ou da religião dos indivíduos que as vivenciam.
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Os conceitos e a liberdade vêm de outra parte
A partir de dados como os anteriores, Egnor deduz que o materialismo não consegue explicar como os conceitos abstratos podem surgir do cérebro e sustenta que nem o raciocínio nem a vontade livre podem proceder da evolução.
A conclusão é que dispomos de uma alma imaterial da qual procedem faculdades como a de raciocinar e agir livremente e, em particular, a capacidade de autocontrole: a de vetar intencionalmente uma ação quando se torna consciente.
Egnor concebe a alma humana seguindo Aristóteles e Tomás de Aquino: como aquilo que nos capacita a ver, ouvir, conversar, sentir, raciocinar, escolher… ou seja, as atividades próprias de um ser humano vivo.
Ambos, porém, já observaram que, enquanto algumas dessas capacidades provêm evidentemente do próprio corpo material (hoje diríamos: do nervo óptico, da área auditiva cerebral etc.), outras não parecem ter a mesma origem, pois nenhum órgão biológico pode ter pensamento abstrato nem capacidade de criação ou escolha, algo corroborado pela neurociência atual.
Um corolário é que a inteligência artificial nunca poderá ser consciente, porque as máquinas, por não serem seres vivos dotados de alma, carecem de entendimento e vontade, e suas operações dependem de algoritmos que lidam apenas com aspectos puramente formais de um significado profundo ao qual não podem chegar.
O livro de Egnor é um bom resumo dos argumentos neurocientíficos em torno da existência da alma, apresentados de modo acessível ao leitor médio instruído e apoiados em sua experiência pessoal e em ampla bibliografia relevante, bem sintetizada.
O autor observa que, segundo pôde constatar, muitos neurocirurgiões concordam com suas teses, mas não querem reconhecê-las publicamente para não correr o risco de perder seus cargos.
©2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol: De cómo un neurocirujano llega a afirmar la existencia del alma



