Acompanhei nos últimos anos a criação dos mecanismos legais elaborados com o objetivo de punir atos contra a administração pública no Brasil. Como grande parte da população, também acreditei, na esteira da Operação Lava Jato, que o país havia dado um passo importante no combate à corrupção institucionalizada nas repartições públicas.
Mas infelizmente, ao contrário do que eu gostaria de afirmar, avançamos pouco e o noticiário não nos deixa mentir, apesar do discurso anticorrupção ter alcançado uma força nunca antes registrada no país. Dessa força nasceu, por exemplo, o projeto de Lei que desencadeou na criação da Lei Anticorrupção 12.846/2013.
Inicialmente, amplo e coerente, o projeto demonstrava verdadeiro interesse em combater esse tipo de crime. No entanto, agora, o que se aprovou foi uma disposição genérica do que deve ser aplicado a atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Foi um passo na direção certa, que acabou destruído pelo Poder Legislativo. Outro exemplo foi o que ocorreu na tramitação do famoso pacote anticrime que originou a Lei 13.964/2019, completamente modificado em relação ao seu texto original.
A aprovação de leis criminais no Brasil de hoje ainda se assemelha com a construção de rodovias em 1900, quando, por conchavos e apadrinhamentos, se desviava de tantas propriedades privadas que o caminho pavimentado acabava ficando mais longo e menos eficiente que o antigo, de terra batida.
É preciso ir além, especialmente agora, em meio à troca de gestão no governo federal. Todas as manobras da equipe que assume a gestão do país estarão envoltas por suspeitas de corrupção levantadas pela oposição, que já se organiza nesse sentido.
Uma possível má gestão certamente será equiparada a possíveis atos de corrupção e o tumulto será tamanho que, penso eu, isso pode tornar o país ingovernável, com projetos importantes engavetados e à mercê de novos conchavos entre o Executivo e Legislativo.
Isso não é mais cabível em um país como o nosso, em pleno ano 2023. Situações como ocorreu na Lei da Improbidade, também afrouxada pelo Legislativo, devem ser revistas. Concluo, portanto, que o país ainda tem ainda poucos mecanismos de combate a esse mal secular que é a corrupção e temo finalizar 2023 com mais retrocessos.
Leonardo Watermann é advogado e sócio fundador do escritório Watermann Sociedade de Advogados.
Direita de Bolsonaro mostra força em todas as regiões; esquerda patina
Eleições consagram a direita e humilham Lula, PT e a esquerda
São Paulo, Campo Grande e Curitiba têm as disputas mais acirradas entre as capitais
Lucas Pavanato (PL) é o vereador campeão de votos no país; veja a lista dos 10 mais votados
Deixe sua opinião