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O cinema sempre foi um campo de disputa cultural, um território onde diferentes tendências ideológicas tentam moldar a percepção do público sobre história, poder e sociedade. Nas últimas décadas, a esquerda progressista exerceu influência dominante sobre grande parte da narrativa artística brasileira, definindo padrões do que se considerava “arte relevante”. É nesse contexto que surge Dark Horse, o aguardado filme sobre Jair Bolsonaro..
O filme será estrelado pelo ator norte-americano Jim Caviezel, conhecido por interpretar Jesus Cristo em A Paixão de Cristo, sob a direção de Mel Gibson. Caviezel, homem de fé e de posições conservadoras declaradas, empresta à obra não apenas prestígio internacional, mas também uma autenticidade rara em produções políticas contemporâneas.
Antes mesmo de sua estreia, Dark Horse já enfrenta críticas da mídia progressista. Questiona-se a abordagem narrativa, a escolha do elenco e, sobretudo, o direito de uma perspectiva conservadora ocupar espaço cultural
A relevância do filme vai além da biografia de um presidente. Ele captura, com fidelidade narrativa, o fenômeno de 2018, quando a vitória do bolsonarismo expôs fragilidades do modelo progressista de comunicação política.
Enquanto setores da esquerda se apoiavam em fórmulas desgastadas e discursos previsíveis, Bolsonaro e sua equipe exploraram redes sociais e plataformas digitais com precisão quase cirúrgica, estabelecendo diálogo direto com o eleitorado. Temas negligenciados por anos – segurança pública, valores familiares, liberdade econômica – finalmente encontraram espaço na narrativa nacional, muitas vezes ignorados pela mídia tradicional. A comunicação digital tornou-se, assim, instrumento de protagonismo popular.
Antes mesmo de sua estreia, Dark Horse já enfrenta críticas da mídia progressista. Questiona-se a abordagem narrativa, a escolha do elenco e, sobretudo, o direito de uma perspectiva conservadora ocupar espaço cultural. Aqui reside a ironia: enquanto produções hagiográficas sobre líderes da esquerda recebem aplausos automáticos, narrativas conservadoras são frequentemente rotuladas como “propaganda”. Essa reação evidencia o desconforto diante da pluralidade e reforça a importância de abrir espaço para diferentes vozes culturais.
No plano artístico, Dark Horse promete excelência. Caviezel oferece intensidade dramática e experiência internacional, enquanto a produção técnica rivaliza com obras reconhecidas globalmente, incluindo filmes progressistas recentes como The Secret Agent, de Kleber Mendonça Filho, El Sendero Azul, Manas, Dear Future Children e Who, If Not Us?
Essa comparação demonstra que a perspectiva conservadora também pode gerar arte de alto nível e competir no cenário global – um lembrete de que qualidade e ideologia não são mutuamente exclusivas.
A ironia maior está na reação de críticos e setores da mídia: proclamam-se defensores da diversidade cultural, mas entram em colapso diante de narrativas que fogem ao espectro ideológico dominante. Dark Horse representa justamente a quebra desse monopólio narrativo, oferecendo ao público uma perspectiva até então marginalizada e testando a capacidade de crítica imparcial.
Mais do que uma biografia de Jair Bolsonaro, o filme simboliza a reconquista do espaço cultural por vozes conservadoras e liberais, historicamente silenciadas ou sub-representadas. Ele mostra que o cinema brasileiro pode – e deve – refletir toda a pluralidade do pensamento nacional.
O desafio agora é dos críticos: conseguirão avaliar a obra por seus méritos artísticos ou permanecerão presos a filtros ideológicos? Como lembraria Edmund Burke, a verdade floresce quando lhe é dado espaço para respirar. Dark Horse é, acima de tudo, esse sopro de ar fresco que o cinema brasileiro há muito precisava.
Carlos Henrique Gileno é professor doutor em Ciências Sociais na UNESP, campus de Araraquara, e pesquisador da formação do pensamento político brasileiro.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



