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Presidente Jair Bolsoanro
Presidente Jair Bolsonaro fala sobre depoimento de Moro em frente ao Palácio do Alvorada.| Foto: Reprodução

Você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro” (Jair Bolsonaro, segundo depoimento de Sergio Moro)

Se Sergio Moro saísse calado do governo – e esta é a reivindicação dos que ainda apoiam o atual presidente da República –, teria prestado um grande desserviço ao país e uma enorme contribuição a Jair Bolsonaro e seus três filhos. Para ser sincero, penso que, se saísse calado, Moro teria sido covarde. Poderia, no futuro, quando a realidade viesse à tona, ser acusado e condenado por prevaricação.

Moro fez suas denúncias enquanto ainda era ministro, o que o liberta do risco de tal condenação no futuro. Ele só se exonerou após formular denúncia contra Bolsonaro. Este rito pode passar despercebido a muitos, mas é de extrema relevância. Moro foi um grande juiz, não esqueçamos.

Aos que bravejam contra as denúncias de Moro, informo: toda fraternidade, toda organização com um certo ranço mafioso espera que aqueles que a deixem (as que permitem) mantenham sigilo sobre o que viram interna corporis. O bolsonarismo parece não fugir a esta regra.

Bolsonaro nomeou Rolando de Souza para a Direção-Geral da PF. Rolando era subordinado de Alexandre Ramagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O primeiro ato de Souza na Direção-Geral da PF foi demitir (sem apresentar razões, o que Moro sempre exigia) o chefe da Superintendência no Rio de Janeiro, foco de interesse de Bolsonaro, pois é lá que corre o inquérito contra o seu filho Flávio sobre o caso assombroso da “rachadinha” na Alerj. Bolsonaro, pelo menos por enquanto, ganhou a superintendência que tanto queria.

Se o STF vier a se pronunciar sobre essas nomeações, independentemente do relator, Rolando de Souza rola.

Vê-se que Moro tinha razão. A tentativa de “aparelhamento familiar” (expressão usada pelo ministro Alexandre de Moraes) da PF, tirando dela a característica de instituição de Estado e pondo-a a serviço do clã Bolsonaro, torna-se absolutamente evidente.

Aliás, vivemos num país em que a história insiste em se repetir como farsa. Já em março de 2016 Dilma Rousseff, por pressão de Lula, nomeou Eugênio Aragão para o ministério da Justiça. Aragão já fora advogado do PT e da campanha presidencial de Lula. O objetivo claro era mudar o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, para estancar as investigações da Lava Jato. Na primeira entrevista, Aragão prometera trocar toda a equipe da PF se houver “cheiro de vazamento”. Uma clara ameaça. E tratou de procurar um nome para substituir Daiello.

Na época, Lula, sempre do alto de sua infinita empáfia, declarou: “Eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles [PF e MP] pra tentar colocá-los no seu devido lugar”. Esta retórica de Lula lembra algo similar em Bolsonaro?

Aragão não conseguiu cumprir sua “missão” de substituir Daiello: o impeachment de Dilma, em 12 de maio de 2016, encerrou sua curta gestão. Mas fica o registro histórico e a lição que dele emana.

Penso que quem apoia este aparelhamento da PF imposto por Bolsonaro perde razão para criticar Dilma por ter nomeado Lula para chefiar a Casa Civil da Presidência da República, visando conferir-lhe o foro privilegiado das grandes impunidades, e por ter chamado Aragão para destituir Daiello.

José J. de Espíndola é engenheiro mecânico, mestre em Ciências em Engenharia, doutor pela Universidade de Southampton (Inglaterra), doutor honoris causa pela UFPR e professor titular aposentado da UFSC.

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