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| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Com os hiatos de praxe para confirmar a regra (a preocupação com o direito à vida), o planejamento, o método e a inteligência são figuras que inexistem na prática das políticas de segurança pública no Rio de Janeiro e se espraiaram pelo Brasil. Fruto da inação dos diferentes governos.

A crise de hipercriminalidade, que aqui tem sua faceta mais visível e midiática, é a resultante de uma insistência obtusa na improvisação, no achismo. Tudo o que não deve ser uma política de segurança pública.

No fundo do poço de sua popularidade, o governo Temer, por meio de um de seus mandarins, teve a “genial ideia” de autorizar uma intervenção federal das Forças Armadas, comandadas pelo Exército, na área da segurança do Rio de Janeiro, que vai completar seis meses.

Tinha-se naquele momento a ilusão de que o pleno controle pelos militares das ações de combate à criminalidade poderia reverter o quadro de quase anomia social instalada no Rio

Tinha-se naquele momento a ilusão de que o pleno controle pelos militares das ações de combate à criminalidade poderia reverter o quadro de quase anomia social instalada no Rio, afundado em uma crise política, econômica e social sem precedentes.

Por serem doutrinados na hierarquia, na ordem e no planejamento, imaginou-se que os generais de plantão poderiam ter condão de mudar em 180 graus os rumos das polícias fluminenses e suas ações de criação de um ambiente seguro e cidadão no Rio, e que serviria, assim, de laboratório para o Brasil.

Isso não só não aconteceu, como, passado o susto da ordem improvisada que teve de gerar um planejamento às pressas, houve um desafio à nova ordem com o assassinato, até agora sem perspectiva de esclarecimento, da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, ao que tudo indica ordenado pela maior ameaça à ordem pública hoje no Rio de Janeiro: as milícias.

Leia também: Intervenção no Rio de Janeiro (editorial de 16 de fevereiro de 2018)

Leia também: Crise, intervenção e o flagelo dos “especialistas” (artigo de Bruno Carpes e Diego Pessi, publicado em 19 de fevereiro de 2018)

Esses bandos paramilitares com tentáculos no executivo e legislativo dominam hoje áreas com mais de dois milhões de habitantes. E nessas áreas sob seu jugo, retroalimentam-se de dinheiro e poder, aumentando cada vez mais a sua expansão, sob o olhar ora complacente ora cego do Estado. Por sua vez, os grupos de narcotraficantes, divididos em facções, buscam manter seus territórios a salvo do alcance das milícias e dos grupos rivais. Se tivesse sido feita uma forte ação de correição, subsidiada pela independência dos militares, certamente haveria impacto na mudança do quadro da segurança do Rio. Mas a opção dos generais, no entanto, foi mais do mesmo, com os mesmos métodos: guerra aos pobres e às drogas.

Passados quase seis meses, o que temos é um quadro regressivo, em que foi oficializada a morte da polícia de proximidade, simbolizada pelas UPPs. Além disso, também tivemos o aumento de quase todos os índices de criminalidade, medidos pela própria Secretaria de Segurança e mortes de inocentes nas razias policiais nas favelas. Sangue pago com mais sangue, em uma ciranda dantesca. E o povo carioca e fluminense no meio desse fogo cruzado, sem perspectiva com esses atores em cena. De volta ao passado.

Newton de Oliveira é professor de Direito da Faculdade Mackenzie Rio e ex-subsecretário geral de Segurança do Rio de Janeiro.
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