A candidatura de José Serra à presidência da República tem o caminho aplainado por suas excelentes gestões nos Ministérios do Planejamento e da Saúde, no Senado, na prefeitura e no governo de São Paulo. Mesmo os setores de opinião pública à esquerda veem o nome de Serra com bons olhos, pelo seu passado de ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), de orador no famoso comício da Central do Brasil com João Goulart em 13 de março de 1964 e pelo longo exílio de 14 anos no Chile e nos EUA.
Aécio Neves também goza de prestígio nas hostes dos partidos governistas por ser competente articulador, ex-presidente da Câmara dos Deputados, executivo operoso no comando de Minas Gerais e por ser neto de Tancredo de Almeida Neves, uma legenda de amor à pátria e de serviços à coletividade em todas as múltiplas funções que exerceu.
O que poderá dificultar o triunfo de Serra ou de Aécio são as atitudes inconsequentes e demagógicas da chamada "oposição". Ficou muito mal a campanha radiofônica e televisiva do PPS dando conta de que o governo Lula estaria repetindo o confisco da poupança feito por Fernando Collor. Assertiva abstrata, sem sentido, agredindo a lógica e a inteligência do povo brasileiro, que de bobo não tem nada.
Ademais, um Senado desmoralizado pelas horas extras de funcionários durante o recesso, absurdos 158 cargos de diretoria, passagens aéreas emitidas para parentes e namoradas e marmeladas em licitações internas, está sem moral para instaurar qualquer CPI.
O senador Tasso Jereissati não se colocou bem na fotografia ao mandar seu avião particular citado na farra dos favorecimentos pegar Marconi Perillo em Goiânia, no dia 15 de maio, com a finalidade de abrir a sessão e ler o texto da CPI para quatro gatos pingados do PSDB.
Está se caracterizando evidente "udenização" ou "lacerdização" do PSDB. Para quem não sabe, o panfletário Carlos Lacerda, da UDN, foi o responsável pela campanha difamatória contra o estadista Getulio Vargas, que o levou ao suicídio em 24 de agosto de 1954.
A Petrobras tinha sido iniciativa de Getulio, que se tornou a Lei 2.004, de 03 de outubro de 1953, e as petrolíferas multinacionais "7 irmãs" mobilizaram a imprensa e o reacionarismo parlamentar e de fora para fustigar o chefe da nação. Ele disse na sua carta-testamento: "Quis criar a potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, e mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma".
Agora que a Petrobras descobriu gigantescas jazidas de petróleo (reservas de mais de 90 bilhões de barris); que a China acaba de aprovar financiamento de US$ 10 bilhões à estatal; que o lobby das multinacionais do petróleo se movimenta para impedir mudanças na Lei 9.478/97 do governo Fernando Henrique Cardoso, que lhes assegura pelo artigo 26 a propriedade do óleo extraído, obstaculizando a adoção de uma política estratégica de exportação, por que uma CPI?
Não havia necessidade de CPI, que poderá atravancar a compra de plataformas e de sondas para áreas ultraprofundas, prejudicar empréstimos externos difíceis na atual crise, comprometer a construção de refinarias, atrasar a exploração do pré-sal. Há muitos expedientes para evitar corrupção: requerimentos de informações, comissão de fiscalização financeira, discursos no grande expediente, pedidos ao Tribunal de Contas da União e ao Ministério Público.
Nos objetivos da CPI os novel-lacerdistas não querem saber por que a ANP obrigou a Petrobras a devolver 50% dos blocos do pré-sal que originaram os campos de Tupi, Iara, Guará, Carioca, Iguassu, Bem-Te-Vi e Parati. Será para que a estatal do petróleo que deverá ser criada herde essa preciosidade? Aliás, o autor da CPI, senador Alvaro Dias, declarou-se contrário à essa nova empresa no programa Roda Viva.
Se o PSDB continuar a "lacerdizar-se" e a vestir a roupagem da velha e carcomida UDN, transformando-se em partido do conservadorismo mais retrógrado, Serra e Aécio poderão contaminar-se, como aconteceu com Geraldo Alckmin, revestido talvez injustamente com a roupagem da privatização.
Léo de Almeida Neves, membro da Academia Paranaense de Letras, é ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil.



