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Desemprego e condições de saúde
| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O momento é, de fato, complexo. Mas muitos agem de modo a acrescentar confusões e incertezas à situação. Por exemplo, fomos instados a pensar em um suposto dilema entre salvar vidas ou salvar a economia. Isso não existe, trata-se de um falso dilema. Pensemos, por exemplo, sobre a relação entre o desemprego e as condições de saúde dos indivíduos.

A primeira observação a se fazer diz respeito aos dados de desemprego no contexto da pandemia e isolamento (compulsório ou não). Ainda não temos informações definitivas sobre a variável, mas os dados de requerimento de seguro-desemprego são alarmantes. Aumento de quase 40% em abril em relação a fevereiro (mais de 20% em relação a abril do ano anterior) e com pedidos ainda represados, devido a dificuldades de acesso presencial e via internet ao Sistema Nacional de Emprego (Sine). A situação econômica das famílias deve sofrer deterioração ainda maior nos próximos meses, a durar a situação.

Desta forma, devemos ter preocupação com emprego? Claro. A segunda observação é: de que modo a falta de emprego afeta as condições de saúde dos indivíduos e vice-versa? Existe vasta literatura médica e de economia da saúde nesse sentido. Em geral, os trabalhos sugerem que ter emprego leva a benefícios sociais, psicológicos e financeiros que melhoram a saúde. Além disso, ter melhores condições de saúde leva o indivíduo a ser mais produtivo, desejar trabalhar, ter maior probabilidade de ser contratado ou retido no posto de trabalho ou menor probabilidade de ser demitido.

Pesquisa realizada pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, em 2017, nas capitais brasileiras, oferece alguns sinais iniciais sobre a associação do desemprego e condições de saúde: 70% dos desempregados entrevistados revelam sofrer de ansiedade; 63%, de stress e nervosismo; 59% sugerem ter depressão etc. Além de mudanças emocionais, 51% revelam ter alteração de sono; 45%, alteração no apetite; 40% apresentam dor de cabeça e enxaqueca frequente; 29% sugerem alteração de pressão e 16% descontam a ansiedade em algum vício (cigarro, alimentação, álcool entre outros). Note-se que 13% afirmam cometer agressões físicas e verbais contra amigos e familiares.

Num exercício para os estados brasileiros que utiliza metodologia adequada que leva em consideração outros determinantes da taxa de mortalidade total, os pesquisadores Paulo Jacinto, César Tejada e Tanara de Souza sugerem que o efeito de curto prazo de uma elevação de um ponto porcentual na taxa de emprego reduziria a mortalidade total em 0,38%, efeito maior que de outras determinantes utilizadas.

Interessante notar que o que foi apresentado acima é literatura conhecida pela área médica e econômica, mas parcialmente negligenciada nos dias de hoje. Os efeitos do desemprego sobre a saúde dos indivíduos são muito importantes.

Ari Francisco de Araujo Junior é professor do Ibmec BH. Claudio Djissey Shikida é coordenador-Geral de Pesquisa da Enap.

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