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O discurso é belo. A retórica comove. Mas a manipulação é visível. No Brasil, a desigualdade virou moeda política, e sua exploração moral tem raízes profundas na tradição religiosa que moldou nossa cultura. O problema não está apenas no uso político da pobreza, mas na transformação do debate econômico em sermão moral, repetido pela esquerda como se fosse a extensão do púlpito católico: riqueza é pecado, lucro é suspeito, mérito é arrogância, e o Estado é o “salvador dos humildes”. É a moral do “coitadismo virtuoso” aplicada à política.
Um país que foi ensinado a admirar a miséria e desconfiar do sucesso encontra conforto emocional no discurso que demoniza quem produz e exalta quem depende do Estado. A esquerda percebeu que sermão rende votos. Resultado: perpetua a desigualdade para explorá-la. A narrativa segundo a qual a direita “defende empresários e banqueiros” infantiliza o debate econômico como um conto moral de vilões e vítimas. A realidade é outra: a direita defende liberdade econômica, concorrência, propriedade privada, empreendedorismo e liberdade de escolha.
O indivíduo é livre quando pode escapar do patrão privado e do patrão estatal. As leis criadas “em nome do trabalhador” produzem informais sem proteção real, dependentes de programas sociais, clientes permanentes do Estado e eleitores cativos
Esses valores não protegem grandes empresas – eles as ameaçam. Em um ambiente realmente livre, menos burocracia significa mais empresas surgindo, mais concorrência significa mais oportunidades e mais liberdade significa menos dependência de corporações estatais. Quem de fato protege grandes conglomerados é a esquerda com seu Estado gigante, seus monopólios, contratos bilionários, subsídios seletivos e sua teia de aliados corporativos. A aliança verdadeira não é entre a direita e empresários, mas entre o Estado e as corporações que dele dependem.
A tentativa de convencer o cidadão de que salário, previdência ou direitos existem porque o Estado “determina” ignora a realidade elementar de que nada disso existe sem capital. Sem lucro, salários desaparecem, benefícios se tornam promessa vazia e direitos viram papel sem lastro. O maior direito do trabalhador não está no texto constitucional – está na possibilidade de escolher onde trabalhar. Isso só existe quando há muitos empregadores competindo por sua mão de obra. Enquanto asfixia empresas com impostos, burocracia e instabilidade jurídica, a esquerda diz proteger o trabalhador. Na prática, destrói a base econômica que sustenta seus direitos.
A mesma lógica se aplica ao debate sobre privatizações: a esquerda não combate privatizações porque teme o domínio do capital, mas porque teme perder o monopólio estatal. Estatais não protegem o povo; protegem carreiras, sindicatos aparelhados e cabides de autoridade. Privatizar não enfraquece o país. Enfraquece quem o controla.
No fim, a esquerda prega o fim da desigualdade, mas não defende o trabalhador – defende a dependência do trabalhador. O indivíduo é livre quando pode escapar do patrão privado e do patrão estatal. As leis criadas “em nome do trabalhador” produzem informais sem proteção real, dependentes de programas sociais, clientes permanentes do Estado e eleitores cativos. Nenhum projeto político que transforma dependência em destino produz liberdade. Sociedades livres exigem propriedade, mobilidade econômica, empreendedorismo e escolha.
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Esse discurso sobre a desigualdade prospera porque se apoia em um traço cultural profundo: a moral religiosa da pobreza como virtude. Na tradição brasileira, herdeira de séculos de catequese, o pobre é visto como moralmente superior, e o próspero como suspeito. Isso cria culpa em quem produz e recompensa ressentimento em quem depende, abrindo espaço para o Estado vestir a fantasia de redentor. Assim, riqueza vira pecado, lucro vira exploração, mérito vira arrogância e pobreza vira capital político.
A desigualdade existe. Mas não é eliminada por mais Estado, mais burocracia e mais submissão econômica. Riqueza é criada por quem produz, investe e arrisca – e destruída por quem usa a máquina pública como trono moral. A direita defende liberdade para produzir. A esquerda defende controle para depender. A questão não é “quem protege o pobre?”, mas: vamos continuar premiando a dependência como virtude e punindo a produção como pecado? Sem liberdade econômica não há prosperidade. Sem capital não há direitos. E não existe justiça social quando o único beneficiário da desigualdade é o Estado.
Evaristo Fagundes Ciambarella, ex-médico, fiscal de tributos estadual paulista aposentado



