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Artigo

Deus, amigo dos pobres

Dom Moacyr José Vitti, CSS, arcebispo metropolitano de Curitiba

Nos tempos antigos corriam histórias semelhantes a do Evangelho de hoje. Nesta parábola, Jesus fala de um rico que é condenado, não porque era malvado, mas simplesmente porque era rico, porque se isolava no seu mundo e não aceitava o ideal da partilha dos bens com quem estava passando necessidades. Jesus nos quer ensinar que o fato de existirem neste mundo, duas categorias de pessoas – os ricos e os pobres – é contra o plano de Deus.

Os bens foram dados para todos e quem tem mais deve dividi-los com quem tem menos ou com quem não tem nada, de modo que haja igualdade e que para todos se criem condições de vida, dignas de pessoas humanas. Então, antes que alguém possa permitir-nos luxos, é preciso que todos tenham tido condições de satisfazer as suas necessidades mais elementares.

A economia do mundo de hoje não está estruturada segundo o plano de Deus: 80% dos recursos são consumidos por 25% da população. Pode um cristão aceitar essa situação? Cultivamos nos nossos corações a aversão que Deus tem pelas injustiças e pelas desigualdades? O que devem então fazer aos pobres? Roubar ou usar de violência contra os ricos? Não! Não cometamos o erro de recorrer à violência que nunca resolve nenhum problema, mas só cria novos e mais graves.

Os políticos, as comunidades cristãs devem denunciar ao mundo as injustiças que se cometem em seus países e os sofrimentos aos quais são submetidos os pobres. Devem apelar para protestos enérgicos, embora não violentos. Cada um de nós deve comprometer-se a modificar o coração do rico que cada qual traz dentro de si.

Se continuarmos com um coração egoísta, se não tivermos a disposição de partilhar o pouco que temos com quem é mais pobre, se, às vezes, privarmos a mulher e os filhos das coisas a eles necessárias, a fim de satisfazermos os nossos caprichos, se cultivarmos dentro de nós a secreta ambição de nos tornarmos patrões e termos serviçais sobre os quais podemos exercer o nosso comando, jamais conseguiremos construir aquele mundo novo no qual não haja ricos e pobres disputando avidamente os bens entre si, mas somente irmãos que partilham os dons do Pai.

O rico pensa que a única maneira de conseguir mudar de ideia os que estão fundando a própria vida em valores errados seja proporcionar-lhes prodígios, aparições, acontecimentos espetaculares e misteriosos que os faça lembrar o além. Esta ideia de que o milagre possa se constituir no impulso definitivo para seguir o caminho proposto por Cristo é uma ilusão perigosa, que está presente também na mente dos cristãos dos nossos dias.

A única força de transformar o coração do rico é a palavra de Deus. É esta palavra que tem o poder de realizar o milagre de abrir a um rico a porta do reino dos céus, um grande milagre este, tão difícil quanto o de passar um camelo pelo fundo de uma agulha (Lc 18,25).

O Evangelho de hoje nos diz, por sua vez, que Deus permanece com os pobres e com os últimos. Para Ele tem um nome e são seus amigos aqueles que aos olhos do mundo, são insignificantes, desprezados, esquecidos. Ele exige que haja justiça para eles neste mundo.

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