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A primeira exortação apostólica do Papa Leão XIV revisita um documento iniciado por Francisco, dedicado ao amor aos pobres como característica essencial da vida da Igreja e de cada cristão. Os 121 pontos que compõem o texto demonstram a continuidade com seu antecessor e a centralidade que a doutrina social da Igreja terá em seu pontificado.
Especulou-se que o primeiro documento magistral de Leão XIV se concentraria na paz ou nos desafios impostos pela inteligência artificial. Quando se soube que o título seria Dilexi te, que trataria do amor aos pobres e que o texto seria assinado em 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, havia poucas dúvidas de que a continuidade com Francisco se refletiria ali.
Apresentamos dez leituras principais do documento, nas quais o Papa expõe o que considera "um desafio inevitável para a Igreja hoje".
1) Continuidade com Francisco: o documento é um projeto iniciado por seu antecessor nos últimos meses de vida e que Leão XIV retomou, intitulando-o em continuidade com Dilexit nos, a encíclica de Francisco dedicada ao mistério do amor humano e divino no coração de Cristo. No início do texto, o pontífice explica que o tornou seu, acrescentando algumas reflexões.
2) Mensagem ao Episcopado Mundial: Leão XIV, que antes de sua eleição era Prefeito do Dicastério para os Bispos, acompanhou a publicação de seu primeiro documento com uma carta aos bispos, esclarecendo que estava retomando "um costume iniciado pelo Papa Francisco há mais de dez anos, que associa todo o Colégio Episcopal em momentos importantes do Magistério Pontifício", e expressando a esperança de que a exortação "possa ajudar a Igreja a servir os pobres e a aproximar os pobres de Cristo".
3) Preconceitos ideológicos: o Papa enfatiza que, para a maioria das pessoas, a pobreza não é uma circunstância nem uma escolha. Ele questiona uma falsa visão meritocrática e alerta que até mesmo os cristãos "se deixam contagiar por atitudes marcadas por ideologias mundanas ou por posições políticas e econômicas que levam a generalizações injustas e conclusões enganosas".
4) Opção pelos pobres: "Não estamos no horizonte da caridade, mas da Revelação", afirma o Papa. O texto nos convida a refletir sobre o fato de que Deus escolheu fazer-se pobre e apresenta essa escolha como a base mais clara para falar teologicamente da opção preferencial de Deus pelos pobres. "Preferência" não implica, de forma alguma, exclusão ou discriminação em relação aos outros.
5) Uma tradição da Igreja: o documento reúne exemplos de santidade que demonstram como o cuidado com os pobres sempre caracterizou a vida da Igreja e explica que, ao longo dos séculos, essa atenção especial também se manifestou nos ensinamentos de muitos Padres da Igreja e no surgimento das primeiras ordens e congregações religiosas.
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6) As múltiplas faces da pobreza: o Papa analisa as diversas "faces" da pobreza que caracterizam nosso tempo: a pobreza "daqueles que não têm meios materiais de subsistência", "daqueles que são socialmente marginalizados e carecem de instrumentos para expressar sua dignidade e capacidades", a pobreza "moral", "espiritual" e "cultural"; a pobreza "daqueles que não têm direitos, nem espaço, nem liberdade". Ele dedica especial atenção ao cuidado dos doentes e dos migrantes que os acompanham.
7) O Século da Doutrina Social da Igreja: a exortação reconhece o ensinamento papal que abordou a questão social por meio de encíclicas, como a Rerum Novarum, de Leão XIII. Valoriza também as contribuições de João XXIII e Paulo VI, que enfatizaram a proximidade da Igreja aos pobres.
Observa que, durante o pontificado de João Paulo II, a opção preferencial pelos pobres se consolidou como expressão da caridade cristã, e que, posteriormente, em sua encíclica Caritas in Veritate, Bento XVI vinculou o amor ao próximo à busca do bem comum, denunciando as limitações das instituições.
8) Denunciar uma economia que mata: com clareza e senso de urgência, o pontífice afirma que é necessário continuar denunciando a "ditadura de uma economia que mata" e reconhecer que "enquanto os lucros de alguns crescem exponencialmente, os da maioria se distanciam cada vez mais do bem-estar dessa minoria feliz".
Ele alerta que esse desequilíbrio decorre de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e negam o direito de controle dos Estados, responsáveis por zelar pelo bem comum.
9) Um novo paradigma de evangelização: os pobres não são apenas objetos, mas sujeitos da evangelização hoje. Leão XIV aponta que há uma sabedoria misteriosa que Deus deseja nos comunicar por meio deles: "Crescendo em extrema precariedade, aprendendo a sobreviver nas condições mais difíceis, confiando em Deus com a certeza de que ninguém mais os leva a sério, ajudando-se mutuamente nos momentos mais sombrios, os pobres aprenderam muitas coisas que guardam no mistério de seus corações.
Aqueles entre nós que não vivenciaram situações semelhantes, uma vida vivida no limite, certamente têm muito a aprender dessa fonte de sabedoria que constitui a experiência dos pobres. Somente confrontando nossas queixas com seus sofrimentos e privações é possível receber uma repreensão que nos convida a simplificar nossas vidas."
10) A esmola, um gesto que nos salva: reconhecendo que não é a solução para a pobreza mundial, que não isenta os responsáveis de tomar decisões com impacto global e que a melhor ajuda será sempre incentivar as pessoas a terem bons empregos, o Papa alerta contra a tendência de subestimar ou desprezar a esmola, um gesto que "nos convida, pelo menos, a parar e olhar o pobre no rosto, a tocá-lo e a partilhar com ele algo de nosso. A esmola, por menor que seja, infunde pietas numa vida social em que cada um se preocupa com seu próprio interesse pessoal".
©2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol: “Dilexi te”: un llamado a la coherencia cristiana



