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Nas semanas que se passaram, um tema agitou os jornais do mundo inteiro e principalmente dos Estados Unidos: as medidas adotadas pelo presidente Barack Obama que buscam restringir os riscos que os bancos correm em sua administração financeira, fato que certamente golpeou em cheio Wall Street, um dos ícones do capitalismo.

Tais medidas têm sido vistas como uma possível resposta à derrota sofrida pelos democratas nas eleições para uma cadeira ao Senado no estado de Massachusetts, e golpear Wall Street dessa forma pode soar como música aos ouvidos da população menos favorecida nos Estados Unidos, que vem sofrendo com os efeitos da crise econômica. Tal fato reacende o debate do rumo político e discursivo do governo Obama, o que coloca este muito próximo a alguns governantes latino-americanos.

Um elemento pode ser observado como comum na prática de governantes como Hugo Chávez, Lula, Evo Morales, Fernando Lugo e Obama, qual seja o que diz às camadas menos favorecidas, ao povo, aquilo que eles querem ouvir. Essa prática retórica ocorre em grande parte da América Latina e, como pode ser observado, é uma prática usada até mesmo nos Estados Unidos, berço de um conservadorismo mais comedido.

O método de sedução utilizado com frequência no discurso político tem como objetivo primordial convencer os destinatários da palavra através da marginalização do razoável em favor do prazer proporcionado naquele que escuta ou lê, pois nada como o adulador que elogia a perda de peso do chefe que na realidade ganhou trinta quilos.

Marxismo latino-americano? Esquerda versus direita? Não. Nesse caso temos a boa e velha democracia e os artífices da política e do convencimento para a aquisição e manutenção do poder.

É evidente que a massa popular multiforme pode ser considerada como passional, imediatista e volúvel, o que leva a uma ausência de opinião consensual, ou seja, torna-se impossível alcançar a unanimidade.

Embora nada, e muito menos ninguém, alcance o consenso geral, alguns assuntos chegam muito perto disso, seja pela importância do tema na agenda do dia ou pelo número de pessoas afetadas por eles, e é nesses temas que esses governantes têm se apegado para de uma forma ou outra se aproximar dos clamores populares. Efeitos da boa e velha democracia.

Será que alguém em sã consciência política incitaria queimadas na Amazônia? Aumento de preços? Ou, mesmo que economicamente inevitável e necessária, utilizaria como plataforma política o corte de pessoal em grandes empresas?

É importante ressaltar que a utilização de discursos que soam como música à grande maioria não significa que as medidas tão esperadas pela população sejam possíveis e efetivas. Temas como meio ambiente, aquecimento global, fome, corrupção e pobreza podem ser utilizados retoricamente de di­­versas formas. Entretanto, para que sejam mais palatáveis à grande massa, muitas vezes são distorcidos, desvinculando a realidade da prática que será efetivamente adotada, pois é mais fácil se colocar ao lado do ignorante nas mazelas da vida do que efetivamente esclarecê-lo sobre a realidade, a qual é, na maio­­ria das vezes mais complexa e desagradável.

O golpe público de Obama à Wall Street, quando previu um limite ao tamanho dos bancos e trouxe a possibilidade de proibi-los de investirem em transações financeiras arriscadas, pode ter sido uma boa compensação à imagem criada pelo próprio Obama quando este ajudou os bancos para salvá-los da quebra. Estas medidas parecem ter um objetivo que ultrapassa a prática e chega ao discurso, pois, em tempos de crise, quem dentre a população que sofre com a miséria gosta de ver dinheiro sendo dado aos vilões banqueiros?

Eduardo Saldanha é advogado e doutor em Direito e Relações Internacionais.

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