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Artigo

E esse futuro que nunca chega?

Na década passada já se ouvia que os jovens são o futuro do país. Mas como, se os números apontam para outra realidade que destoa totalmente dessa afirmação?

Já faz alguns anos que dedico parte do meu tempo em prol das favelas paranaenses. Nos 18 anos de atuação como ativista e empreendedor social, tive o privilégio de conhecer, conviver e realizar ações com vários jovens das favelas brasileiras. Elaboramos dezenas de atividades de enfrentamento ao racismo, segregação, violência e marginalização. Propomo-nos a realizar ações simples que enalteçam o exercício da democracia, o desenvolvimento humano e a transformação social.

Constitucionalmente, desde os primeiros anos de vida o Estado garante aos seres humanos direitos e deveres. E, partindo da interpretação do direito e das políticas públicas para a juventude, precisamos tomar a sério a afirmação de que os jovens são o futuro deste país; precisamos urgentemente mudar a realidade dos jovens. Hoje, o slogan é utilizado na retórica política e pela classe intelectual – ou seja, pela cúpula dominante – apenas com fins eleitoreiros; o “presente/futuro” dos jovens é algo secundário nos planos governamentais, assim como outras políticas sociais.

O jovem é cerceado, privado da educação, do lazer, da prática esportiva, do acesso à cultura

Se olharmos para o presente, observaremos o quanto o jovem é cerceado, privado da educação, do lazer, da prática esportiva, do acesso à cultura. É esse mesmo jovem que troca seu lar e a escola pela boca de fumo; troca o lápis ou a caneta por uma arma de fogo. Esse mesmo jovem também é vitima da exploração sexual e da violência. Eles são caçados diariamente nas ruas; a cada 23 minutos, um deles, normalmente negro, é assassinado no Brasil. O presente é algo empregado sob o plano da ficção política que, por sua vez, é condicionada ao ato do discurso.

Na década passada já se ouvia, nos discursos inflamados, que os jovens são o futuro do país. Mas como, se os números apontam para outra realidade que destoa totalmente dessa afirmação? Olhando as estatísticas e as políticas públicas endereçadas aos jovens moradores de favelas com fins de coibir o genocídio juvenil, percebe-se que o discurso não passa de elucubrações que, em sua maioria, não saem dos “tubos de ensaio”; quando o fazem, não chegam aos territórios segregados, atingindo superficialmente a periferia dos grandes centros com fins de higienização social.

Ninguém é obrigado a concordar com este pensamento, mas há de se reconhecer que o modelo de política publica aplicado não contempla os anseios e necessidades dos jovens de favela, nem coíbe a segregação, a marginalização e muito menos o racismo. Sem trazer à tona outras mazelas que dilaceram a juventude, já fica claro o desdém para com os jovens. Como incluir o que não é incluído?

O nosso passado e nosso presente são construídos em cima de perdas, sangue e dor. É na luta contra a exclusão que obtemos resultados positivos, unindo-nos e redirecionando o nosso presente para um futuro promissor. É superando a segregação e pela força de vontade de transformação que o jovem busca dias melhores, através do próprio protagonismo. Só assim ele pode contrariar as tristes estatísticas deste país e avançar rumo ao novo.

Leia também:O menino empreendedor (12 de março de 2015)

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