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Felipe Lima

Já faz alguns anos que dedico parte do meu tempo em prol das favelas paranaenses. Nos 18 anos de atuação como ativista e empreendedor social, tive o privilégio de conhecer, conviver e realizar ações com vários jovens das favelas brasileiras. Elaboramos dezenas de atividades de enfrentamento ao racismo, segregação, violência e marginalização. Propomo-nos a realizar ações simples que enalteçam o exercício da democracia, o desenvolvimento humano e a transformação social.

Constitucionalmente, desde os primeiros anos de vida o Estado garante aos seres humanos direitos e deveres. E, partindo da interpretação do direito e das políticas públicas para a juventude, precisamos tomar a sério a afirmação de que os jovens são o futuro deste país; precisamos urgentemente mudar a realidade dos jovens. Hoje, o slogan é utilizado na retórica política e pela classe intelectual – ou seja, pela cúpula dominante – apenas com fins eleitoreiros; o “presente/futuro” dos jovens é algo secundário nos planos governamentais, assim como outras políticas sociais.

O jovem é cerceado, privado da educação, do lazer, da prática esportiva, do acesso à cultura

Se olharmos para o presente, observaremos o quanto o jovem é cerceado, privado da educação, do lazer, da prática esportiva, do acesso à cultura. É esse mesmo jovem que troca seu lar e a escola pela boca de fumo; troca o lápis ou a caneta por uma arma de fogo. Esse mesmo jovem também é vitima da exploração sexual e da violência. Eles são caçados diariamente nas ruas; a cada 23 minutos, um deles, normalmente negro, é assassinado no Brasil. O presente é algo empregado sob o plano da ficção política que, por sua vez, é condicionada ao ato do discurso.

Na década passada já se ouvia, nos discursos inflamados, que os jovens são o futuro do país. Mas como, se os números apontam para outra realidade que destoa totalmente dessa afirmação? Olhando as estatísticas e as políticas públicas endereçadas aos jovens moradores de favelas com fins de coibir o genocídio juvenil, percebe-se que o discurso não passa de elucubrações que, em sua maioria, não saem dos “tubos de ensaio”; quando o fazem, não chegam aos territórios segregados, atingindo superficialmente a periferia dos grandes centros com fins de higienização social.

Ninguém é obrigado a concordar com este pensamento, mas há de se reconhecer que o modelo de política publica aplicado não contempla os anseios e necessidades dos jovens de favela, nem coíbe a segregação, a marginalização e muito menos o racismo. Sem trazer à tona outras mazelas que dilaceram a juventude, já fica claro o desdém para com os jovens. Como incluir o que não é incluído?

O nosso passado e nosso presente são construídos em cima de perdas, sangue e dor. É na luta contra a exclusão que obtemos resultados positivos, unindo-nos e redirecionando o nosso presente para um futuro promissor. É superando a segregação e pela força de vontade de transformação que o jovem busca dias melhores, através do próprio protagonismo. Só assim ele pode contrariar as tristes estatísticas deste país e avançar rumo ao novo.

José Antonio C. Jardim, pastor, ativista social, psicólogo e empreendedor social, é presidente estadual da Central Única das Favelas (Cufa).

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