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Economia do improviso: o caso do IOF e a desmoralização do país

Para o Haddad, a confusão gerada pelo aumento do IOF, que forçou um recuou parcial da medida, não gera descrédito para o governo. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Enquanto Lula faz discurso sobre justiça social com um copo de uísque na mão e a retórica de 2003 na cabeça, a economia brasileira vira um experimento conduzido por quem nunca deveria ter saído da sala dos professores. O caso do IOF é mais do que um tropeço, é o sintoma de um governo atolado em improviso, populismo fiscal e desprezo pela racionalidade técnica.

Fernando Haddad, ministro por conveniência e não por competência, mostrou que sua bagagem em economia se resume a colunas de opinião e livros do YouTube. 

Sob sua caneta, o IOF virou brinquedo. Decretado, recuado, justificado com frases de coaching institucional. Efeito colateral? A credibilidade da equipe econômica agora se distancia até mesmo dos princípios mais elementares de política fiscal, como aqueles expostos por Buchanan e Musgrave: previsibilidade, neutralidade e responsabilidade orçamentária.

A última derrapada — ou melhor, barbeiragem técnica — foi a tentativa desastrada de tributar fundos de investimento no exterior com IOF, o que implicaria, além de tudo, um controle de capitais incompatível com economias abertas. 

A medida, anunciada com pompa, foi desfeita em poucas horas. Não por consciência técnica — mas para “evitar especulação”, nas palavras tortas do ministro. O estrago, porém, já estava feito: o mercado entendeu que o governo não sabe o que está fazendo.

Mas não se iluda. Haddad não erra sozinho. Ele é o reflexo fiel de um governo que se especializou em vender bondade financiada com covardia

O aumento da conta de luz para bancar tarifa social soa nobre — até você descobrir que o custo foi jogado inteiro nas costas da classe média. A mesma classe que já sustenta um Estado gordo, ineficiente e capturado por corporações públicas e setores protegidos.

Enquanto isso, setores com lobby bem armado continuam blindados. Eventos, influenciadores, empresas amigas, fundações com pedigree ideológico, todos seguem isentos, subsidiados ou premiados. E a retórica do “povo no orçamento” vira cortina de fumaça para esconder o rombo que eles mesmos aumentam a cada decreto.

A cereja do caos é que o governo Lula engoliu, calado, um estouro de R$ 50 bilhões em emendas parlamentares e uma fraude bilionária no INSS — sem qualquer compensação fiscal.

O bloqueio de R$ 31,3 bilhões anunciado no Relatório Bimestral virou apenas maquiagem contábil para disfarçar o descontrole. O que seria uma sinalização de austeridade virou piada entre analistas, diante do descompasso entre discurso e prática.

No meio disso tudo, o presidente segue com ares de guru sindical, desdenhando da responsabilidade fiscal e apostando na memória curta do eleitorado. Mas o Brasil de 2025 não é o mesmo de 2003. 

O país não tolera mais milagres anunciados por quem desrespeita os fundamentos da realidade. E a realidade, infelizmente, é que estamos sendo governados por uma coalizão de vaidade, amadorismo e aparelhamento ideológico.

As consequências estão chegando. O mercado recua, o dólar avança, o consumo desacelera e o investidor se retrai. E quando se tenta explicar o desastre, surgem as desculpas de sempre: a culpa é da imprensa, do Congresso, do “sistema”. Nunca do governo, nunca do ministro, nunca do presidente. Uma infantilidade institucional disfarçada de projeto político.

A verdade é brutal: Lula prometeu reconstruir o país. Está conseguindo, no pior sentido da palavra. Reconstruiu a máquina de barganhas, reabilitou a gastança disfarçada de justiça social e ressuscitou uma retórica que só convence quem parou de pensar. O Brasil virou refém de um governo que chama retrocesso de resistência.

Estamos pagando caro para assistir a mais um ciclo de frustrações históricas. E desta vez, nem a velha desculpa da “herança maldita” se sustenta. A herança, agora, está sendo fabricada em tempo real.

Gregório Rabelo é advogado e empresário, especializado em Direito Constitucional e Legislativo. Atua como assessor jurídico-legislativo na Câmara dos Deputados.

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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