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Apesar da tendência mundial de queda no consumo de álcool entre adolescentes – evidenciada por dados da Organização Mundial da Saúde e outras pesquisas –, a ingestão de bebidas alcoólicas nessa faixa etária, em qualquer quantidade, ainda é preocupante e proibida por lei no Brasil, o que evidencia a importância da educação socioemocional. Na Europa e nos Estados Unidos, respectivamente, o percentual de adolescentes que relataram consumo recente de álcool caiu de 48% e 35% em 2015 para 42% e 22% em 2024 (European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs e Monitoring the Future Survey). Já no Brasil, os dados mais recentes disponíveis da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar mostraram uma queda de 27% em 2015 para 22% em 2019.
Os riscos do consumo de álcool na adolescência incluem desde prejuízos ao desenvolvimento cerebral, até maior exposição a acidentes, comportamentos perigosos e maior risco de desenvolver o chamado transtorno por uso de substâncias, popularmente conhecido por “dependência química”.
Não basta alertar apenas sobre os prejuízos, é crucial capacitar os jovens para lidar com as pressões sociais para o consumo dessas substâncias por meio do desenvolvimento das chamadas habilidades socioemocionais
Outra preocupação crescente é o uso de cigarros eletrônicos. Com sabores atrativos e aparência moderna, esses dispositivos têm ganhado popularidade, apesar dos riscos à saúde e da ilegalidade de sua comercialização. A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar de 2019 mostrou que 16,8% dos adolescentes já haviam experimentado cigarros eletrônicos, fato alarmante, tendo em vista que a exposição precoce à nicotina tem impacto no desenvolvimento cerebral e também está relacionada ao maior risco de desenvolver o transtorno por uso de substâncias.
Diante desse cenário, reforça-se a importância contínua de conscientizar a nova geração a respeito dos riscos e dos danos associados ao uso de álcool e outras drogas (AOD). No entanto, não basta alertar apenas sobre os prejuízos, é crucial capacitar os jovens para lidar com as pressões sociais para o consumo dessas substâncias por meio do desenvolvimento das chamadas habilidades socioemocionais por meio da educação socioemocional.
No Grupo Educacional Bom Jesus, por exemplo, desde 2012, a educação socioemocional é trabalhada no Programa de Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais no Ensino Fundamental, seguindo evidências científicas e recomendações das instituições de referência no assunto. Algumas das habilidades trabalhadas no programa de educação socioemocional são: de análise de consequências, de resolução de problemas e de tomada de decisões, de resistir à pressão dos pares, de comunicação interpessoal, de autorregulação emocional e, por fim, de pensamento crítico.
A habilidade de análise de consequências prevê que os jovens tenham um projeto de vida e reflitam sobre como decisões equivocadas podem prejudicá-los. Os professores também os auxiliam a analisarem as consequências do abuso de AOD em curto, médio e longo prazo.
Com a educação socioemocional, escola também trabalha a habilidade dos jovens de usarem etapas estruturadas para a tomada de decisões saudáveis e, assim, entenderem o impacto das influências externas (ex.: propagandas e outras mídias, pressão dos pares etc.). Entre as etapas, a orientação de “parar e pensar” antes de agir impulsivamente; definir o problema que está enfrentando; pensar em alternativas para resolvê-lo, analisando vantagens e desvantagens de cada uma e, por fim, avaliar a decisão tomada.
Já a habilidade de resistência à pressão dos pares envolve o conhecimento de técnicas de recusa em relação à proposta para consumo de AOD, como, por exemplo, sugerir outra atividade mais saudável e segura quando recebe uma proposta para consumir; dizer “não” de forma assertiva ou usar uma desculpa momentânea para ganhar tempo e sair da situação constrangedora. Essas são algumas estratégias de educação socioemocional que podem reduzir o risco de decisões não saudáveis influenciadas pela pressão de colegas e outras pessoas do convívio desse adolescente.
No que se refere à comunicação interpessoal, entender e treinar a assertividade para posicionar-se claramente em relação à decisão de não usar AOD são atitudes fundamentais. Por fim, o desenvolvimento do pensamento crítico, que é a capacidade de analisar criticamente as informações, é essencial para que os alunos tenham embasamento para tomar decisões conscientes a respeito desse assunto.
Todas essas habilidades contribuem para que cada vez mais os estudantes possam ser preparados, já dentro da escola, através da educação socioemocional, a enfrentar de maneira responsável e autônoma situações complexas da vida e que possam multiplicar essas informações no meio em que vivem, seja com a família, seja com amigos e colegas.
Nicole Biral Klas é médica pediatra do Departamento de Saúde Escolar (DSE) do Colégio Bom Jesus.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



