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A montanha russa do MAGA: Jeffrey Epstein e sua relação com Trump

Prazo dado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para países negociarem acordo comercial vence nesta sexta-feira (1º) (Foto: Bonnie Cash/pool pool photo/ EFE/EPA/)

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Para quem enxerga o movimento MAGA apenas pelos olhos da imprensa liberal, ele parece uma massa uniforme, pastosa, comandada por um homem só. Nada mais longe da realidade. O trumpismo, de fato, é hoje a expressão política mais fragmentada e plural da direita americana em décadas – e sua mais recente fratura exposta atende por um nome: Jeffrey Epstein e sua relação com Trump.

Quando Donald Trump resolveu tratar o caso Epstein como assunto encerrado, a reação não veio apenas da imprensa ou da velha esquerda. Veio de dentro. Veio da base America First, dos que não estão dispostos a passar pano para o sistema mesmo quando o sistema veste boné vermelho.

O MAGA não é um partido. É uma guerra civil interna permanente entre acomodação e ruptura. E mesmo Trump, com todo seu instinto político, sente a pressão: ou assume de vez o papel de líder revolucionário, ou arrisca se tornar apenas mais uma engrenagem

Thomas Massie, Matt Gaetz, Marjorie Taylor Greene, o Freedom Caucus inteiro e gente como Steve Bannon e Alex Jones sabem bem disso. Para esse grupo, America First não é retórica de palanque: é código de conduta. E não há America First real enquanto a podridão dos bastidores – representada por nomes, listas e vídeos sumidos – continuar encoberta por conveniência.

O episódio Epstein é tratado por essa ala de apoiadores de Trump como a chave simbólica do estado profundo: uma rede de chantagem moral que atravessa partidos, governos, bilionários e oligarquias globais. Para os institucionais do MAGA, aqueles mais preocupados em aprovar pacotes e manter cargos, é preferível deixar o tema para lá. Para o Freedom Caucus, é questão de princípio.

A contradição se tornou mais aguda com a aprovação do Big Beautiful Bill. Trump orquestrou uma manobra ousada: uniu reforma fiscal, controle de fronteiras e política industrial num só projeto-relâmpago – uma blitzkrieg legislativa concluída às vésperas de 4 de Julho. Vitória objetiva? Sem dúvida. Mas ao custo de conter, por ora, as pautas mais disruptivas do movimento.

E é aí que a base cobra. Não adianta reconstruir tarifas ou fechar fronteiras enquanto se ignora que as instituições continuam a proteger elites culpadas dos piores crimes. Não basta frear a China e reindustrializar o Rust Belt se os mesmos cartéis corporativos e de inteligência que chantageavam políticos via Epstein continuam intocados.

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Bannon, Jones, Massie, Greene e Gaetz vocalizam esse incômodo. Sabem que o eleitor MAGA não é feito só de pragmáticos cansados da inflação. Ele é feito de americanos que acreditam que o sistema inteiro precisa ser derrubado – das agências à Suprema Corte, da grande mídia às universidades.

O MAGA não é um partido. É uma guerra civil interna permanente entre acomodação e ruptura. E mesmo Trump, com todo seu instinto político, sente a pressão: ou assume de vez o papel de líder revolucionário, ou arrisca se tornar apenas mais uma engrenagem. Epstein não foi um detalhe. Foi o sinal. E quem finge que não viu, não entendeu nada.

Marcos Paulo Candeloro é graduado em História (USP), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University- EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR).

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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