Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artigo

Escola pra quê?

Guto de Lima, empreendedor e designer estratégico, professor de Design Thinking na Universidade da Experiência e sócio-proprietário do Nex Coworking, de Curitiba

O sistema educacional vigente está obsoleto. Imagino que o assunto não seja novidade para você. Se tiver filhos, deve haver algum desconforto no que tange à qualidade e validade da educação que eles recebem. Para que serve a escola, afinal?

O sistema escolar em funcionamento, fruto da Revolução Industrial, foi criado para formar profissionais-padrão. Esses funcionários atenderiam às necessidades-padrão da indústria e, portanto, também poderiam ser substituídos com facilidade. Como peças de uma linha de produção.

Isso explica uma série de insanidades com as quais temos de conviver no sistema de ensino atual. Dentre elas, a promoção da competição em detrimento da cooperação entre alunos, a "decoreba", a intolerância ao erro, o currículo-padrão (sim, a Matemática é mais importante do que a Música em qualquer escola aonde você vá), o teste-padrão, a obediência a qualquer preço, a padronização do estilo do ensino para pessoas com estilo de aprendizagem diferentes e o fato de termos zilhões de professores repetindo a mesma ladainha quando poderíamos ter o melhor de todos compartilhando o conhecimento simultaneamente para todos os aprendizes.

Por que raios meu filho tem de decorar as respostas certas para as perguntas que já não fazem mais sentido para a sociedade em que vivemos? Tenho 36 anos e nunca utilizei o teorema de Pitágoras (que esqueci poucas horas depois de passar na prova). Muito respeito aos que utilizam, mas não consigo entender o sentido de obrigar 100% dos jovens estudantes a decorar tal teorema e mais uma lista infinita de informações potencialmente inúteis para o seu presente e futuro.

Alternativamente, se estamos todos conectados em rede, significa dizer que, se me interesso por algo, posso encontrar o melhor especialista no assunto em fração de segundos e consumir exclusivamente o conhecimento que me é útil. Aprendo assim a criar conexões, mais do que decorar convenções. Já viu o que acontece com um grupo de crianças conectadas à internet com um desafio interessante para resolver?

O curioso é que os pais ouvem e pregam o sermão da inovação todos os dias em sua realidade profissional. Mas o que estamos fazendo, em uma perspectiva insustentável, é preparar as novas gerações para repetir e obedecer, e não para criar e questionar.

O problema se estende, sem fazer muito esforço, à educação profissional. Pessoas são educadas para repetir, para operar, para obedecer. Aproxime-se dos centros acadêmicos e irá encontrar o mesmo problema. Qualquer semelhança com o sistema industrial não é mera coincidência. E é aí que mora a obsolescência da educação.

À margem do sistema de ensino, vemos o mercado com novidades importantes a observar. A Apple é a empresa mais valiosa do mundo, seguida pela Microsoft. Duas potências multinacionais que têm seu valor concentrado em intangíveis. O mais impressionante é o tempo que elas levaram para chegar aonde estão. Uma pequena fração do tempo que as gigantes ultrapassadas levaram para conquistar o topo. E o fenômeno tende a acelerar cada vez mais. Em poucos anos conheceremos novas gigantes e rapidamente veremos as 100 maiores da Forbes compostas por empresas com poucos anos de idade e muita sede de inovação.

Legal é perceber que as futuras gigantes estão sendo criadas agora, talvez uma delas no quarto do seu filho adolescente. Melhor ainda é acreditar que um novo sistema de ensino está ganhando vida. Um sistema que ensinará aos seus filhos – não importando suas idades – a questionar tabus, a duvidar do que o mundo lhe apresenta como receita, a sonhar grande, a entender que uma ideia genial sem uma boa execução não é nada, e que execução, mesmo sem uma boa ideia, pode levá-los a novos lugares, a colaborar, enfim, a empreender criativamente.

Por um mundo de gente crítica e criativa, sem medo de errar. Por um mundo onde "deixamos aprender" mais do que "ensinamos". Questione você primeiro.

Menos memorex, mais amor. Por favor.

Dê sua opinião

Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.