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Escola: um espaço de trabalho, acolhimento e respeito
| Foto: Imagem de zinkevych no Freepik

Nos últimos tempos, o número de ataques violentos às escolas, aos estudantes e aos professores tem aumentado de maneira assustadora e extremamente preocupante no Brasil. O que antes era manchete de jornal em países distantes tornou-se uma triste realidade na mídia brasileira e um motivo de preocupação e temor para todos os envolvidos no ecossistema da educação – estudantes, professores, gestores, entidades do setor, famílias e governos.

Por conta da importância e da gravidade do tema, algumas reflexões são necessárias para que atitudes sejam tomadas com o objetivo de tentar reduzir, ou ainda, resolver o problema, minimizar os danos e retomar o papel de espaço de trabalho, acolhimento e respeito que cabe às instituições de ensino. Temos de começar pelo aspecto fundamental: entender que a escola é um lugar de convivência – um ambiente físico onde o estudante se reconhece e encontra os amigos. É um objeto de desejo para os alunos, que querem estar lá. Fato que a pandemia nos revelou claramente: quando as escolas fecharam as portas e a convivência entre alunos e seus professores foi cortada abruptamente, o sentimento foi de ausência do espaço físico e do convívio. E é justamente o ambiente físico e o relacionamento interpessoal que formam a equação perfeita para o aprendizado.

O ambiente escolar, a escola, vem sendo desrespeitada há tempos. São inúmeros os exemplos que retratam essa situação.

Dois são os legados que deixamos como “rastro” de nossa passagem pela vida: os valores humanos e os conhecimentos. Estes, bens universais, públicos, de posse de todos, devem ser compartilhados a bem de um dever nosso: torná-los significativos a quem possamos fazê-lo. Já os valores humanos, que as escolas professam, adotam, exercitam a partir da convivência, geram uma série de aprendizados que vão muito além do conteúdo didático. Os estudantes aprendem respeito quando estão em grupo, justiça quando veem o tratamento igualitário dado a todas as pessoas, a importância da diversidade, a gratidão e a generosidade, o conhecimento.

Claro está que a educação, uma importante prática social, não acontece apenas na escola. Também na família e na sociedade, ambientes por onde perpassa o processo da aprendizagem. Mas, especificamente, a escola é uma instituição intencional, ou seja, tem a intenção real e efetiva de promover a educação e, por isso, se planeja e se organiza para isso. Por que, então, esse espaço tão importante, tão sagrado e gerador de uma herança fundamental para a sociedade virou alvo de ataques violentos mais frequentes? Por que os ataques violentos não acontecem com a mesma frequência, por exemplo, em shoppings, supermercados, bancos, cabeleireiros, floriculturas etc.?

A escola é um ambiente que lida, todos os dias, com valores humanos, com conhecimentos.

Essas reflexões nos ajudam na compreensão inicial dessa grave questão. A partir daí, então, podemos encontrar as melhores formas de prevenir-se contra esse mal que assola as famílias e a sociedade. A escola é um ambiente que lida, todos os dias, com valores humanos, com conhecimentos. É um lugar para onde as pessoas levam seus bens mais preciosos – seus filhos, e que é organizado para transformar e melhorar a vida das pessoas. Quando uma pessoa ataca criminosamente uma escola, ela coloca para fora toda frustação e raiva contra uma instituição que tem valores muito bem definidos e elevados.

Não podemos esquecer que os recentes atos de violência dentro de escolas, comumente atribuídos ao desequilíbrio de algumas pessoas, retratam, também, o estado de desvalorização da instituição escolar em um contexto geral. Claro que a questão da segurança é um fator que precisa ser reforçado, sem dúvida. Porém, os agentes públicos responsáveis pela educação escolar claramente se descuidaram desse ponto. O ambiente escolar, a escola, vem sendo desrespeitada há tempos. São inúmeros os exemplos que retratam essa situação.

Famílias: aliem-se à escola dos seus filhos, não sejam seus inimigos.

Diante deste cenário, tão grave, cabe a todos nós, educadores, famílias, escolas e setor público, adotarmos uma postura de resistência à violência. Um pacto de resistência, como aqui conclamo, passa pela consciência da nossa responsabilidade como cidadãos, como família, como sociedade. As próprias instituições de ensino e entidades do setor precisam se posicionar perante os governos cobrando mais medidas de segurança e atenção para o problema, além de campanhas de conscientização e, especialmente, de valorização das escolas.

As famílias, ponto chave aqui, precisam se envolver diretamente no problema. Um primeiro passo é não mais compartilhar e dar crédito às fake news difundidas em grupos de pais nos aplicativos de mensagens, mas usar esse espaço de comunicação para propagar a importância da escola no aprendizado de convivência para seus filhos. Não ser violento e ter um discurso positivo, que valorize o ambiente escolar, em vez de diminuí-lo, como o fazem com frequência. Famílias: aliem-se à escola dos seus filhos, não sejam seus inimigos!

Também é fundamental tentar contribuir com o processo de aprendizagem de alguma forma – desde o acompanhamento das tarefas e vida escolar das crianças até a demonstração de que o aprendizado dos conhecimentos e vivência dos valores humanos tem o poder de fazer a diferença na vida das pessoas. Esse discurso reforça a equidade de gênero, racial e social e ajuda a criar uma sociedade mais justa e equilibrada, com mais oportunidades para todos.

Não podemos esquecer que uma imagem é construída a partir de atitudes – e nada ou ninguém tem uma imagem positiva se não tiver uma atitude positiva. Portanto, cabe a toda comunidade escolar (escola, educadores e famílias) e ao ecossistema da educação (incluindo entidades e governos) resistir à violência a partir de atitudes sérias e responsáveis. É assim que deixamos um precioso legado para o futuro da sociedade, calcado no nobre ato de ensinar e aprender.

Fernando Maluf, graduado em Engenharia Metalúrgica, Pedagogia e Administração Escolar, é professor de Química, especialista na área de Educação, e gerente de Educação Pública – Sistemas de Ensino, na FTD Educação.

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