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Cicuta não é remédio: por que dar poderes a políticos e burocratas nunca foi a solução

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Em vez de negociar com Trump, Lula reagiu com bravatas patrióticas e discursos sobre "soberania nacional". (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)

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O Brasil é um país acostumado a tratar o Estado como solução mágica para todos os seus males. Da economia à saúde, da educação à segurança pública, espera-se que um gabinete em Brasília resolva tudo por decreto. Só que há séculos aprendemos – ou deveríamos ter aprendido – que certas “curas” matam o paciente. E dar poderes cada vez maiores a políticos e burocratas tem sido, no mínimo, como oferecer cicuta a quem já está intoxicado.

Enquanto o cidadão sofre com escolas precárias, hospitais superlotados e uma carga tributária sufocante, o centro do poder segue crescendo. Cargos, estruturas, verbas e estatais se multiplicam. O discurso é sempre o mesmo: “falta mais Estado”. E a receita também: mais gastos, mais controle, mais intervenção. Mas o que temos colhido com isso?

Concentrar poder no topo enfraquece a base. Quando tudo depende do favor de um político ou da assinatura de um órgão público, a autonomia individual desaparece. O empreendedor vira pedinte. O cidadão, refém. E a cidadania, mera formalidade

A ideia de que o Estado é um agente moralmente neutro, com capacidade ilimitada de corrigir os problemas da sociedade, é ilusória. Quando algo dá errado, não se questiona o excesso de governo – culpa-se a sua “ausência”. E então surgem as promessas de mais órgãos, mais fiscais, mais fundos. É um ciclo vicioso: quanto pior o serviço, mais gente defende inflar a máquina.

O filósofo austríaco Friedrich Hayek alertava: “Ninguém deve ser confiado com tanto poder sobre os outros sem acabar abusando dele.” E isso não se trata apenas de corrupção – trata-se da própria lógica do poder concentrado. O Estado decide, impõe, tributa e pune. Expandir esse aparato em nome do “bem coletivo” é abrir espaço para o arbítrio, o clientelismo e a paralisia burocrática.

Em momentos de crise, muitos defendem que o problema não está no Estado em si, mas em quem o comanda. “Faltam técnicos”, dizem. Como se bastasse substituir políticos por gestores para que tudo funcionasse. A crença numa tecnocracia virtuosa ignora um fato básico: não existe administrador neutro. Toda decisão pública envolve escolhas, interesses e consequências. Não se governa uma sociedade complexa com planilhas.

O resultado é previsível: estruturas inchadas, planos irrealizáveis e distanciamento completo das reais necessidades da população. Enquanto isso, empreendedores são esmagados por burocracias, famílias pagam caro por serviços ruins e o país anda em círculos.

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Concentrar poder no topo enfraquece a base. Quando tudo depende do favor de um político ou da assinatura de um órgão público, a autonomia individual desaparece. O empreendedor vira pedinte. O cidadão, refém. E a cidadania, mera formalidade. Pior: essa dependência é cultivada como estratégia de dominação. Um povo que depende do Estado para sobreviver é mais fácil de ser controlado – e manipulado. Vem daí a resistência de tantas lideranças à descentralização e à liberdade econômica. Perder o monopólio sobre a vida das pessoas é, para eles, uma ameaça.

Isso não significa defender um Estado ausente. Significa defender um Estado que conhece seus limites. Que respeita o cidadão. Que favorece a iniciativa, e não a substitui. É preciso inverter a lógica: menos Brasília, mais Brasil. Menos tutela, mais protagonismo local. Menos burocracia, mais liberdade. A verdadeira justiça social nasce do trabalho, da inovação e da livre concorrência – não da assinatura de um deputado nem da portaria de um ministério. O que o Brasil precisa não é de uma nova dose de intervenção, mas de uma verdadeira reforma moral e institucional: que devolva ao cidadão o controle sobre sua própria vida.

Porque cicuta, por mais que venha em frasco bonito e com selo de “interesse público”, continua sendo veneno.

Ricardo Rays é administrador de empresas, advogado, pós-graduado em Direito Empresarial, em Direito Tributário e Processual Tributário.

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