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Não há como negar que o país está em crise. Nossos governantes até tentam esconder a situação, mas contra fatos não há argumentos. Diariamente leio alguma nova bomba: ou para o cidadão, ou para a indústria. A última que vi é que, para os empresários do Sudeste, a conta de luz pode ficar até 53% mais cara já em março, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Querendo ou não, parte desse aumento deve ser repassada ao consumidor final, pois, se a indústria arcar com tudo, não sobrevive.

No setor de transportes a situação não está diferente. Para se ter uma ideia, em 2013 o frete de grãos entre a região de Cascavel e o Porto de Paranaguá chegou a R$ 90 por tonelada. Hoje o preço não passa dos R$ 60, o que é muito baixo levando em consideração que, desde então, todos os insumos do setor sofreram reajustes significativos. A defasagem nos fretes, calculada pela nossa associação nacional, chegou a 14,11% em 2014.

Estamos contando que o primeiro semestre será perdido para o setor de transportes

O transporte rodoviário de cargas vive uma situação difícil. Nos últimos anos, para atender às montadoras, o governo federal, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ofereceu boas taxas de juros para a compra de caminhões. No ano passado, por exemplo, a taxa ficou abaixo da inflação. Com o desaquecimento econômico e menos carga para ser transportada, passou a sobrar caminhão no mercado e, consequentemente, caiu o valor do frete, o que fez com que caminhoneiros e transportadoras ficassem no prejuízo. Quanto às transportadoras, várias reduziram a sua frota. Outros tantos caminhoneiros autônomos acabaram quebrando, tendo de devolver o caminhão comprado. No fim, a conta está ficando negativa para o transportador, que está gastando mais do que ganha para trabalhar.

Outra dificuldade é com relação ao repasse do preço do diesel. Desde o dia 1.º de fevereiro, o preço do combustível está mais caro. O governo fez um reajuste de R$ 0,15 por litro na refinaria, devido ao aumento da alíquota de PIS/Cofins. Este é mais um fator a dificultar a vida do transportador rodoviário de carga. Vai ser muito difícil repassar esse aumento ao cliente, a economia está em baixa, a concorrência está acirrada e o transportador está com a corda no pescoço. Nos fretes de produtos de alto valor agregado, as transportadoras trabalham com contratos de longo prazo, que preveem repasse de reajuste no diesel. Mas no transporte de grãos, por exemplo, a tarifa do frete flutua de acordo com as regras de mercado.

O problema é que em 2014 quase tudo aumentou mais que a inflação, que foi de 6,41%. Nós, das empresas de transporte, precisamos repassar os aumentos de custo, sob pena de quebrarmos. Não se trata apenas do óleo diesel, pois ainda há o impacto da nova Lei 13.103 (que determina limites para o tempo de trabalho dos caminhoneiros e eleva os custos das transportadoras), o aumento do juros, além de outros pontos importantes.

Estamos contando que o primeiro semestre será perdido para o setor de transportes. O que precisamos é de medidas urgentes que tirem a economia do sufoco, enxuguem a máquina pública e tirem um pouco a responsabilidade do contribuinte, mas, ao que parece, os nossos políticos não estão fazendo isso.

Gilberto Cantú é presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Paraná (Setcepar).
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