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Estátua do Cristo Redentor.| Foto: MAURO PIMENTEL/AFP

Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.

Esse texto é extraído da carta de (São) Paulo aos Filipenses e aponta para umas das bases da vida cristã, em que se irradiam o verdadeiro, o real e o singelo caráter daquele que segue e preserva os princípios bíblicos ensinados por Jesus Cristo. Esses aspectos são diretrizes que guiam o cristão e aqueles que não coadunam dessa fé a uma atualização psicológica, social e cidadã de suas potências morais, com o fito de efetivar ou de concretizar o amor ao próximo. Tais axiomas são inegociáveis perante qualquer proposta oportunista que objetive desvirtuar a influência da ética crista e de seu objetivo integrador dos diversos indivíduos da sociedade contemporânea.

O caráter forjado, sob a égide do que é bom e louvável aos olhos da ética milenar cristã e dos valores harmoniosos e pacíficos que a circundam, está em diálogo íntimo e sincero com o objetivo de fortalecer as relações interpessoais e de romper com inconsistência epistemológica e filosófica do discurso idiossincrático: “para mim” ou “no meu ponto de vista”. Isso porque, a saída do “eu” totalizante para conhecer o rosto do outro, em uma atitude de alteridade, demanda comunicação não violenta e, ao mesmo tempo, a perpetuação de uma ética que não se aprisiona em discursos cegos e, portanto, limitadores da prática do amor ao próximo.

Discursos como os exemplificados nas frases acima, não raro, podem culminar em particularismos que são substratos na criação de muros quanto à necessidade de interconexões em uma democracia. Tais questões levam à confusão diária na diferenciação entre relativismo moral e pluralismo. O primeiro deve ser rechaçado, visto que, não fornece bases coerentes para a estruturação de uma sociedade integra e justa – na perspectiva clássica – a vontade constante e perpétua de dar a cada um o que é seu. Já o segundo valoriza as liberdades individuais e a alteridade na busca de interesses comuns. Esse singelo apontamento é indispensável. Afinal, quem está disposto a negociar ou a relativizar a dignidade da pessoa humana ou direitos e garantias fundamentais?

É nesse contexto que uma ética baseada em preceitos metafísicos e, logicamente, atemporais pode ser concretizada com eficácia, diminuindo solipsismos e construindo a ponte da teoria para a prática. Afinal, entre o falar e o agir, entre a potência e o ato, no mínimo deve estar presente uma ética que não relativiza princípios e que compreende que a diminuição da fossa abissal ocasionada pela desigualdade social – só será diminuída – quando amar ao próximo signifique materializar, no possível, a ética da esperança. O próprio Cristo, em vários períodos bíblicos, traz à tona atitudes baseada no que é bom e no que é louvável. Um exemplo célebre é a famosa passagem presente em João 8:1-11, em que Jesus quebra o início de um ciclo de violência mimética contra a mulher que tinha cometido um ato de adultério (já expondo as bases da proposta de René Girard).

Mas, o que seria essa ética tão essencial para as ações cotidianas? Esse ramo da filosofia moral – de raiz aristotélico-tomista - propõe a busca da felicidade humana, a partir de um hábito ou prática cotidiana das chamadas virtudes. bem como a preservação desses instrumentos éticos, interconectando o pensar, o querer e o realizar de fins últimos fundamentais para a vida em sociedade. Abordaremos quatro virtudes cardeais, para fins deste texto, sendo elas a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.

Em tempos de Covid-19, em que as tensões, as emoções e a ansiedade têm gerado reflexos de atitudes destrutivas da paz individual, familiar e social, cultivar as virtudes é um compromisso de amor ao próximo que deve ser praticado. A prudência ou razoabilidade prática nos direciona para o cálculo dos efeitos de nossas ações, de maneira que antes de agir, sejamos equilibrados, peçamos conselhos, reflitamos mais de uma vez, com o fito de fechar as brechas para os caprichos egoístas. Já a justiça, em seu sentido clássico como já abordado, nos impõe um pacto de não agressão, ou seja, diminuição de calúnias, de difamações, de discriminações e de desigualdades sociais.

A fortaleza, por sua vez, nos coloca coragem para enfrentar situações e as metamorfoses sociais, as nuances da vida e os desafios cotidianos, de forma que aperfeiçoemos a paciência e a alegria em meio às dificuldades. No campo da temperança, preserva-se a moderação em relação aos prazeres, e o não desvario nas sensações imediatistas como a gula, a sensualidade, a preguiça, o desejo desenfreado por sexo, o desleixo no trabalho, nas amizades, no namoro, no casamento, entre outras.

Se tais virtudes forem praticadas em tempos de isolamento social, evidências de divórcios, de violência contra mulher, de desunião na família, de crises de ansiedade, de desobediências aos cuidados com a Covid-19, por exemplo, serão diminuídas e até mesmo solapadas. É importante deixar claro que a ética das virtudes não é um convite à imanentização absoluta e cega da esperança no homem, visto que não se quer cometer o erro de ideologias que tentaram imanentizar o eschaton como o socialismo e o nazismo. Além disso, não se busca uma separação entre ciência e religião, afirmando que não se deve confiar nos protocolos de proteção contra ao novo coronavírus.

Por fim, deve-se compreender, sobretudo, a ligação singela entre a ética das virtudes e o verdadeiro significado da religião cristã, para que não caiamos na falácia do discurso: “A religião é o ópio do povo”.

Leivan Felipe Da Silva Carvalho é graduando em Direito na Faculdade de Direito de Vitória-ES. Membro do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas, Direito à Saúde e Bioética (Biogepe/FDV). Visitante do Grupo de Pesquisa em Filosofia do Direito - GPFDIR/Ulbra Canoas. Pesquisador-bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Espírito Santo (Fapes).

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