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As teorias educacionais são, em geral, ancoradas em seus procedimentos, metodologias e referenciais teóricos, decorrendo daí as respectivas abordagens e focos. Não seria nenhum exagero afirmar que a imensa maioria dos procedimentos, metodologias e abordagens tem tradicionalmente adotado como objetivo central evitar os tropeços dos alunos. Fundamentalmente, o ensino tradicional, ao informar, o faz para que o educando acerte e evite os erros. De forma resumida, ter sucesso, normalmente, quer dizer “não tropeçar”, sabendo responder as questões corretamente e completando, positivamente, os desafios apresentados.

Mais do que simplesmente aprovar os que acertam e reprovar os que erram, a cultura educacional estabeleceu como referências aqueles que tudo sabem e nada erram, fruto essencialmente de estarem bem informados e terem boa memória, reverenciando-os como vitoriosos e exemplos a serem seguidos no processo ensino-aprendizagem.

Os modelos padrão e suas práticas usuais de ensino têm sobrevivido porque níveis razoáveis de sucesso puderam ser observados no passado, gerando a expectativa de que, provendo informações com competência e evitando os tropeços, teríamos solução educacional também para o presente e, eventualmente, até mesmo para o futuro. Nada mais ingênuo. Os novos tempos apresentam mudanças profundas com desafios inéditos e o ensino tradicional dá mostras claras de incapacidade de decifrá-los ou resolvê-los.

Não há nenhuma garantia de que aqueles que nunca tropeçaram saberão levantar caso errem. Mas há fortes indicadores de que aqueles que aprenderam a aprender terão todas as condições de superação

Entre as rápidas mudanças em curso, está aquela que progressivamente torna a informação o produto mais disponível e o mais barato da atualidade. O surgimento de uma sociedade em que a informação está totalmente acessível, instantaneamente disponível e gratuitamente adquirível traz consequências educacionais ainda não assimiladas e, por vezes, nem sequer percebidas. As metodologias, as ênfases e os focos demandam imediatas mudanças, em especial deslocando o centro do simples saber, enquanto ser informado, em direção ao complexo saber resolver, baseado na informação assumida como completamente disponível, on-line e gratuita.

Mais do que o acesso à informação, saber selecioná-la e, em equipe, saber decifrá-la e resolver os problemas passam a ser atitudes fundamentais, tanto no mercado de trabalho como na vida. O ensino por etapas dá lugar à educação ao longo da vida, onde o aprender a aprender é mais relevante que o aprender em si. Além daquilo que se aprende, ter consciência e domínio sobre o “como se aprende” passa a ser prioritário.

Assim, os novos tempos impõem uma realidade em que é mais importante focar no aprender os procedimentos de superação após o erro do que a obsessão simples por nunca tropeçar. Não há nenhuma garantia de que aqueles que nunca tropeçaram saberão levantar caso errem. Mas há fortes indicadores de que aqueles que aprenderam a aprender terão todas as condições de superação. Os “erros”, mais do que serem vistos como naturais, podem ser parte integrante e indispensável do processo ensino-aprendizagem. Muito mais importante que evitar tropeços, portanto, é aprender a levantar.

Ronaldo Mota é reitor da Universidade Estácio de Sá e diretor de Pesquisa do Grupo Estácio.
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