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Nas últimas semanas, um debate acalorado tem ganhado espaço nas rodas de conversa e nos corredores do poder: as supostas vantagens fiscais e econômicas que Netflix, WhatsApp e Uber tinham sobre outras empresas já constituídas. Segundo alguns, como o atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, seria necessária uma nova regulamentação com o objetivo de tornar igualitário o tratamento das empresas que competem nos respectivos mercados. Vistas por outro prisma, as investidas de alguns grupos contra esses “novos” entrantes podem ser entendidas como uma tentativa de frear a inovação trazida por essas empresas, considerando a ameaça de perda de poder de mercado desses grupos. Contudo, a maioria dos economistas tem uma opinião convergente: o crescimento econômico é estritamente correlacionado à inovação tecnológica.

Robert Solow, um dos primeiros economistas a estudar sistematicamente o tema do crescimento, notou que a inovação tecnológica era a única variável que poderia explicar o crescimento econômico sustentado no longo prazo. Pouco depois, Joseph Schumpeter trouxe a teoria da destruição criativa, que tratava a inovação como fator central na retomada da economia e na determinação (ou extinção) dos ciclos econômicos. Dessa forma, os novos produtos e processos empresariais seriam os responsáveis pelo crescimento da economia mundial.

Muitos relutam em melhorar a eficiência de seus próprios produtos e serviços

Mas nem todas as inovações são bem recebidas pela sociedade. No processo de revolução industrial, no século 19, muitos trabalhadores se sentiram ameaçados pela utilização de máquinas no processo produtivo, temendo pelos seus empregos. Alguns, inclusive, para impedir esse avanço, chegaram a invadir fábricas para quebrar máquinas, ação que posteriormente foi denominada “movimento ludita”. Embora avessos a esse tipo de processo, esses trabalhadores tiveram de se adaptar à convivência pacífica com as máquinas industriais, que no fim das contas trouxeram enormes ganhos de produtividade e economia de recursos.

Mais recentemente, a Kodak custou a acreditar que a câmera digital tomaria o espaço dos filmes fotográficos, mesmo sendo ela própria a descobrir a nova tecnologia. A empresa, que já contou com mais de 145 mil colaboradores e US$ 19 bilhões de receita, tenta sobreviver no mercado justamente por meio das patentes que tem nos ramos de impressões digitais e chapas de impressão. Hoje, a Kodak tem 8 mil funcionários e faturou US$ 2 bilhões em 2014, pouco mais de 10% do faturamento em seu período áureo.

Assim, a lógica de transformação trazida pelos serviços denominados over the top, como são classificados WhatsApp, Netflix e Uber, é praticamente a mesma. Como medir os ganhos dos microempreendedores que utilizam o WhatsApp para realizar pequenas vendas e fazer o marketing de seus produtos? E a comodidade de ver aquele filme por meio do Netflix sem sair de casa e pagando um preço baixo por isso? E os ganhos de eficiência no mercado de locomoção urbana, por meio da competição entre taxistas e motoristas do Uber?

A história tem sido arrebatadora nesse ponto: as empresas ou indivíduos que lutaram contra a inovação tomaram dois caminhos: adaptaram-se à nova tecnologia; ou ficaram insignificantes ou até desapareceram no novo cenário de mercado que se formou. A questão é que muitos relutam em melhorar a eficiência de seus próprios produtos e serviços e têm dificuldade de permanecer competitivos; por isso, a probabilidade de tomar o segundo caminho se torna cada vez maior.

Arthur Solowiejczyk, economista pela Fundação Getulio Vargas-SP (Eesp/FGV), é colaborador do site Terraço Econômico.
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