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O que podemos esperar do agronegócio brasileiro diante de perspectivas pouco animadoras no cenário econômico de nosso país para este ano? Para surpresa de muitos, temos alguns sinais favoráveis ao setor. Para falar de 2015, é importante olharmos com atenção para os dados do ano anterior. O PIB do agronegócio estimado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, encerrou 2014 com crescimento acumulado de 1,59%. O desempenho, ainda que abaixo da expansão de 5,22% apurada em 2013, é robusto se comparado ao crescimento praticamente nulo (0,1%) para o PIB do Brasil no ano passado.

Com algum esforço, poderemos desatar alguns nós que obstaculizam o desenvolvimento do agronegócio

Sendo assim, a situação do agronegócio em nosso país, com dinâmica voltada à exportação, é amplamente mais favorável atualmente se comparada a outros setores industriais. E o que contribui oportunamente com esta conjuntura é a valorização do dólar. O câmbio devolveu a competitividade ao agronegócio brasileiro. A desvalorização do real, em torno de 34% nos últimos 12 meses, tende a favorecer os exportadores de commodities agrícolas e a posicionar o setor como estratégico para a retomada do crescimento do Brasil. O câmbio, por exemplo, beneficia os produtores de soja, auxiliando-os a enfrentar a cotação abaixo de US$ 10 na Bolsa de Chicago, já que agora trocam a mesma quantidade de dólares por uma receita maior em reais.

O retorno da Cide, por sua vez, dá fôlego extra aos produtores de açúcar e etanol, deixando as margens ligeiramente positivas. Ademais, há de se reconhecer que as bases de um desenvolvimento sustentável para o agronegócio perpassam pela conjuntura macroeconômica interna e externa. E esforços internos em prol do setor têm ganhado relevância, como o contínuo investimento em tecnologia, melhorias na infraestrutura logística, um ambiente regulatório menos nocivo às atividades de produtores e empresários, bem como maior abertura do governo para o diálogo.

O contraponto às perspectivas mais otimistas começa a ser observado no segmento de proteína animal, que apresentou desempenho muito positivo no segundo semestre de 2014, com boas margens para suínos, frangos e carne bovina. Este avanço refletiu o embargo da Rússia aos produtores de carne dos EUA, União Europeia e Austrália, o que possibilitou o incremento das compras do Brasil. Este cenário, no entanto, neste ano esbarra na desvalorização do rublo e, consequentemente, nos resultados dos criadores brasileiros que deixarão de exportar aos russos.

Mesmo diante de uma demanda mundial por alimentos crescente e a previsão de uma safra recorde, o momento econômico dos países que integram majoritariamente a pauta de exportação do agribusiness brasileiro exige atenção. É o caso de China, Rússia, Oriente Médio e Venezuela. A desaceleração da China impacta em especial os embarques de açúcar. O enfraquecimento do rublo russo reflete na demanda do país por proteína animal. A queda nos preços do petróleo reduz a demanda do Oriente Médio, forte comprador de carne e de açúcar, enquanto a instabilidade política na Venezuela interfere no mercado de aves e carne.

Há de se avaliar ainda os desdobramentos de fatores como a revisão da legislação trabalhista e a atuação da defesa sanitária. A contemplação dessas questões ajudará a pavimentar o caminho mais efetivo para promover a competividade do agronegócio brasileiro. A pauta é complexa, mas, com algum esforço, poderemos desatar alguns nós que obstaculizam o desenvolvimento de um dos setores em que há clara vantagem competitiva global do país.

Alexandre Figliolino, diretor de Agronegócio do Itaú BBA.
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