Todas as homenagens serão rendidas neste sábado, 21 de março, ao querido e saudoso Frei João Crisóstomo Arns pelos 100 anos de seu nascimento. As comemorações pelo seu centenário se concentrarão no Museu da Vida, da Pastoral da Criança, que dedicou uma programação especial sobre a vida e obra do “Tio Frei”, como era carinhosamente chamado em família.
Frei Crisóstomo faleceu em 2002, com 87 anos, sendo a maior parte deles de dedicação à vida religiosa e, principalmente, à educação, em que deixou seu maior legado. Era o mais velho e, muitas vezes, conselheiro de 13 irmãos, entre eles dom Paulo Evaristo Arns, Zilda Arns Neumann e meu pai, Osvaldo Arns.
Em sua caminhada, o “Tio Frei” foi referência não só para a família, mas para os alunos e para a comunidade acadêmica. Estudou Filosofia, Teologia e Letras. Foi professor de Literatura Inglesa e Norte-Americana da UFPR e presidiu, por vários anos, a Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus, mantenedora do grupo Bom Jesus, constituído pelos colégios Bom Jesus e FAE Centro Universitário, dentre outras iniciativas.
Tendo o ideal franciscano como inspiração, criou a Aldeia Franciscana, um ambiente escolar totalmente integrado com a natureza. Na sua visão, inovadora para a época e atual até hoje, a escola tinha de avançar para além do ensino curricular, cunhando valores como amor à natureza, respeito ao próximo, liberdade de pensamento e vocação para a paz. No livro Histórias da Aldeia, revela que sua idealização partiu de uma pergunta que lhe foi formulada por uma menina de 7 anos: “Para que inventaram a escola?” Instigado pelo questionamento, passou a refletir sobre o papel da escola, que “deve ser o lugar mais lindo do mundo infantil”, como cita no livro. E foi para criar esse recanto que projetou a Escola Bom Jesus da Aldeia, em Rondinha, inaugurada em 1981.
Em sua caminhada, o “Tio Frei” foi referência não só para a família, mas para os alunos e para a comunidade acadêmica
O conceito da Aldeia também trazia a integração entre a escola, o instituto de filosofia dos franciscanos, a casa das Irmãs Escolares de Nossa Senhora e aquela que era a sua “menina dos olhos”, a Escola Especial Bom Jesus, criada em 1983. Segundo Frei Crisóstomo, “seria omissão, como é, um colégio religioso não amparar as famílias que, talvez por gerações, nos confiaram seus filhos e, por um desígnio especial de Deus, se veem privados desse amparo na hora mais difícil”.
No Castelinho, como é chamada a Escola Especial, os alunos participam de programas de inserção no mundo do trabalho, sendo contratados para atuar em empresas privadas e na Valor Brasil, uma empresa do grupo Bom Jesus que gera trabalho supervisionado para pessoas maiores de 21 anos com deficiência intelectual que confeccionam produtos com matérias-primas ecologicamente corretas como algodão cru, lona, lonita e TNT.
O espírito empreendedor, a visão humanitária e, ao mesmo tempo, moderna de considerar que o papel da educação deve avançar para a formação integral do ser humano, o grande conhecimento teórico e a capacidade de aplicá-lo na prática pedagógica conferiram ao “Tio Frei” a condição de liderar, por muitos anos, importantes projetos de educação que são referência até hoje para Curitiba, para o Paraná e para o Brasil.
O Frei João Crisóstomo Arns, que sempre dizia “somos jardineiros de Deus”, sonhava com um ideal pedagógico que buscava cultivar em cada aluno uma “vida plena, para que desabroche, nele e por ele, um mundo mais verde de esperança e de flores mais lindas de fraternidade, de harmonia e de amizade”. O reconhecimento desse importante legado é mais do que merecido e deve nos servir de inspiração nos dias de hoje, em que a educação se torna o maior desafio da sociedade brasileira.



