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Gabriel Boric, presidente eleito do Chile.
Gabriel Boric, presidente eleito do Chile.| Foto: EFE/ José Miguel Cárdenas

O cientista político Maxwell A. Cameron, da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, afirma: “Dizer que existe uma esquerda do bem e outra do mal é o mesmo que dizer que existem países do bem e do mal na América Latina”. O professor apaixonado pela América Latina talvez tenha uma cosmovisão micro da esquerda na região, principalmente no discurso frenético e estigmatizado da mesma, rotulando a direita conservadora com as mesmas falácias, como regimes totalitários, golpitas (militares), antidemocráticos, fascistas e fundamentalistas religiosos.

Cameron diz não ver esquerdas semelhantes na região, mas todas elas possuem casos distintos que merecem destaque, como o antissionismo e o apoio a grupos terroristas. Foi o caso do próprio PT no Brasil, manifestando publicamente seu apoio ao grupo terrorista Hamas, durante a Operação Guardião das Muralhas contra Israel. E agora, isso ocorre escandalosamente no Chile.

A eleição mais polarizada das últimas décadas no Chile terminou no último domingo com a vitória do esquerdista Gabriel Boric, que derrotou por 55,8% a 44,1% o adversário José Antonio Kast, de direita; aos 35 anos, ele vai se tornar o mais jovem presidente da história do país – e também o mais votado. Boric é um ex-líder estudantil, da coalizão Aprovo Dignidade – formada por forças políticas como a Frente Ampla e o Partido Comunista –, mas na disputa de segundo turno precisou fazer acenos a (e alianças com) figuras ao centro da política chilena para abocanhar mais votos.

(...) Boric chamou Israel de “Estado assassino” em uma reunião com a comunidade judaica durante sua campanha e assinou uma declaração de apoio à causa palestina em uma reunião com o presidente da comunidade palestina de 350 mil pessoas do Chile

Boric notabilizou-se pelas críticas ferrenhas ao que chama de “modelo neoliberal”, e fica evidente sua aptidão e sedução para o intervencionismo, como em alguns vizinhos na região. O continente está dividido entre países no momento governados pela direita – Brasil, Colômbia, Uruguai, Paraguai e Equador – e os de esquerda, como México, Argentina, Peru, Bolívia, Venezuela e Nicarágua. O espectro engloba desde Boric a líderes ditadores e autoritários, como o venezuelano Nicolás Maduro e o nicaraguense Daniel Ortega.

A vitória de Boric representa um grande renascimento da esquerda “progressista” chilena, que está em ascensão desde que protestos generalizados rondaram o país andino há dois anos. No entanto, os resultados das eleições são vistos negativamente pela comunidade judaica do Chile devido à postura antissionista aberta de Boric. Em 2019, a comunidade judaica chilena enviou a Boric um pote de mel pelo Rosh Hashana, ao qual Boric respondeu no Twitter com um “agradeço o gesto, mas eles poderiam ter pedido a Israel para retornar ilegalmente ao território palestino ocupado”.

Além disso, Boric chamou Israel de “Estado assassino” em uma reunião com a comunidade judaica durante sua campanha e assinou uma declaração de apoio à causa palestina em uma reunião com o presidente da comunidade palestina de 350 mil pessoas do Chile. Boric já apoiou um projeto de lei elaborado no Congresso Nacional do Chile pedindo um boicote a bens, serviços e produtos de assentamentos israelenses. De acordo com alguns dos 18 mil judeus chilenos, um forte discurso anti-Israel está emanando da esquerda, que inclui a vocal comunidade palestina do país, a maior fora do Oriente Médio.

Apesar das opiniões de Boric, a escolha entre ele e o candidato de direita Kast não foi tão fácil quanto parece para os judeus chilenos. Um relatório afirmando que o pai de Kast era nazista saiu uma semana antes das eleições de domingo. No passado, Kast contestou alegações de que seu pai fosse nazista, mas ele não negou que seu pai havia servido na Wehrmacht, o exército nazista da Alemanha. Documentos obtidos pela Associated Press sugerem que o falecido Michael Kast se juntou ao partido nazista em 1942, quando tinha 18 anos. Michael emigrou para o Chile em 1950 e era conhecido por ter servido no exército de Adolf Hitler. O candidato argumentou que isso não fazia de seu pai um nazista, já que a inscrição era obrigatória.

No centro de Santiago, o presidente eleito do Chile comemorou a vitória; apoiadores aplaudiram, abraçaram e agitaram bandeiras com a imagem de Boric, bem como bandeiras de arco-íris de grupos LGBT que apoiaram suas políticas socialmente inclusivas, bem como planos para revisar o modelo econômico orientado para o mercado chileno. Diante de um presidente antissionista, judeus chilenos e toda a comunidade sionista da América Latina ficam preocupados. Com a ascensão de Boric ao poder, fica muito difícil um prognóstico positivo sobre como seu governo afetará a comunidade judaica do Chile e as relações com Israel. Mais um “totem” (o antissionismo) consagrado pelo clã latino-americano...

Lawrence Maximo, professor, escritor e analista político, é bacharel em História e Teologia, mestrando em Ciências Políticas: Cooperação Internacional, mestre em Missiologia, e pós-graduado em Ciência Política: Cidadania e Governação e em Antropologia da Religião.

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