O presidente-candidato Lula tem boas razões para o moderado otimismo que anda exibindo no recesso imprensado entre a campanha em tempo integral a que se dedicou nos últimos meses e a retomada em grande estilo, com o carimbo oficial da escolha unânime pela Convenção do PT, no rega-bofe de quinta-feira, no restaurante São Judas Tadeu, em São Bernardo do Campo (SP), com a módica contribuição de R$ 200 por cabeça para o fundo eleitoral.
Sábia providência, justificada pelas notórias dificuldades em restaurar as facilidades da campanha vitoriosa com a cascata milionária do valerioduto abastecendo o caixa 2 para o financiamento da caça ao voto, sem olhar as despesas e mais as sobras para o mensalão para a compra e aluguel de parlamentares.
Nesses poucos dias de intervalo, Lula dedicou o tempo vazio a tediosos expedientes no Palácio do Planalto, reunindo ministros para recomendações eleitorais e o repeteco dos temas para a campanha com os êxitos irrecusáveis do recorde da distribuição de 11 milhões do programa Bolsa-Família, os baixos índices de inflação, o salto modesto dos empregos e da renda e o dado expressivo da ascensão crescente das classes D e E para a classe C, ou da pobreza e miséria para a classe média.
Ocorre que o candidato só olha para as nuvens acompanhando as mudanças no céu de azul dos dias perfeitos do inverno ou nas noites de estrelas e lua cheia. Quando espia para baixo, costuma se aborrecer ou apertar os olhos para ajustar a imagem ao que gostaria de enxergar. Criticou os que se fazem reparos à operação tapa-buracos na rede rodoviária em pandarecos, ora encerrada com pífios resultados. Não gosta do apelido da operação de emergência e insiste no rebuscado nome de batismo oficial, de um pernosticismo que a memória se recusa a fixar.
Depois de três anos e meio de mandato ao jeito do improviso e no embalo da mais descarada demagogia eleitoreira, o candidato tomou um susto de perder a fala com o tamanho do rombo do esquecimento. E, na forma do costume, apelou para a mágica do cala-a-boca da generosidade dosada pela categoria dos beneficiados.
Agora, por exemplo, não negaceou a sanção aos reajustes em série do Judiciário, com o tríplice aumento dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) varando o teto com muito boas justificativas. O Congresso abriu o cofre da viúva para distribuir o dinheiro dos outros para os afagos aos seus afortunados servidores, com imediata sanção presidencial.
E, lá no fim das filas do INSS, dos hospitais públicos na mais caótica bagunça, Lula enxergou o barnabé pensionista de calças puídas, a aposentada de vestido desbotado, com a limpeza da miséria envergonhada e caiu em si, que é dos piores tombos do político.
Se algum burocrata cutucou lembranças, o candidato tremeu na terçã do voto ameaçado. Aos números: o presidente Itamar Franco antes de deixar o governo concedeu ao funcionalismo público o amento linear de 22% extensivo aos aposentados e pensionistas. E fixou o aumento de 4% para o primeiro ano do mandato do sucessor, Fernando Henrique Cardoso, que não mais cuidou dos barnabés. Concedeu reajustes às carreiras privilegiadas e o resto que se queixasse ao bispo. Mas deixou para Lula a herança abençoada do reajuste de 4% para os servidores públicos em 2003.
Foi a última vez que a massa dos servidores viu a cor desbotada de um reajuste linear. Em 2004, para fingir que cumpria a exigência constitucional, o companheiro Lula, como quem atira uma esmola, jogou na mão estendida dos aposentados e pensionistas 1% de aumento. E foi os requinte do deboche em 2005 com o aumento de 0,1%.
No sacolejo eleitoral, o candidato concedeu o aumentos diferenciados a categorias de servidores, alguns de encher os olhos e algibeiras e propôs o reajuste de 5% para aposentados e pensionistas. No limite mínimo da reposição salarial da inflação de 4,2%. No período do governo do criador do Brasil, pelos dados do IBGE, a perda salarial da categoria alcança a calamidade de 145%.
Mas, com a demagogia solta na angústia da renovação dos milionários mandatos de senadores e deputados e mais a pinimba da oposição de impor ao candidato o constrangimento de vetar o reajuste de 16,67% para os aposentados e pensionistas, foi aprovado pelo Congresso com votos às pencas dos governistas.
A próxima briga para derrubar o veto é de risco total para o candidato-presidente.
E se o rombo de R$ 7 bilhões anuais seria insuportável para a deficitária Previdência Social, Lula saltita à beira da demagogia e da incoerência.
Pois o companheiro-candidato está muito bem de vida, como se constata pela sua declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral. De 2002, ano da eleição, o respeitável bolo de R$ 423 mil saltou para R$ 839 mil, um inchaço de 98%, resultado de poupança do salário líquido e muito baixo de R$ 6.830 e mais a mordomia de dois palácios, comida, roupa lavada, automóveis, o AeroLula e outras miçangas. Some-se a pensão especial de R$ 3.862 às vitimas da ditadura pela prisão de 51 dias como líder de greve sindical. Reajustada para R$ 4.508, com o aumento proposto para os aposentados e pensionistas do paparico do candidato-presidente.
Às vésperas de ingressar no grupo de elite dos milionários.



