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Se é verdade que o Canadá, com essas relações tão estremecidas com os EUA, não irá mais enviar seu óleo pesado para ser refinado nas refinarias americanas, outras fontes de óleo pesado terão de ser contratadas e isso pode beneficiar o Brasil Em 2023, os EUA importaram 75% de seu consumo de petróleo de óleo cru de 5 países: Canadá (52%), México (11%), Arábia Saudita (5%), Iraque (4%) e Brasil (3%). Dentre esses fornecedores, o óleo da Arábia Saudita é mais leve e se adapta a apenas parte do parque de refino instalado no país.
Os EUA produzem 13 milhões de barris por dia, mas consomem 20 milhões de barris por dia. Exportam parte da produção de óleo leve e importam óleo pesado para a parte das refinarias não adaptadas às descobertas internas mais recentes. São mais de 100 refinarias, de todos os tamanhos, algumas mais antigas, e que para se adaptarem aos novos óleos demorariam um bom tempo e teriam de receber elevados investimentos.
Tarifas generalizadas causaram um impacto mundial e as reações políticas e econômicas estão apenas começando
Adaptar o parque de refino seria custoso e demorado. E também, não teria todos os produtos necessários à atividade econômica. O óleo pesado pelos EUA mais próximo vinha do Canadá, já houve época que era da Venezuela, e o Brasil flutuou bastante nesta importação americana.
O Canadá pode enviar esse óleo pesado produzido para outros lugares do mundo, como China, Índia, até como uma forma de retaliação. Mas aparentemente a reação dos refinadores americanos fizeram que o presidente do país desse um passo atrás, suspendendo por um mês a taxação de 10% sobre o petróleo.
O fentanil que entra nos EUA pelas fronteiras do Canadá aparentemente é muito pouco, cerca de 1%. A alegação americana é sobre este tema essencialmente. Ninguém sabe estes números com alguma precisão. Muitos críticos dizem que não se trata de um problema de oferta, mas sim de demanda: se há compradores, os fornecedores fornecem.
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O Brasil tem o óleo de Marlim Sul e outros da Bacia de Campos Pós-Sal, mais pesados, que quem sabe servisse para uma parte do refino americano. A recente aproximação do governo americano com a Venezuela, nestes últimos dias, insinua alguma estratégia de recuperar a produção venezuelana para voltar a exportar para os Estados Unidos. Mesmo com o ditador prometido de prisão pelos próprios americanos. Isto parece ser uma parte de uma geopolítica escondida, que não enxergamos: os interesses econômicos acima da autonomia dos governos.
Seria por isso que não houve ameaças ao Brasil? Já teriam conversado em exportar daqui para os EUA? Por isto a maior ousadia do governo brasileiro em responder mais agressivamente nestes últimos dias? O fato é que estas tarifas generalizadas causaram um impacto mundial e as reações políticas e econômicas estão apenas começando. Há grandes chances de os EUA dizerem que tudo foi resolvido com o vizinho amigo do Norte, o Canadá, e retirarem as tarifas extras recentemente anunciadas.
Armando Cavanha é consultor da área de petróleo e gás e professor da PUC-Rio.



