Nestes dias de comemoração dos 55 anos de regulamentação da profissão do economista (Lei 1.411 de 13 de agosto de 1951), valeria a pena estabelecer um breve perfil e delinear alguns cenários de inserção no mercado de trabalho desta categoria social, que é dotada de inúmeras habilidades para o exercício de tomada de complexas decisões voltadas ao equacionamento de problemas em realidades em contínua mutação.
Antes de mais nada, convém recordar que os contornos científicos da economia foram conferidos no século XVIII, com a obra "A riqueza das nações" de Adam Smith e a construção da escola clássica, por Smith e David Ricardo, base da doutrina liberal. A partir do século XIX apareceram as escolas histórica, marxista, marginalista e keynesiana, esta última ganhando destaque entre a Grande Depressão dos anos 1930 e o final da II Guerra Mundial. A corrente neoliberal, surgida depois da década de 1960, tentou combinar os preceitos liberais com o capitalismo contemporâneo.
Os maiores expoentes econômicos brasileiros foram Eugênio Gudin (18861986), Ignácio Rangel (1908 1994) e Celso Furtado (19202004). Gudin foi considerado o criador dos cursos de Ciências Econômicas no país; Furtado o formulador da Teoria do Subdesenvolvimento; e Rangel o edificador, nos anos 1960, da base estatística e conceitual para um melhor entendimento do fenômeno conhecido como estagflação.
No Brasil, o economista ostenta, de forma otimizada, algumas peculiaridades natas, dentre as quais destacam-se o abrangente alicerce cultural, o poder analítico e a visão crítica. Não por acidente, este profissional costuma liderar a ocupação de espaços na mídia e a aprovação em concursos públicos. Adicionalmente, percebe-se tratar-se de um agente social formado principalmente em instituições privadas, que trabalha durante a realização do curso e escolhe a profissão sem a influência decisiva dos pais que, por sinal, em sua maior proporção, não possuem curso superior completo.
A função básica do economista é elaborar estudos de viabilidade ou, mais precisamente, calcular, antecipadamente, as possibilidades de êxito de um projeto específico ou de toda a política econômica de um país, pois a dimensão do fato econômico a ser estudado é o que menos importa. Seu trabalho consiste em estudar e planejar minuciosamente para que os negócios dêem certo e/ou alcancem os melhores resultados, mesmo quando os recursos são escassos, aliás, principalmente nesses casos, dado que a economia é considerada também a "ciência da escassez".
Por conseguinte, o compromisso social do economista repousa na preparação do terreno para a diminuição dos riscos e o aumento das chances, apontando para as pessoas, empresas e instituições os melhores caminhos para o alcance do sucesso em seus empreendimentos.
Segundo pesquisas realizadas pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon), 85,0% dos profissionais formados em economia trabalham na área, caracterizada por um mercado bastante diversificado, com a presença de segmentos de planejamento e gestão, elaboração de projetos, ensino e treinamento e pesquisas de mercado. Por um ângulo setorial, as atividades que mais absorvem os economistas são consultoria e auditoria, instituições financeiras, administração pública, indústria, comércio, avaliação e perícia.
A classe dos economistas assumiu papel fundamental na formulação e execução de programas de desenvolvimento no transcorrer da etapa de constituição da industrialização pesada brasileira, que começou no segundo governo Vargas, nos anos 1950, e encerrou na administração Geisel, no segundo qüinqüênio da década de 1970, com a implantação dos projetos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND).
Nos tempos recentes, é perceptível a ampliação da preocupação das entidades dedicadas ao ensino superior de Ciências Econômicas, e dos respectivos organismos de representação de classe, com o declínio da demanda por profissionais da área. A redução do número de inscrições nos concursos vestibulares, e mesmo de matrículas efetivas, em paralelo ao expressivo avanço do raio de ação dos segmentos de administração, engenharia, ciências contábeis e estatística, representa exemplo prático desse fenômeno, decorrente de dois fatores articulados.
A superação desse constrangimento à formação e à atuação dos economistas passa, inevitavelmente, pela flexibilização das estruturas curriculares dos cursos, na direção da produção de um profissional mais próximo das exigências e especificações determinadas pela radical mutação verificada no mercado de ocupações, ao longo das últimas duas décadas e meia, alargando o terreno do segmento privado e encolhendo a demanda do setor público. É também necessária a restauração dos alicerces de um projeto de crescimento de longo prazo para o país, menos subordinado à poupança externa, mais voltado ao mercado doméstico e com maior grau de distribuição de renda e de inclusão social.
Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UniFAE Centro Universitário FAE Business School.



