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Guido Mantega está completando oito anos à frente do Ministério da Fazenda, um recorde. Seu legado, quando tiver deixado o posto, não será brilhante: sob sua gestão, e – sejamos exatos – obedecendo ferreamente à presidente Dilma Rousseff, o PIB brasileiro perdeu dinamismo e se manteve em níveis esquálidos de crescimento, apesar dos bilhões e bilhões de desonerações fiscais do consumo. Já o BNDES foi transformado em uma cornucópia de recursos (mais de R$ 400 bilhões nos últimos anos) utilizados para auxiliar e financiar empresas e empresários no Brasil e no exterior, sem qualquer critério que se aproxime dos objetivos originais do banco; ou para auxiliar na maquiagem das contas públicas mediante um intrincado sistema de empréstimos para que as empresas paguem dividendos e assim gerem superávits primários artificiais que o governo utiliza para enganar os desavisados.

As contas externas desandaram: do tempo do dr. Meirelles (o virtual ministro da Fazenda do governo Lula) para cá, o Brasil passou de altamente superavitário no comércio internacional para deficitário nos últimos meses. Praticamente todos os setores relevantes do parque industrial brasileiro perderam competitividade, com exceção da agroindústria, em que temos sido permanentemente abençoados com safras volumosas, demanda em expansão e preços altos. Graças à política cambial errática, o nosso déficit em transações correntes – que é o indicador por excelência da qualidade de nossas finanças – alcançou em 2013 mais de US$ 81 bilhões, façanha que repetirá em 2014. Em outras palavras, voltamos a ficar reféns dos humores do mercado financeiro internacional. E nossas reservas internacionais, cantadas em prosa e verso, não têm subido um centavo nos últimos dois anos e têm até declinado.

E a inflação? O centro da meta já foi abandonado há muito tempo e o teto da meta inflacionária – quando atingido – já passou a ser uma grande vitória. Para alcançá-lo, vários atos de mágica e de prestidigitação foram acionados pelo ministro Mantega e seus companheiros, adiando aumentos de combustíveis (e colocando mais um prego no caixão da Petrobras), mascarando o aumento das contas de energia elétrica etc.

Agora, em matéria de verbosidade para "explicar" os resultados e adocicá-lo com adjetivos, nosso ministro é invencível. E a cada momento ele e seus colegas de ministério e Banco Central se esmeram em repetir velhos adjetivos ou recorrer a novos. Quando os críticos apontam para algum ponto falho, são críticas "inconsistentes". Quando os críticos insistem, são porta-vozes do derrotismo injustificado. Quando as notas de crédito do Brasil começam a ser rebaixadas pelas agências de rating e nos levam ao risco de perder o grau de investimento que tão arduamente foi alcançado no passado recente, somos tranquilizados e ouvimos que estamos "dando respostas robustas" ao mercado, seja lá o que isso signifique.

Ufa: nesse aspecto, o ministro e seus companheiros são herdeiros diretos do imortal Charles Maurice de Talleyrand-Périgord, um dos mais sagazes mistificadores da história mundial, que dizia que as palavras foram inventadas para disfarçar os pensamentos. No nosso caso, para disfarçar a mediocridade dos resultados alcançados.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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