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Residentes do Iêmen demonstram apoio ao grupo palestino terrorista e pisam na bandeira de Israel
Residentes do Iêmen demonstram apoio ao grupo palestino terrorista e pisam na bandeira de Israel| Foto: EFE/EPA/YAHYA ARHAB.

Parte da mídia (inter)nacional cobre o conflito entre Israel e o Hamas com um explícito viés anti-Israel. Por questão de espaço tratarei apenas da mídia brasileira. Esta porção midiática chama de terroristas os brasileiros que participaram das manifestações de 8 de janeiro em Brasília. No entanto, os integrantes do Hamas (que significa Movimento de Resistência Islâmica) não são intitulados de terroristas. Eles são “insurgentes”, “combatentes”; “resistentes”, “guerrilheiros”, “extremistas”. Embora tenham métodos similares ao do Estado Islâmico.

Não tenho notícia que algum brasileiro tenha degolado o pescoço de outro ser humano. Ou que tenha esfaqueado o ventre de uma mulher grávida, assassinado o feto e depois deferido um tiro na cabeça da gestante. Ou assassinado cerca de 260 jovens de várias nacionalidades, dentre eles três brasileiros que bailavam animadamente em um festa de música eletrônica perto de um kibutz ao lado da fronteira com Gaza. Esta aldeia agrícola é o único experimento socialista democrática que deu certo. Ou que sequestraram idosos, mulheres e crianças para mantê-los como moeda de troca. Ou tocado fogo, via bombas termobáricas, em residências de pessoas que se recusavam a sair para o matadouro. Foram queimados vivos. Ou decapitados bebês. Ou lançado milhares de mísseis contra civis matando não apenas judeus, mas, também, israelenses muçulmanos e drusos –que são cidadãos de Israel – atingindo a mesquita de Abu Gush perto de Jerusalém. Mesmo assim, os manifestantes brasileiros são considerados terroristas por alguns jornalistas e afins. Já o Hamas não. Ignorância? Má fé? Ambos?

O objetivo do Hamas é criar um califado islâmico nas terras que eles considerem sagradas. Ou seja, não há espaço para a existência nem de judeus nem de cristãos.

Não apenas Israel considera o Hamas como grupo terrorista. Do mesmo modo, Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália e a maioria dos países da União Europeia. A nata do mundo ocidental democrático. Sim, o Hamas luta contra a civilização judaico-cristã.  Quem duvidar disso, sugiro ler o artigo 13 da Carta do Hamas. O texto pode ser encontrado, devidamente traduzido, no meu livro Armadilha em Gaza (Geração Editorial, São Paulo, 2010). Já o Brasil, juntamente com China, Rússia, Turquia, Irã e Noruega, não consideram o Hamas uma organização terrorista. Com exceção da Noruega, há três países autoritários.

Esta parte da imprensa também desinforma. Nunca houve um Estado Palestino na região em disputa ao longo de séculos de história. A partilha do Mandato Britânico na Palestina foi votada na ONU. A Assembleia Geral aprovou a criação de um estado judeu e outro árabe. Não se falava em palestinos naquela época. Israel aceitou os termos da partilha, porém, os países árabes, não. Isso resultou na Guerra da Independência e a improvável vitória de Israel. A área na qual seria criado o novo Estado árabe foi retalhada entre Israel, Egito (que ficou com Gaza) e Jordânia (que ficou com a Cisjordânia e anexou Jerusalém, cidade que deveria ser internacionalizada segundo os termos da Partilha). A Jordânia expulsou todos os judeus da cidade e destruiu sinagogas. Isto sim um claro apartheid.

Gaza foi militarmente administrada pelo Egito com direito a toque de recolher, até 1967. Nada foi feito de positivo para o bem estar da população local. A Jordânia, por sua vez, não permitiu que fosse estabelecido um estado palestino na Cisjordânia. Em setembro de 1970, a Jordânia derrotou cruelmente uma tentativa palestina de derrubada do rei Hussein. Os palestinos são cidadãos de segunda categoria na Jordânia de hoje.

A afirmação de que Gaza é uma prisão em céu aberto não se sustenta. Na Faixa há um hotel cinco estrelas e um shopping center. As TVs não mostram isto. Há duas saídas da “prisão”: uma na fronteira com Israel e outra com o Egito. Esta é hermeticamente fechada. O Hamas é uma filial da Irmandade Muçulmana que já tomou o poder no Egito e foi derrubada pela ditadura egípcia. É pelo lado israelense que entra o abastecimento de alimentos, material de construção etc. Quem abastece a Faixa de luz e água é o Estado de Israel. Diariamente, vinte mil palestinos saem para trabalhar em Israel ganhando muito mais do que receberiam se trabalhassem em casa.

O Hamas não almeja criar um Estado palestino. Não há nada em seu Estatuto que aponte nesse sentido. O Hamas não é uma organização nacional, mas religiosa. Expulsou à bala seus irmãos palestinos da Fath de Gaza, em 2007. O Hamas matou centena deles. O objetivo do Hamas é criar um califado islâmico nas terras que eles considerem sagradas. Ou seja, não há espaço para a existência nem de judeus nem de cristãos.

Jorge Zaverucha é doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago e professor titular da UFPE.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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