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opinião do dia 2

Horizonte autoritário

O presidente da República é um dos líderes, talvez o mais ex­­pressivo, dessa progressiva estratégia de estran­­gu­­la­­mento das liberdades públicas. A fórmula Lulinha paz e amor acabou

Escrevo este artigo antes da abertura das urnas. Mas o quadro nacional, independentemente do resultado das eleições, desperta graves preocupações. O presidente Lula começa a descer a rampa do poder. Em janeiro, agasalhado por uma popularidade sem precedentes, cravará seu nome na História. A caneta, no entanto, mudará de dono. O Brasil melhorou. Mudamos de patamar. Tal desempenho, apropriado sem pudores pelo governo petista, decorreu de um cenário internacional muito favorável ao Brasil. Mas, internamente, é, em parte, uma conse­­quên­­cia das políticas sociais adotadas pelo governo.

O Bolsa Família foi um instrumento de promoção social. Mas é preciso que essa ferramenta de inclusão seja a porta de entrada da cidadania. E isso não aconteceu. Os programas sociais renderam milhões de votos, mas não fizeram cidadãos. Só a educação é capaz de transformar eleitores de cabresto em pessoas livres e conscientes. A última fase do governo Lula, marcada por constantes episódios de corrupção, cumplicidade com oligarquias nefastas e manifestações de desprezo pelas liberdades públicas, vai ganhando contornos de um indesejável populismo autoritário. O lulismo que se avizinha lembra muito o peronismo que empurrou a Argentina para o lusco-fusco do desenvolvimento.

Recente manifesto de juristas, intelectuais e artistas, divulgado em São Paulo, no Largo de São Francisco, acendeu a luz amarela no cenário da nossa democracia. "O país vive um caudilhismo que se impõe assustadoramente", declarou José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça de Lula. "Na certeza da impunidade (Lula), já não se preocupa mais nem mesmo em valorizar a honestidade", disse Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT. É o grito de lideranças insuspeitas. Gente que lutou contra a ditadura denuncia o presidente da República como demolidor das instituições.

Na verdade, cabe à imprensa um papel fundamental na salvaguarda da democracia. O presidente da República, seu partido e sua candidata, independentemente das declarações de ocasião em favor da liberdade de imprensa, resistem ao contraditório e manifestam desagrado com o exercício normal das liberdades públicas.

Não é de hoje a fina sintonia do petismo com governos autoritários. O Foro de São Paulo, entidade fundada por Lula e Fidel Castro, entre outros, e cujas atas podem ser acessadas na internet, mostra que não há acasos. Assiste-se, de fato, a um processo articulado de socialização do continente de matriz autoritária. E o presidente da República é um dos líderes, talvez o mais expressivo, dessa progressiva estratégia de estrangulamento das liberdades públicas. A fórmula Lulinha paz e amor acabou. Agora, com o Estado aparelhado, o Congresso dominado (a alian­­ça governista terá ampla maioria no Legislativo), e a imprensa fustigada, o lulismo mostra sua verdadeira cara: o rosto do caudilhismo.

Tentativas de controle dos meios de comunicação, flagrantemente inconstitucionais, serão repudiadas pela imprensa séria e ética, pelos formadores de opinião (que não vendem suas consciências em balcões de negócios) e pela sociedade.

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br), professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com). difranco@iics.org.br

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