• Carregando...
 | Evandro Rodney/IEF
| Foto: Evandro Rodney/IEF

A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, anunciada em 1.º de junho pelo presidente Donald Trump, é uma péssima notícia para o mundo. Afeta a construção feita ao longo de décadas em prol da luta global contra as mudanças climáticas e do multilateralismo. Entretanto, essa decisão não muda os fatos.

A ciência é clara em afirmar que limitar o aquecimento global a dois graus Celsius é o único caminho para preservar as condições de vida no planeta. O mundo apoia o Acordo de Paris e 146 países já ratificaram suas metas. As empresas estão engajadas na transição para uma economia de baixo carbono e mais de mil instituições de vanguarda já estão tomando medidas sobre as mudanças climáticas, inclusive nos EUA. Todos já entenderam que este é um caminho sem volta.

No Brasil, este cenário não é diferente. Desde a ratificação dos compromissos do país no âmbito do Acordo de Paris (NDC brasileira), o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) tem enfatizado as inúmeras possibilidades econômicas que se abrem. Recentemente, o conselho apresentou ao governo brasileiro um estudo que mapeia essas oportunidades.

A inação contra as mudanças climáticas pode custar ao mundo cerca de 5% a 25% de seu PIB anual

Para que as metas brasileiras sejam atingidas, uma grande mudança no perfil de emissão nacional de gases de efeito estufa (GEE) terá de acontecer. Estima-se que o setor de Floresta e Uso da Terra, responsável hoje por mais da metade das emissões totais, passe a contribuir com uma emissão líquida negativa em 2030, removendo 131 milhões de tCO2e da atmosfera. Para tanto, além de controlar o desmatamento ilegal, será preciso impulsionar o uso múltiplo das florestas.

Considerando o compromisso de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030, o plantio de espécies vegetais produtivas é uma dessas oportunidades, pois tem rápido retorno em relação ao investimento necessário. Na cadeia da restauração florestal, outro exemplo de oportunidade que se abre está na demanda por insumos, que pode aportar cerca de R$ 13 mil por hectare restaurado ao longo de 30 meses.

A agropecuária, por sua vez, terá o desafio de aumentar sua produção sem incorporar novas áreas nem ameaças aos biomas. O estudo aponta que é possível quadruplicar a produtividade aplicando práticas como a Recuperação de Pastagens Degradadas (RPD) e a Integração de Lavoura Pecuária Floresta (iLPF), além de destacar as oportunidades que surgirão com a criação de novos mercados por meio das Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) e dos Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA).

Já no setor de energia, o crescimento da oferta de fontes renováveis demandará significativa ampliação da capacidade instalada atual, especialmente para a produção de etanol. A NDC prevê expansão da produção de etanol para 45 bilhões de litros em 2025 e para 54 bilhões em 2030. Também são esperadas a redução nos custos de tecnologias fotovoltaicas e eólicas e a modernização da infraestrutura de geração e distribuição de eletricidade. A eficiência energética será crucial para a indústria atingir suas metas.

Leia também:  Trump esquenta o clima (artigo de André Ferretti, publicado em 2 de junho de 2017)

Leia também:Fábulas de estufa (coluna de Flavio Quintela, publicada em 1.º de junho de 2017)

Investimentos na infraestrutura de transporte de baixo carbono têm o potencial de reduzir os custos de frete e beneficiar os setores industrial e agropecuário. A integração modal, com a ampliação de transportes aquaviários e ferroviários, pode significar uma redução de mais de 50% no custo total da tonelada transportada por quilômetro. Além disso, a eletrificação do modal ferroviário e o desenvolvimento de sistemas híbridos de propulsão em embarcações podem reduzir o consumo energético destes modais em até 33%.

O economista Nicholas Stern já havia alertado que a inação contra as mudanças climáticas pode custar ao mundo cerca de 5% a 25% de seu PIB anual, enquanto a ação para detê-las está estimada em 1% deste mesmo montante. O estudo conclui e reforça a tese de Stern: ignorar a agenda da sustentabilidade é definitivamente um mau negócio.

Marina Grossi é presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]