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A inquisição petista, Kafka e a coragem de Marcel van Hattem

Marcel van Hattem (Novo-RS) virou alvo da PF por criticar a corporação, em um discurso na Câmara. (Foto: Renato Araújo/Câmara dos Deputados)

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Quando pensamos que a política brasileira já havia atingido o ápice do absurdo, eis que surge o episódio envolvendo o indiciamento do deputado federal Marcel van Hattem, que, em pleno século XXI, parece viver uma trama saída diretamente das páginas de Franz Kafka. Sob o comando de um governo petista ávido por controle e avesso à crítica, a Polícia Federal decidiu mirar uma das vozes mais ativas, corajosas e respeitadas do Congresso Nacional. O motivo? Parece que exercer suas prerrogativas parlamentares e dizer verdades incômodas agora é considerado um crime.

Este episódio não é apenas um ataque a Marcel van Hattem como indivíduo; é uma afronta direta à democracia e à Constituição brasileira. A imunidade parlamentar, prevista no artigo 53 da Carta Magna, não é um privilégio do deputado, mas uma garantia para que ele possa exercer livremente seu mandato em defesa dos cidadãos. No entanto, para o governo atual, a imunidade é só mais uma cláusula a ser ignorada, como tantas outras.

O caso de Marcel van Hattem deve ser um alerta para todos os brasileiros. Não é apenas a imunidade parlamentar que está em jogo; é o próprio futuro da nossa democracia. Se hoje é ele, amanhã pode ser qualquer um de nós

Se Franz Kafka estivesse vivo, certamente consideraria este caso um plágio de sua obra O Processo. No livro, o protagonista é acusado de um crime misterioso e enfrenta uma burocracia opressiva e arbitrária. No Brasil de 2024, van Hattem é colocado no banco dos réus por expressar sua opinião e exercer seu papel de fiscalizador. A diferença? Kafka chamava isso de ficção; nós chamamos de realidade.

O enredo se desenrola assim: a Polícia Federal, sob ordens de um governo que se autodenomina “democrático”, decide abrir um inquérito contra um parlamentar cujo único "crime" foi apontar o óbvio – que a gestão atual faz malabarismos com a verdade e que seus métodos têm mais a ver com regimes autoritários do que com uma república democrática. E, como em Kafka, não há clareza sobre as acusações, mas a intenção de intimidar é evidente.

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Não é preciso muita criatividade para traçar paralelos históricos. Na Segunda Guerra Mundial, a Gestapo usava métodos similares para calar opositores. Acusações vagas, investigações arbitrárias e a tentativa de destruir moralmente aqueles que ousavam desafiar o regime. Aqui, trocamos os uniformes e as armas por mandados de busca e discursos inflamados, mas a essência é a mesma: intimidar, calar, controlar. Marcel van Hattem, no entanto, não é do tipo que se dobra. Sua trajetória no Congresso mostra que ele não teme enfrentar os grandes – sejam eles corruptos, partidos de situação ou sistemas inteiros. Sua coragem e resiliência são um lembrete de que, mesmo em tempos sombrios, ainda há pessoas dispostas a lutar pelas liberdades fundamentais.

O governo petista, com sua retórica inflamada de defesa da democracia, parece ter um problema com parlamentares que não seguem sua cartilha. A mesma turma que grita “fascismo” contra qualquer oposição não vê problema em usar a máquina pública para perseguir quem pensa diferente. É quase poético: os autoproclamados defensores da liberdade de expressão agora fazem de tudo para silenciar uma das vozes mais coerentes e contundentes do Congresso. E a Polícia Federal? Parece mais preocupada em agradar seus superiores do que em cumprir seu verdadeiro papel de proteger a lei e a ordem. Afinal, investigar criminosos de verdade dá trabalho; perseguir um parlamentar que incomoda o governo é mais conveniente e, claro, politicamente útil.

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Enquanto isso, Marcel van Hattem segue firme, como um soldado em uma trincheira cercada. Ele sabe que sua luta vai além dele mesmo. Sua resistência é pela liberdade de expressão, pela independência do Legislativo e, acima de tudo, pela defesa da liberdade dos cidadãos que confiaram nele. É por isso que ele é uma pedra no sapato de um governo que prefere um Congresso submisso e mudo. O deputado representa tudo o que o petismo teme: um político íntegro, bem preparado, que conhece a Constituição e não tem medo de usá-la para expor os abusos do Executivo. Sua coragem é um lembrete de que, mesmo em tempos de censura disfarçada de justiça, ainda existem aqueles que se recusam a ficar calados.

O caso do indiciamento de Marcel van Hattem deve ser um alerta para todos os brasileiros. Não é apenas a imunidade parlamentar que está em jogo; é o próprio futuro da nossa democracia. Se hoje é ele, amanhã pode ser qualquer um de nós. Cabe a nós, cidadãos, resistir a esse retrocesso e apoiar aqueles que têm a coragem de enfrentar o sistema. Porque, no final das contas, como a história nos ensina, a verdade e a justiça sempre prevalecem – mesmo que demore, mesmo que doa. Enquanto isso, Marcel van Hattem continuará sendo Marcel van Hattem: incômodo, íntegro e corajoso. E, convenhamos, é exatamente disso que o Brasil precisa.

Lucas Santos, cientista político, é presidente NOVO Paraná.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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