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Dois israelenses foram assassinados no dia 18 de setembro em um ataque na fronteira entre a Cisjordânia e a Jordânia. O atirador teria chegado em um caminhão de ajuda humanitária destinado a Gaza. No entanto, esta tragédia expõe um fenômeno mais amplo: a instrumentalização da ideia de “ajuda” como cobertura para agendas que não têm nada de humanitárias e que servem para atacar Israel e os judeus..
De um lado, vemos atentados mortais executados sob esse disfarce. De outro, assistimos a campanhas midiáticas e performances internacionais que, embora não disparem armas, se apresentam como solidariedade enquanto promovem a deslegitimação de Israel. O ponto de convergência é claro: atacar a existência do povo judeu, seja pela morte física de indivíduos, seja pela tentativa de apagar o Estado de Israel.
Um exemplo emblemático é a Flotilha da Liberdade liderada por Greta Thunberg. Segundo o relatório oficial do Ministério da Diáspora e Antissemitismo de Israel, as redes por trás da flotilha mantêm ligações com estruturas próximas ao Hamas e à Irmandade Muçulmana. Ao mesmo tempo, essa iniciativa atrai figuras globais que amplificam sua legitimidade em escala mundial.
Não se trata de conectar mecanicamente uma jovem ativistas e celebridades a um ataque armado na fronteira. Trata-se de entender que ambos fazem parte de um mesmo ecossistema. Um ecossistema que opera sob a bandeira de “ajuda humanitária”, mas que, na prática, reforça um projeto político: negar ao povo judeu sua autodeterminação. Esse é o ápice da duplicidade. Uns retiram vidas concretas com tiros. Outros corroem a legitimidade do Estado de Israel em palcos midiáticos globais para corroer o povo através da nação. A linguagem pode mudar, o método pode variar, mas o alvo é o mesmo. Por isso, não basta repetir slogans de solidariedade. É preciso olhar para as estruturas, os financiamentos e as conexões que se escondem atrás da palavra “ajuda”. A empatia é essencial, mas ingenuidade custa vidas.
Qualquer missão verdadeiramente humanitária em Gaza deveria começar com o reconhecimento da urgência do que iniciou, e hoje impede o fim desta guerra: o retorno dos reféns a Israel
Greta Thunberg, a jovem sueca que se tornou famosa por seu ativismo contra a mudança climática, anunciou que pretende partir rumo à Faixa de Gaza com novas flotilhas, prometendo a maior frota de todos os tempos. O vídeo, editado para transmitir a ideia de uma missão corajosa frente à um cenário perigoso, não foi montado por ingenuidade, mas cálculo. Greta sabe que será interceptada, que não entrará em Gaza e entende que esse desfecho previsível é justamente o que precisa para ocupar novamente o centro das atenções.
Não é a primeira vez que Thunberg busca protagonismo midiático ao se aproveitar da complexa crise humanitária em Gaza. Em junho deste ano, na flotilha anterior, o que se viu foi um espetáculo meticulosamente produzido. Havia mais câmeras do que ajuda humanitária a bordo. Os participantes, antes mesmo de embarcarem, já tinham vídeos profissionais prontos para circular no momento da detenção. No ato da interceptação, começaram a se desfazer de celulares e laptops com baterias de íon de lítio, material não biodegradável, jogados ao mar diante da presença do exército de Israel. A escolha de uma ambientalista por contaminar os oceanos em vez de entregar seus aparelhos levanta uma pergunta óbvia: o que havia ali que precisava ser escondido?
Ou o material continha informações comprometedoras o suficiente para anular sua luta climática, ou suas causas nunca foram honestas, apenas veículos midiáticos para sustentar sua fama. A exposição da jovem ativista é evidente. Assim como é evidente que o objetivo da flotilha nunca foi entregar suprimentos. Desde o início, a intenção era inundar as redes sociais com uma narrativa roteirizada.
Greta entende que Gaza é hoje a única pauta com capacidade de devolvê-la ao espaço de protagonismo que ocupou na adolescência. Troca o colapso climático, ainda em curso e não resolvido, por uma causa mais popular. Não porque o meio ambiente tenha deixado de ser urgente, mas porque já não garante manchetes com o seu rosto.
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Essa escolha representa um retrato cada vez mais comum em parte da geração Z. Uma militância que valoriza a estética da indignação acima da substância do compromisso. Jovens que se posicionam como defensores da justiça, mas demonstram pouco interesse ou preparo para lidar com a complexidade dos temas que abraçam.
No Brasil, essa postura encontra expressão em Thiago Ávila. Também participante da flotilha, ele se autodenominou “refém” em vídeo gravado dias antes da interceptação. Uma afirmação que desrespeita diretamente os cinquenta israelenses ainda mantidos em cativeiro, em túneis subterrâneos dentro de Gaza, sob controle de uma organização terrorista, sem qualquer acesso à visitas humanitárias. E, evidentemente, sem o privilégio de gravar vídeos com iluminação profissional, câmeras preparadas e roteiros ensaiados.
Enquanto Thiago e Greta aparecem trajados com keffiyehs cuidadosamente posicionadas, bochechas coradas, cabelos arrumados e cenários cinematográficos do Mediterrâneo, os reféns israelenses surgem em vídeos de condição sub-humana. Seus corpos remetendo imagens tal qual campos de concentração. Mas sua realidade não mobiliza os que se autointitulam ativistas.
Qualquer missão verdadeiramente humanitária em Gaza deveria começar com o reconhecimento da urgência do que iniciou, e hoje impede o fim desta guerra: o retorno dos reféns a Israel. Mas a flotilha não representa liberdade. Tampouco representa os direitos humanos. Representa o grito de uma geração mais preocupada com a estética do ativismo do que com aqueles que realmente requerem sua ajuda.
Daphne Klajman é mestre em Diplomacia e Conflito e coordenadora acadêmica do Hillel Rio de Janeiro - entidade voltada ao fortalecimento da identidade judaica entre jovens universitários vinculada à organização global Hillel International.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



