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Há quatro meses o embaixador indicado por Israel para representá-lo no Brasil, o advogado e empreendedor Dani Dayan, espera de Brasília seu credenciamento. Mas a presidente Dilma, ouvindo conselheiros do Itamaraty, ainda não entregou o agrément ao diplomata. Criou-se, assim, outro imbróglio diplomático atingindo de novo Israel, país amigo que o Brasil ajudou a criar.

A causa é ideológica, mas é discriminatória. Dayan presidiu uma entidade de colonos israelenses da Cisjordânia e, na pobre visão da nossa atual política externa, isso é “crime” – assim como residir nos assentamentos. Além de ser uma intromissão em assuntos internos de outra nação, isso fere a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, que reza: “o país que recebe os embaixadores não deve recusar as credenciais do representante do outro país, com base em discriminação”.

Recusar Dayan é impedir que ele mostre suas ideias inovadoras e como o Brasil pode contribuir para a paz no Oriente Médio

É triste constatar como a gloriosa tradição diplomática brasileira, das personalidades como Rui Barbosa — o “Águia de Haia” — ou o Barão do Rio Branco, ficou reduzida à indigência de uma política exterior capaz de fazer a presidente da República propor, na tribuna da ONU, entendimentos com o Estado Islâmico! Essa política míope também criou no Itamaraty uma dicotomia. Países como Irã, Sudão, Síria e Arábia Saudita, cujos governos cometem bárbaras execuções em praça pública com desrespeito aos direitos humanos ou praticam genocídios contra civis, promovem perseguições e expulsões, têm seus embaixadores aceitos imediatamente, a despeito das torpes violações que cometem.

Outros embaixadores, como os da China, Turquia e Rússia, países que invadiram e ocupam território alheio – no Tibete, no norte de Chipre e na Crimeia, respectivamente –, são aceitos sem pestanejar. Para Israel, sobra a discriminação, por pretensamente ocupar a Cisjordânia (Judeia e Samaria, na Bíblia). Só que o status do território, reivindicado pelos palestinos, está em disputa e, de acordo com a legislação internacional, pertence, sim, a Israel.

O jornalista Guga Chacra, da Globonews, criticou o Itamaraty por não aceitar Dayan. “Conheço bem seu pensamento. Ele escreveu um artigo no New York Times, não é um extremista, mas um idealista, e isso tem de ficar bem claro”, observou, acrescentando que Dayan coloca uma série de questões interessantes que podem ser consideradas pró-palestinas. Ele defende o fim da barreira que separa Israel da Cisjordânia; que os palestinos possam trabalhar em todas as cidades israelenses e estudem normalmente em Israel; estimula o comércio entre ambos; e basicamente chega muito próximo à solução de um só Estado onde palestinos e israelenses convivam sem restrições.

Dayan é talvez o político israelense que mais conheça as nuances do conflito. Recusá-lo é impedir que mostre suas ideias inovadoras e como o Brasil pode, de fato, contribuir para a paz na região. A paz se faz sem fechar as portas, com entendimento e conciliação, e ouvindo os que têm a dizer aqueles que pensam de forma diferente.

Szyja Lorber é jornalista, professor de Geografia, História e Estudos Sociais e especialista em conflitos do Oriente Médio. Ele é autor de uma petição on-line para que o governo brasileiro credencie Dani Dayan.
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