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A janela de Overton é uma lente que delimita o que podemos enxergar, discutir e aceitar como normal. No contexto político, ela é como a luz projetada na parede da caverna no mito de Platão: uma ilusão controlada. Dessa forma, os discursos, debates e narrativas apresentados à sociedade são cuidadosamente moldados para manter a atenção no que está dentro dessa “janela”. Assim como no mito, acreditamos estar vendo a realidade, mas estamos apenas presos às sombras de algo maior, e frequentemente manipulados por aqueles que controlam a luz.
Em relação à política, a janela de Overton revela o poder de quem decide quais ideias entram no campo do debate público. Ou seja, o que é aceitável hoje, seja uma política, uma crença ou um valor, não está ali por acaso. Líderes, partidos e instituições sabem como deslocar a janela para atender aos seus interesses. Primeiro, apresentam o impensável como uma provocação ou piada. Depois, discutem-no como uma possibilidade. Com o tempo, essa ideia passa a ser razoável e, por fim, aceita como normal. É um jogo sutil, mas profundamente calculado, onde o objetivo é moldar a percepção coletiva sem que o público perceba.
A janela de Overton não é apenas uma ferramenta de análise social; é um lembrete desconfortável de como nossas percepções podem ser moldadas e manipuladas. Se não questionarmos quem controla a luz, permaneceremos prisioneiros das sombras
No mito da caverna, os prisioneiros veem apenas as sombras projetadas pelas figuras que passam diante do fogo. Eles não conhecem a fonte da luz, nem quem manipula as formas que criam as sombras. Assim é com o discurso político: raramente enxergamos as intenções por trás das ideias que nos são apresentadas. Portanto, a narrativa dominante é construída para parecer natural, inevitável, como se não houvesse outra realidade fora daquelas sombras na parede.
Porém, o mito também nos alerta para o que acontece quando alguém tenta sair dessa caverna. O prisioneiro que se liberta, que olha para a luz e vê a realidade por trás das sombras, enfrenta dor, confusão e resistência. Se ele tenta retornar para avisar os outros, é ridicularizado ou mesmo atacado. Na política, o deslocamento da janela de Overton funciona de forma semelhante: quem questiona a narrativa dominante ou expõe suas intenções ocultas é frequentemente silenciado ou desacreditado. Afinal, a caverna não quer perder seus prisioneiros.
Isso nos leva a um questionamento crucial: as ideias que aceitamos hoje como “normais” são realmente nossas? Ou foram impostas por aqueles que controlam a luz e as sombras? Assim como no mito, a maioria nunca verá o que está fora da caverna, talvez nem se pergunte quem manipula o que acreditamos ser a verdade.
Por fim, a janela de Overton não é apenas uma ferramenta de análise social; é um lembrete desconfortável de como nossas percepções podem ser moldadas e manipuladas. Se não questionarmos quem controla a luz, permaneceremos prisioneiros das sombras – convencidos de que o mundo é apenas o que nos deixam ver.
Maria Eduarda Vargas é diretora de comunicação do Instituto Atlantos.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



