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| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

A costa brasileira é formada por quase 9 mil quilômetros de beleza. São praias, dunas, falésias, restingas, manguezais e baías que reúnem uma das mais ricas biodiversidades do mundo. Um país verdadeiramente bonito por natureza, como diz Jorge Benjor. Essa riqueza natural se mistura com a cultura praiana presente nas canoas de pesca, no artesanato, na culinária. O mesmo cenário em que depositamos nossas esperanças ao entardecer, tornando impossível contar a nossa história sem que os olhos sejam voltados para o Oceano Atlântico.

Dizer que a gente fica melhor quando está em frente ao mar, parafraseando Nando Reis, não é apenas uma licença poética da canção. Um número crescente de pesquisas mostra o que o conhecimento popular já sabia: que estar próximo do mar faz bem à saúde, previne doenças e promove o bem-estar. Isso pode explicar o que leva mais de dois terços da população mundial a viver no litoral ou em áreas próximas à costa.

Nossos mares e oceanos são tão importantes que influenciam a vida de todos nós – de norte a sul, de leste a oeste –, e não só dos brasileiros que vivem na zona costeira. Os oceanos são a base da sobrevivência de toda a humanidade, pois garantem a produção de oxigênio, recursos pesqueiros, regulam o clima até das regiões interioranas. Além de representarem local de esporte, lazer e turismo, abrigam os portos que conectam regiões e continentes, e pelos quais transita a maior parte do comércio e da economia. Dados recentes indicam que 19% do PIB do Brasil advém dos nossos mares e oceanos, ficando atrás apenas da agricultura (21%).

19% do PIB do Brasil advém dos nossos mares e oceanos

São tantos os benefícios e serviços ecossistêmicos que até a ONU declarou o período de 2021 a 2030 como a Década dos Oceanos.

Nesse mar de alegrias e riquezas, algumas tristezas chamam nossa atenção. Apesar da imensa importância econômica, ecológica, social e cultural, os mares não têm recebido os cuidados e investimentos que deveriam e estão ficando doentes. Novamente, não é apenas uma licença poética. Os peixes e outros recursos pesqueiros estão entrando em colapso. Algumas de nossas praias, antes paradisíacas, estão se tornando um cenário de sujeira e descarga de esgoto. As mudanças climáticas são reais – basta sentir as ondas de calor ou frio extremos, as chuvas intensas e inundações, o aumento do nível do mar e as ressacas cada vez mais frequentes que afetam quase 60% das cidades costeiras no Brasil.

Esse é o cenário do Antropoceno, a nova era geológica em que entramos, na qual atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo no clima do planeta e no funcionamento dos seus ecossistemas. Temos um ambiente tão rico e tão lindo, mas temos uma capacidade inigualável de alterar o meio em que vivemos, a ponto de colocar em risco a nossa própria existência e das gerações futuras.

Leia também: O que você ainda não sabe sobre a Ilha do Mel? (artigo de Márcia C. M. Marques, publicado em 12 de fevereiro de 2018)

Leia também: Ambientalistas de aquário, investimentos e geração de emprego (Julio Gavinho, publicado em 3 de março de 2018)

Neste balanço de alegrias, riquezas, tristezas e preocupações, nosso poder transformador pode também ser a solução. Somos criativos e devemos usar nossa criatividade, nossa alegria e nossa força para mudar o cenário atual, com soluções inovadoras, novas tecnologias e, principalmente, mudanças de comportamento. Das pequenas ações – como consumir só o que precisamos, descartar o lixo corretamente, respeitar o ambiente e desmatar menos – às grandes mudanças, como a cobrança sobre os poderes Executivo e Legislativo para garantir a segurança do nosso meio ambiente.

Não importa se hoje estamos passando a tarde em Itapoã, numa barca para a Ilha do Mel ou surfando as ondas do céu de Brasília, todos nós somos responsáveis pelos mares. Deles dependemos para viver e para eles podemos deixar o nosso melhor.

Janaína Bumbeer é analista de Projetos Ambientais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Ronaldo Christofoletti é professor da Unifesp e faz parte do grupo de 30 cientistas voluntários brasileiros convocados pela ONU para traçar pareceres sobre o que já foi feito para os oceanos.
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