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O Brasil é um dos campeões mundiais em intoxicações por medicamentos. A fonte oficial do país para estatísticas relacionadas ao tema, o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), computou, em 2011, 29.179 casos de intoxicação e 44 mortes por medicamentos. O número representa quase 30% do total de episódios registrados, considerando todos os tipos de agentes tóxicos.

A maior quantidade de casos de intoxicação medicamentosa decorre de tentativas de suicídio, muitas das quais, levadas a termo. Outro aspecto preocupante é o grande número de crianças intoxicadas. Menores de 5 anos anos representam 30,2% das vítimas. É quase um terço do total, o que nos alerta sobre a importância do cuidado quanto ao uso e armazenamento corretos dos fármacos. As crianças se intoxicam basicamente por dois motivos: acidente, devido ao armazenamento inadequado, superdosagem ou interação na hora do uso do medicamento. Os pais e responsáveis, na ânsia de curar a criança ou de promover a sua saúde, estão lhe causando um mal maior.

Não há uma pesquisa oficial recente sobre automedicação no Brasil. Está em curso no Ministério da Saúde um levantamento sobre o assunto. Mas ações direcionadas à população realizadas pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) e os Conselhos Regionais têm demonstrado que a automedicação é um hábito frequente entre os brasileiros. E o que é pior: os prejuízos para quem a pratica, em geral, são grandes.

Foi assim durante a 1.ª Semana de Conscientização Sobre o Uso Responsável de Medicamentos, promovida pelo CFF em comemoração ao Dia Nacional pelo Uso Racional de Medicamentos. Na semana passada, o conselho manteve dois consultórios farmacêuticos na Câmara dos Deputados. No atendimento, prestado exclusivamente por farmacêuticos, foi constatado que os usuários de medicamentos estavam carentes de informações, as quais, em muitos casos, são o diferencial entre uma boa ou uma péssima qualidade de vida, entre a saúde e a doença, ou até a morte.

Entre os servidores, deputados, senadores e visitantes atendidos, os farmacêuticos observaram pessoas que chegaram a fazer uso de quatro medicamentos diferentes para dor ao mesmo tempo, sem qualquer prescrição; outras que passaram a vida inteira sem conseguir respirar direito por causa da utilização inadequada de dispositivos inalatórios (chamados popularmente de bombinhas); hipertensos que usavam diuréticos (para aumentar o volume urinário) antes de ir dormir; e uma série de outros exemplos de condutas inadequadas e arriscadas.

O CFF tem procurado contribuir no sentido de reverter essa cultura arraigada no brasileiro, que faz do medicamento, mercadoria e, da farmácia, um estabelecimento comercial qualquer. Medicamento é bom quando, além de necessário, é usado da forma correta, com orientação do farmacêutico ou do médico. Desde o ano passado, os farmacêuticos brasileiros estão autorizados a prescrever medicamentos de venda livre e até mesmo tarjados, desde que a prescrição seja em cooperação com outros profissionais prescritores e esteja prevista em protocolos de serviços de saúde. Essa medida tomada pelo CFF também visa combater a automedicação. Que o brasileiro aprenda a solicitar os serviços do farmacêutico ao invés de se automedicar. A saúde de todos, certamente, vai agradecer!

Walter Jorge João é presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

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