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Michel Temer e a política internacional

Devemos sentir a curto prazo uma mudança significativa na política internacional. Somente um nome como Serra poderia assumir essa pasta

Alguns poderiam dizer que José Serra teria sido preterido na distribuição de ministérios, ficando apenas com o Ministério das Relações Exteriores, que deveria ter assumido uma pasta mais robusta financeiramente como a saúde ou educação, ao qual foi inclusive cogitado. No entanto, justamente por ser um nome forte é que ele está onde está. As relações exteriores são estratégicas para Temer. Devemos sentir a curto prazo uma mudança significativa na política internacional. Somente um nome como Serra poderia assumir essa pasta.

Atualmente assistimos atônitos a uma disputa pela hegemonia na produção de petróleo no mundo. Os EUA tentam influenciar países a se alinharem aos seus interesses. Chegaram a invadir militarmente o Kuwait e Iraque e cotidianamente ameaçam a soberania do Irã. A relação com a Venezuela sempre foi estremecida e há indícios de que o serviço de espionagem dos EUA esteja por trás das frequentes tentativas de golpe à Maduro.

A política internacional é estratégica para Temer. Ao que tudo indica haverá uma mudança na política de alianças

Não foi sem importância que em 2012 a Petrobras chegou a ser espionada pela Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA. Na época a NSA negou que estivesse realizando espionagem econômica, porém com a invasão da rede privada de computadores da estatal, não restam dúvidas de que o objetivo foi econômico. O jornalista Glenn Greenwald, que revelou os documentos secretos obtidos por Edward Snowden, disse que “o Brasil é o maior alvo das espionagens dos Estados Unidos”. Chegaram a espionar até mesmo os e-mails pessoais de Dilma.

Some-se a isso o fato de que Michel Temer foi informante dos EUA em 2006. Segundo o Wikileaks, o atual presidente teria enviado documentos para a embaixada estadunidense nos dias 11 de janeiro e 21 de junho de 2006. Na época, Temer solicitou que os documentos fossem utilizados apenas “para uso oficial”. Ele passou sua visão de como estava a situação política no Brasil. Falou sobre as diferenças entre Lula e FHC e disse que qualquer governo que fosse eleito teria que negociar com o PMDB, pois este seria o partido com as maiores bancadas na câmara e no senado.

A política internacional é estratégica para Temer. Ao que tudo indica haverá uma mudança na política de alianças internacionais. Se até agora o Brasil tem priorizado o fortalecimento da UNASUL e dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), fazendo frente às grandes potências mundiais, Temer vai priorizar os acordos bilaterais com EUA e União Europeia (UE).

O discurso de Serra à frente do Ministério das Relações Exteriores foi um verdadeiro show de bizarrices. Disse ele que o Brasil não vai mais se orientar por “preferências ideológicas e de seus aliados no exterior” e que a partir de agora a política externa “será regida pelos valores do Estado e da nação”. Como se o novo-velho alinhamento com EUA não representasse “interesses ideológicos” de seu “aliado no exterior”. Como se os “valores do Estado e da nação” fosse voltar a ficar de joelhos para os ianques e de costas para a América Latina, como estávamos nos anos 80 e 90.

Devemos, em breve, seguir o exemplo do México, que privatizou seus campos petrolíferos a preços baixos em razão da pressão que sofreu dos EUA. A privatização da Pamex – companhia petrolífera mexicana – foi repudiada por 83% da população. Apesar disso, ela foi aberta para os “investidores” privados depois de 75 anos. Quase um terço da receita do governo vinha da estatal, contribuindo com 40% dos gastos com educação pública, assistência médica, infraestrutura, segurança e programas sociais.

O Brasil figura entre os grandes produtores de petróleo no mercado mundial. Estamos em décimo terceiro maior produtor, mas a previsão é que até 2020 estejamos entre os sete maiores. A descoberta do pré-sal intensificou a presença brasileira no mercado mundial do petróleo. O crescimento vertiginoso da produção e as promessas futuras apresentam ao país a possibilidade de ingresso na OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

Aos poucos estamos percebendo que a “ponte para o futuro”, slogan do governo Temer, tem se revelado uma verdadeira “ponte para o passado” em vários setores das políticas públicas, saúde, educação, segurança, previdência e direitos humanos, tendo como matriz comum o resgate da era privatista e entreguista dos anos 80 e 90 no Brasil. São por esses motivos que José Serra, o homem forte do PSDB, está no Ministério das Relações Exteriores, o ministério responsável por entregar a Petrobrás e o pré-sal aos investidores privados internacionais.

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