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Enquanto o preço das passagens deixa de ser prioridade nos protestos que ainda não decidiram por qual motivo paralisam o Brasil, podemos tentar entender como ter um transporte mais barato. A lógica mais elementar diz que quem oferece o serviço são empresas. Logo, pensemos como um empresário: se você quiser oferecer um serviço barato e eficiente a R$ 1, podendo lucrar bastante com tal atrativo ao consumidor, sabe o que vai acontecer? O governo não vai deixar.

Ao contrário do que dizem, portanto, a culpa não é do "mercado", do "capitalismo". O problema é o Estado regulamentando a economia. É ele que cria um cartel de empresas, atuando todas com o mesmo preço, sem competição entre si e com clientes garantidos. Use-a ou vá a pé. Isso é o chamado "capitalismo de compadres" (crone capitalism), que não tem nada de capitalismo. Como diz o filósofo Olavo de Carvalho, é como acreditar que o mico-leão-dourado é uma espécie de leão. Cria-se artificialmente um parentesco com outra coisa de nome parecido, mas de natureza bem diversa.

Pensando como empresários, devemos imaginar como atuaríamos em um livre mercado: precisamos oferecer um serviço melhor que o das empresas concorrentes, ou perderemos clientes e vamos à falência. Nossas linhas de ônibus precisam atender mais pessoas, levá-las a mais lugares, com mais conforto – do contrário, os clientes usarão a linha de outra empresa. Com as empresas tentando agremiar clientes, rapidamente teremos mais linhas, mais ônibus – e os preços despencarão. Esta é a tal "mão invisível" do mercado, muito desacreditada, mas ainda menos estudada.

Basta lembrar como era o serviço telefônico antes das privatizações, e quanto avançamos em telefonia, sobretudo celular, em menos de duas décadas. Ninguém, absolutamente ninguém, em 1995, imaginaria o paraíso tecnológico a que temos acesso hoje por R$ 100.

Ou seja, precisamos convencer o nosso cliente a nos pagar por algo, em troca de algo que faça bem a ele também. Ele tem algo que queremos, nós temos algo que ele quer. Ambos saem ganhando nessa troca livre, que só se dá por convencimento e vontades agindo livremente.

Mas um empresário não precisa, necessariamente, concorrer e ter de fazer essa coisa difícil: convencer. Ele pode, no mais das vezes, se coligar a uma força que só age mandando e proibindo, sem nunca pedir licença: o Estado. É através do Estado que um empresário pode simplesmente oferecer um serviço qualquer, com clientes garantidos e retorno financeiro, independentemente da qualidade do que oferece. É o capitalismo de compadres agindo: o preço da passagem é subsidiado (ou seja, os impostos, tomados à força do povo, vão para as empresas), ficando uma parte final para o usuário, que paga a tarifa.

O preço que se paga, portanto, não é apenas o estampado na tarifa.

Quando se diminui o preço da tarifa, não significa que estamos fazendo algum político pagar a conta por nós. Apenas diminuímos o valor que enxergamos na tarifa e aumentando o valor que pagamos sem ver, através de impostos – que vão para essas empresas, que misteriosamente costumam ser bem amigas dos políticos sem precisar ter algo bom a oferecer ao público. Elas têm dinheiro antes mesmo de oferecer o serviço.

Bastaria exigir capitalismo de verdade e a tarifa estaria muito mais baixa agora.

Flávio Morgenstern é analista político do Instituto Millenium e colaborador do site www.implicante.org.

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