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As mulheres angolanas, com a sua resiliência e determinação, estão progressivamente a mudar a narrativa do país.
As mulheres angolanas, com a sua resiliência e determinação, estão progressivamente a mudar a narrativa do país.| Foto: Divulgação/Governo Angola

No coração de África, Angola tem enfrentado uma batalha silenciosa, uma luta para o empoderamento e reconhecimento das mulheres, num país que, historicamente, tem visto profundas desigualdades de gênero. Embora ocupando a desanimadora 136ª posição entre 191 países no Índice de Desigualdade de Gênero, o cenário está longe de ser apenas sombrio. As mulheres angolanas, com a sua resiliência e determinação, estão progressivamente a mudar a narrativa.

A guerra civil de Angola, apesar de terminada há décadas, deixou cicatrizes profundas que vão além dos edifícios destruídos ou da economia fragilizada. As terras minadas tornaram vastas regiões do país campos de morte latentes. Contudo, num movimento audaz, encontramos mulheres, chamadas "sapadoras", desafiando normas de gênero e enfrentando os vestígios mortais da guerra. Helena Kasongo, simbolicamente representando muitas outras, mergulha no perigo diariamente, impulsionada pela visão de um Angola mais seguro para a sua filha e as gerações futuras. Mas a luta destas mulheres não é apenas contra minas terrestres; é uma luta contra estereótipos, resistência social e o próprio medo. Cada mina removida é um passo em direção a um país mais seguro e um testemunho da força feminina.

A jornada das mulheres em Angola é um testemunho vívido do poder do espírito humano.

Numa sociedade frequentemente vista sob o prisma das tradições, a eleição de Filomena Tete Estêvão como a primeira bispa da Igreja Anglicana é mais do que um avanço eclesiástico; é um símbolo potente do que as mulheres angolanas podem alcançar quando lhes são dadas oportunidades. Este passo corajoso da igreja não só eleva o papel da mulher na espiritualidade, como reafirma a sua capacidade de liderança e influência no país.

Em Bailundo, província de Huambo, o zumbido familiar das abelhas ressoa mais forte, sinalizando uma renovação na apicultura angolana. Mavilde de Assunção Alves, uma veterana apicultora, destaca-se nesse cenário. Embora as tradições locais se tenham apegado a práticas ancestrais, utilizando troncos de árvores como colmeias e fumaça para acalmar as abelhas, novos ventos sopram com a intervenção educativa de instituições como a Universidade José Eduardo dos Santos, universidade pública local. Estes esforços não só introduzem técnicas avançadas e mais seguras para a produção de mel, mas também posicionam as mulheres no centro desta revolução agrícola. Num país onde o domínio petrolífero molda a economia, Mavilde e muitas outras apicultoras representam a promessa de diversificação econômica e, crucialmente, o crescente empoderamento feminino no coração da África.

O que estas histórias nos dizem? Mostram-nos que, apesar dos desafios, o espírito indomável das mulheres angolanas é um farol de esperança. Em cada mina removida, em cada sermão proferido e em cada colmeia atendida, vemos mulheres redefinindo o seu lugar na sociedade. A jornada das mulheres em Angola é um testemunho vívido do poder do espírito humano.

Não é apenas uma história de desafios, mas principalmente uma de vitória sobre adversidades. E à medida que Angola avança, devemos não apenas ser testemunhas, mas também defensores e aliados nesta marcha em direção à igualdade. Reconhecer, apoiar e celebrar os esforços destas mulheres não é apenas uma necessidade moral, mas um imperativo para uma Angola mais justa e próspera.

Margarida Gouveia Morais é analista econômica.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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