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Não à via exclusiva de bicicletas

A Rua Padre Anchieta é denominada via central do sistema estrutural oeste de Curitiba, dividindo espaço entre as ruas Padre Agostinho e Martim Afonso, as rápidas de saída e chegada ao Centro. Há mais de 35 anos esse sistema foi definido e regulamentado urbanisticamente para edificações de grande porte. As construtoras levantaram o que as diretrizes municipais planejaram: os imensos edifícios, os maiores que temos no bairro. Nessa rua, é obrigatória, na implantação das construções, galeria recuada, coberta, de 4 metros de largura. Cada edifício é obrigado a possuir na base, no andar térreo e em sua sobreloja uma ou várias lojas com a galeria de passagem para pedestres. As lojas dividem espaço com as áreas de acesso social e de serviço do edifício ali existente.

Hoje são mais de 250 comerciantes e prestadores de serviços e mais de 60 grandes edifícios construídos, residenciais ou de escritórios. O maior e mais grave problema urbano da Rua Padre Anchieta são as calçadas, que estão no limite mínimo permitido por lei federal, de apenas 1,5 metro de largura. A rua, em muitos dos seus cruzamentos, não tem entrada ou saída para automóveis. Em alguns casos, motoristas precisam percorrer mais de 600 metros até encontrar o primeiro cruzamento. A área de estacionamento na rua é fundamental para possibilitar o convívio social e econômico. O comércio não sobreviveria somente dos clientes locais.

A ABiCam conquistou, há vários anos, a "Via Calma" no Bigorrilho. Nossa exigência era a faixa de pedestre entre as calçadas e as estações-tubo. Para acalmar a via, exigimos a travessia elevada. Então, por que rejeitamos a ciclovia ou ciclofaixa na Rua Padre Anchieta?

Porque dizer que o espaço dos ciclistas poderá ser compartilhado com os veículos é meia-verdade. A qualquer tempo os blocos de multa dos agentes de trânsito poderão começar a funcionar e o compartilhamento hoje autorizado desaparece. Porque implica a retirada de uma das duas faixas de circulação dos automóveis e isso, por si só, criará a fila indiana no fluxo dos veículos. Como todos sabemos, a maior velocidade em uma fila indiana é a velocidade do mais lento – a velocidade de um veículo em processo de manobra para estacionar e sair da vaga; a velocidade de um veículo particular, van escolar ou táxi ao embarcar ou desembarcar passageiros; a velocidade de um caminhão de valores ou de carga abastecendo um banco, loja ou mercado. Essa velocidade é zero.

Quem, sabendo que a rua não tem saída fácil, entrará em um engarrafamento intencionalmente? Ninguém. Clientes optarão em trocar seus fornecedores locais por outros, em outras regiões. Os comerciantes perderão clientes. Os moradores não estarão dispostos a morar em área de engarrafamentos, levando à depreciação imobiliária.

Há saída para outra localização das ciclovias ou faixas? Sim: em ruas paralelas e próximas à Padre Anchieta, como as alamedas Júlia da Costa e Princesa Izabel. Nelas, as ciclovias e faixas poderão ser de uso exclusivo para as bikes, sem dividir espaço com os veículos. Isso significa maior segurança para o lado mais frágil, os ciclistas. Mas é importante lembrar: antes os pedestres aos ciclistas; primeiro as calçadas, e depois as ciclovias.

Paulo Bueno Netto é presidente da Associação de Moradores e Empresários do Bigorrilho e Campina do Siqueira (ABiCam).

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