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Logo após os protestos do dia 15, o governo federal (esse eufemismo curioso que a imprensa inventou para não dizer “Dilma Rousseff, Lula e o PT”) respondeu às ruas. Ou, ao menos, dois ministros.

Um se ocupou de usar a palavra “democracia” como substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, interjeição, preposição e aparentemente até artigo, cada vez esvaziando mais a palavra de qualquer sentido discernível além de “está acontecendo algo e me mandaram dizer alguma coisa”.

O outro propôs repetir a promessa de aumento da punição para corrupto e “reforma política” (um outro ainda apareceria depois sugerindo... taxar grandes fortunas, e Dilma Ela Própria garantiu que não tem responsabilidade sobre nada, com o que, de certa forma, podemos concordar).

Mas... reforma política? Ninguém nas ruas pediu reforma política. Muito menos a do PT, o financiamento “público” de campanha – ou seja, o seu, o nosso dinheiro indo para o bolso de marqueteiros, para que eles vendam os políticos de que menos gostamos como se fossem anjos. Pior: com a verba sendo distribuída conforme os assentos atuais – se queremos alguma mudança, adeus, aí é que o statu quo continuará intacto para toda a eternidade.

As ruas não reclamaram da oposição, dos lucros, da CIA: as ruas reclamaram do PT, de Dilma e de Lula

O que se falou nas ruas também não foi aumento de pena para corrupto: na verdade, nem houve muitos pedidos de uma “punição”, e sim de impeachment, a “palavra I”, aquela que a imprensa tanto teme pronunciar. Impeachment não é punição – não em sentido jurídico, ao menos. Basta a candidatura Dilma ser impugnada (algo até mais factível do que o impeachment) e voilà.

A rua pediu muito menos. E o PT, mais uma vez, quer responder à realidade com a única coisa que sabe fazer: aumentar seu próprio poder.

Mas a corrupção nem é o grande foco. Nem mesmo sendo revelado que apenas na Petrobras as últimas movimentações arrancaram da empresa e colocaram nos bolsos de agentes mancomunados e indicados pelo PT (por que o partido nunca é citado?) mais de R$ 88,6 bilhões.

Esse dinheiro encheria um terço da Cantareira com água mineral. Em notas de R$ 100, seria do tamanho do Everest. Há 88 bilhões de dias, a Terra nem tinha o formato que tem – foi bem antes de o petróleo se formar. E, mesmo assim, a corrupção não é o foco.

O que as ruas criticam não é “corrupção” em abstrato. Dilma diz que a corrupção “pode estar em todo lugar”. O nome disso é Deus. A corrupção não é algo que age por si – agentes humanos é que são ou não corruptos. E as ruas não reclamaram da oposição, dos lucros, da CIA: as ruas reclamaram do PT, de Dilma e de Lula. E não de uma etérea, amorfa e nuviosa “corrupção” mais onipresente que desculpas em reuniões do PT.

A corrupção do PT também não é “apenas” a maior de toda a história mundial: ela serve para municiar o partido com um projeto de poder totalitário, em que todas as decisões se concentrem no Executivo. A aparência é de “democracia” (palavra tão repetida), o conteúdo é mais do que bolivariano – basta ver com quem o PT de Dilma faz contratos, de Irã e Rússia até o Hamas.

As ruas não clamaram contra uma corrupção genérica. Clamaram contra o PT e o bolivarianismo. Basta ler os cartazes, como “A nossa bandeira jamais será vermelha”. “Reforma” partindo do PT significa aumentar o problema. A mensagem precisa ser entendida para os próximos protestos.

Flavio Morgenstern é analista político e autor de Por trás da máscara, com lançamento previsto para 10 de abril.
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