Não posso acreditar que os deputados não sabiam do grande esquema de desvio de dinheiro, tampouco posso entender por que nenhum deles, mesmo os de primeiro mandato, se posicionou
O Sindicato das Escolas Particulares do Paraná Sinepe/PR foi uma das primeiras instituições a assinar o manifesto promovido pela OAB-PR, "O Paraná que Queremos". Em primeiro lugar, assinamos por concordar com a abordagem do tema. Em segundo, está passando da hora das instituições organizadas assumirem uma postura em relação aos escândalos que assustam todos os paranaenses.
Estamos cansados de tanto desvio, tanta corrupção, e sempre envolvendo os políticos, os mesmos que elegemos com a promessa de gerir e zelar pelo patrimônio público. Hoje, quase não podemos mais enumerar os escândalos: mensalões, mensalinhos, cargos de confiança para dividir o salário sem prestar contas a ninguém e por aí vai.
Como educador, não poderia deixar de escrever sobre o assunto, mas confesso que demorei assim como boa parte da sociedade que assiste aos escândalos há mais de 30 anos e, cansada, não tem tempo, coragem ou disposição para mobilizar a todos com mais uma passeata ou plantão em frente da Assembleia, o que seria aceitável em qualquer país democrático.
Outro dia, conversando com um taxista, perguntei sobre as notícias recentes da Assembleia Legislativa. Rapidamente, o taxista prosseguiu: "Tem um parente de um amigo meu do ponto que há mais de dez anos vai até lá apenas para receber. Tem uma fila enorme de gente sacando em dinheiro e dividindo com o deputado. Isso acontece na Assembleia, na Câmara, é assim mesmo... Já faz mais de dez anos que não voto, o Brasil não tem jeito". Cheguei ao meu destino sem poder continuar o debate, mas pude dizer que, apesar de todas as evidências, não podemos generalizar.
Como educador, acredito que a generalização, na maioria das vezes, não leva a uma discussão com objetividade, coisa que alguns dos nossos políticos estão fazendo com muita sabedoria. Eles sim, muitas vezem sabem generalizar.
Um exemplo dessa generalização estava outro dia neste mesmo jornal. "Precisamos separar o joio do trigo. O trigo é a liberdade de imprensa, o joio são estes sindicatos patronais que nos criticam, mas vivem pedindo favores a essa Casa". Evidentemente essa generalização do nobre deputado serve apenas para justificar o injustificável, pois nem toda a imprensa pode ser considerada trigo, muito menos todos os patrões joio.
Não posso acreditar que os deputados não sabiam do grande esquema de desvio de dinheiro, tampouco posso entender por que nenhum deles, mesmo os de primeiro mandato, se posicionou. Não tenho dúvida de que toda a sociedade precisa reagir e controlar melhor como nossos legisladores estão agindo. E, mesmo se a opinião do taxista refletir o comportamento da maioria das pessoas, é preciso repensar. Repensar para dar o exemplo. Não podemos desistir.
Ademar Batista Pereira é presidente do Sinepe/PR.



