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Detalhe da Adoração dos Pastores, de Giorgione.
Detalhe da Adoração dos Pastores, de Giorgione.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público

Este ano de 2020 nos mostrou, como nunca antes, o quão importante é, sempre foi e continua sendo a nossa família, base fundamental da sociedade e da vida cristã. Afinal, diante de ameaças tão assustadoras quanto a pandemia do coronavírus, percebemos que somente nossos familiares são aqueles a quem devemos recorrer e em quem depositamos a nossa confiança. É com a nossa família que estamos seguros. É com a família que podemos contar quando tudo parece desabar. É com a família que estaremos nas horas mais difíceis e complicadas da vida. É com a família que tudo vale a pena.

Por isso, no balanço retrospectivo deste atípico ano de 2020, a família vem em primeiro lugar. Foi com ela que tivemos de ficar em quarentena, que reaprendemos a conviver a despeito de uma vida tão corrida e agitada, que cozinhamos juntos, que sofremos e sorrimos juntos. E são justamente os momentos felizes e importantes que precisaremos levar deste ano pelo qual passamos. Até porque pudemos comprovar, na prática, que é necessário viver, guardar e recordar instantes especiais, que devem ser eternizados. Não sabemos quando sentiremos falta e saudade deles.

Infelizmente, nem todas as família se lembrarão de 2020 com tanta alegria. Tantas foram as pessoas acometidas pelo coronavírus, algumas das quais findaram sua vida por aqui. Essas, principalmente, vão deixar marcas de saudade e um vazio que nunca será preenchido, mas apenas, pouco a pouco, acostumado. Sobretudo, o ensinamento que nos fica é a importância de valorizar a família, seja na saúde, seja na doença. Seja na alegria, seja na tristeza. O legado que 2020 nos deixará, entre tantos outros, é saber reconhecer, de fato, as pessoas com as quais vamos caminhar a nossa jornada diária, perto ou distante.

É ali, nas dificuldades de uma família pobre, que Cristo se revela ao planeta de uma forma humana e divina, ao mesmo tempo. De uma forma simples e grandiosa

Enfim, é tempo de voltar o nosso olhar para o verdadeiro e real significado do Natal: o amor de Deus, que se manifesta no seio da família de Nazaré e se espalha pelo coração de todas as famílias desse nosso mundo. É ali, nas dificuldades de uma família pobre, que Cristo se revela ao planeta de uma forma humana e divina, ao mesmo tempo. De uma forma simples e grandiosa, concomitantemente. E essa é a beleza do Natal. Poder ver brilhar a luz de Cristo no meio de tantas trevas, sejam quais forem, que pairam sobre nossos tempos, cada vez mais sombrios. É sempre assim. A luz divina ilumina tudo e todos ao redor. Foi assim na fuga da família de Nazaré para o Egito, que abrilhantou a manjedoura com o nascimento do próprio Menino Luz.

Cristo nascerá em nossos corações? Estamos dando espaço para que a verdadeira luz natalina brilhe em nós? Natal não é apenas troca de presentes ou reunião entre amigos e familiares, restrita neste ano por causa dos cuidados contra o coronavírus. Natal é mais que isso. Natal é celebrar a vida, o amor, a fé, a esperança e, mais que nunca, a saúde. Natal é época de viver o perdão, a reconciliação, a misericórdia e a solidariedade. E deixar que sentimentos e ações assim sobrevivam durante o resto do ano, mesmo em tempos complicados como os que vivemos. Onde é que Cristo precisa renascer em sua vida hoje?

Como pároco e reitor de um santuário dedicado a Nossa Senhora Aparecida, também devo pedir não apenas a Deus que ilumine nossos passos e vidas com o nascimento de Cristo, mas também que a Mãe Aparecida, padroeira do Brasil, cubra-nos com o manto santo e nos ajude a percorrer e trilhar os caminhos escolhidos por Jesus para nossas vidas. Tal qual fez Maria à espera do nascimento do Filho de Deus, na visita a sua prima Isabel, no templo, no casamento em Caná da Galileia e em tantos outros momentos da vida de Cristo por aqui.

Percebe, leitor, como a família está presente em nossas vidas? Desde o nascimento, passando pelos principais aprendizados, pela realidade das crianças, na vida adolescente e jovem até chegar à idade adulta. Cristo, que sofreu por cada um de nós ao ser crucificado, é o mesmo Deus que se doa em amor por nossos pecados e sofrimentos, muitos dos quais vivemos neste 2020. Por isso, mesmo entre dores e lágrimas, queremos agradecer. Gratidão é o que nos move na vida em Cristo. Pedir, mas sempre agradecer pelo tanto que Deus nos faz, pelo tanto que já fez e por tudo o que ainda irá fazer. Que neste Natal Deus faça renascer em nós a esperança de um 2021 melhor.

Padre Rodolfo Trisltz é pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida (Londrina-PR).

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